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Scot Consultoria

Emissões de carbono a partir do desmatamento e a pegada de carbono pela pecuária brasileira


Terça-feira, 22 de março de 2011 - 10h47

Christel Cederberg, U. Martin Persson, Kristian Neovius, Sverker Molander e Roland Clift Tradução de Jéssyca Guerra - graduanda em zootecnia e estagiária da Scot Consultoria A expansão das áreas de pastagens para criação de gado de corte é tida como chave para o desmatamento na América do Sul. Estima-se que aproximadamente 6% da emissão de gases de efeito estufa (GEE) são decorrentes pela expansão da produção de gado. Em 2006, 25% da produção de carne bovina do Brasil veio dos nove estados que compõem a regiáo da Amazônia Legal. O pastejo contínuo, ao longo de todo o ano, é a alimentação predominante na região. A taxa média de desmatamento na Amazônia Legal foi de 1,9 milhão de hectares por ano no período de 1986 a 2005. A pastagem ocupou de 60% a 75% das terras recém-desmatadas. Normalmente quando se avalia o ciclo de vida dos gases é incluída a emissão de GEE. Mas as emissões provenientes das mudanças de uso das terras (MUT), conversão de floresta para pastagem, por exemplo, normalmente não são. Essa omissão leva a subestimar os impactos da produção de alimentos nas mudanças climáticas, especialmente para o caso da produção de gado. Distingui-se MUT diretas, que são atribuídas a produtos provenientes de terras que sofreram mudanças no seu uso, e MUT indiretas onde mudanças nas atividades agrícolas ou na demanda induzem a mudanças no uso da terra e que não podem ser associadas a um produto específico. Normalmente, a pegada de carbono (PC) inclui apenas as emissões das MUT diretas. Nesse trabalho, estimou-se o total de GEE proveniente das MUT. Metodologias No estudo foram calculados os indicativos para produtividade. Estimaram-se os GEE a partir do desmatamento, no qual as emissões foram calculadas pela diferença do carbono original armazenado e a mudança de uso na terra, incluindo as emissões de resíduos que podem persistir por mais de uma década depois do desmatamento. Mais de um hectare desmatado é necessário para prover um hectare de novas terras para agricultura. Na região da Amazônia Legal foram desmatados 37,3 milhões de hectares entre 1986 e 2005 e só 20,8 milhões de hectares foram ocupados com agricultura. De acordo com o modelo utilizado estimou que depois do desmatamento 51% das áreas viram pastagens, 5% terras cultiváveis e 44% florestas secundárias. A pegada de carbono permite estimar o período pelo qual as emissões causadas pelo desmatamento seriam amortizadas com a produção de alimentos. Resultados O estudo mostrou que a emissão total de GEE proveniente da região da Amazônia Legal foi de 212 toneladas CO2/ha. Aloca-se 6% do carbono na atividade madeireira antes de desmatar para a agricultura, 198 toneladas de CO2/ha atribuída às atividades agrícolas, dos quais 21 toneladas de CO2/ha são gases da queimada inicial. Na última década a produtividade da pecuária de corte na região passou de 43kg para 60kg de carcaça/ha/ano. A produtividade das pastagens é pressuposto aumentar 4% ao ano. A produção brasileira na região em questão continua com o uso ineficiente da terra. Na Europa a produção de carne por hectare é ao redor de 230kg de carcaça/ha. Melhorar a produtividade é crucial. Pastagens degradadas representam um sério problema para a agricultura brasileira principalmente por causa do sobrepastoreio e falta de reposição de nutrientes. O ciclo de emissão de GEE na carne brasileira não inclue MUT, compreendendo metano, óxido nitroso e CO2 fóssil, e tem sido estimado ao redor de 28kg de CO2/ kg de peso de carcaça até a porteira da fazenda. Na Europa, a pegada de carbono reporta ao redor de 16-27kg de CO2/ kg de peso de carcaça. A diferença é esperada já que o sistema de produção de gado no Brasil é basicamente a pasto, de forma extensiva, com intervalo de entre partos de 12 meses e abates com idade ao redor de 18-24 meses e é mais intensivo nos sistemas de produção da Europa. A produção total na Amazônia Legal foi ao redor de 2,16Mt de peso de carcaça em 2006. Destes, 25% foi produzido nas áreas de desmatamento nos últimos vinte anos. DISCUSSÃO O crescimento da produção de carne durante a década passada foi alcançado pela intensificação e expansão das pastagens na Amazônia Legal, mas mantendo a intensificação no restante. O desmatamento mais intenso foi em 2002, 2003 e 2004. A expansão da produção depende do controle de febre aftosa permitindo maiores quantidades de carne para exportação e dirige para o aumento da demanda global ajudado pelos surtos de doença da vaca louca e redução de produção na Europa. Entre 2001 e 2003, Mato Grosso e Rondônia se tornaram zonas livres da doença e o volume de carne desses estados para a exportação aumentou. Entretanto, carne para exportação é maioria de áreas não desmatadas. A produção de carne na Amazônia Legal, em áreas de desmatamento recente tem a pegada de carbono muitas vezes maior que a pegada de carbono para metano, óxido nitroso e CO2 fóssil. A exportação de carne não é o único fator que ajuda na conversão de florestas em pastagens na Amazônia Legal. O aumento da demanda por soja e bioetanol a partir da cana-de-açúcar está aumentando os preços da terra e contribuindo pra migração do gado para o Norte do Brasil. A expansão da cana destinada ao etanol não tem afetado as áreas cultiváveis, mas sim as áreas de pastagens. De julho de 2005 a julho de 2009 a taxa de desmatamento diminuiu 36%. A baixa produtividade no Brasil sugere que a produção de carne pode crescer sem necessitar de mais terras para pastagens. Ilustra-se aqui a necessidade de pesquisar um método pra incluir MUT nos cálculo dos impactos com produtos provenientes da agricultura e da floresta. Foi concluido que as normas da pegada de carbono não incluem os riscos dos efeitos da mudança do uso das terras provendo aos decisores políticos e ao consumidor uma informação incompleta, ocultando as ligações que tem entre a expansão da agricultura, o desmatamento e o comércio global.
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