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Scot Consultoria

Reflexões sobre a “pegada de carbono” da pecuária


Terça-feira, 6 de outubro de 2009 - 14h03

Recentemente tenho lido textos e relatórios que abordam a questão da “pegada de carbono” da atividade pecuária. Confesso que não entendo. Vou explicar os motivos. Primeiro vamos ao metano. A participação do metano emitido pelos ruminantes no processo de aquecimento global é aterrorizante segundo algumas fontes, mas qual é a origem do carbono contido na molécula desse gás? Bem, vamos acompanhar o processo desde o início. De maneira simplificada, antes de compor o metano, o carbono estava na forma de carboidratos estruturais e não estruturais contidos nas forragens e grãos usados como alimento pelo gado. E de onde vem o carbono contido nos vegetais? Do CO2 atmosférico! Não é impressionante!? É o mesmo raciocínio da vantagem ambiental do etanol brasileiro, ou seja, a emissão zero, pois o carbono liberado a partir da queima do combustível já fazia parte da atmosfera antes de ser sequestrado pela cana-de-açúcar. Então dizer que o boi é uma fábrica de metano é apenas parte da história, uma meia verdade ou uma meia mentira. Aí os ambientalistas radicais argumentariam: “Mas o metano tem um potencial de aquecimento 23 vezes maior que o CO2”. De acordo com estudos desenvolvidos, é verdade. Mas, considerando esse potencial de aquecimento, faltou uma informação sutil. Esqueceram ou ignoraram que a permanência do metano na atmosfera é de 9 a 15 anos. Sendo isso verdade, esse efeito se desfaz a médio prazo. Afinal, os bovinos acompanham os seres humanos desde os tempos ancestrais. Com relação ao CO2, a principal fonte emissora apontada pelos ambientalistas é o desmatamento. Segundo relatório emitido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), considerando todos os elos das cadeias da produção animal, desde a produção de fertilizantes até o processamento e distribuição dos produtos finais, o desmatamento é responsável por 89% das emissões globais, totalizando 2,4 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Até onde eu consigo enxergar, o boi não é causa, mas consequência do desmatamento. Vamos a uma análise. Quem acha que vale a pena, economicamente falando, derrubar floresta para criar boi? Ninguém do ramo. Pois o custo não compensa. O que vale dinheiro é madeira. O boi vem a reboque do desmatamento. Então, mais uma vez, a culpa da diminuição das áreas de floresta não é do boi, mas dos madeireiros. E não vamos generalizar, dos madeireiros que roubam madeira e não dos que trabalham sob o rigor da lei. Ainda de acordo com a FAO, a cadeia da produção animal participa com o equivalente a 17,6% das emissões totais dos gases do efeito estufa, em nível mundial, anualmente. Se querem saber, mesmo considerando essa superestimação dos dados de emissão e o fato do relatório não contabilizar as fontes de sequestro de carbono, como a utilização de pastagens, ainda acho que é um número aceitável para uma missão tão nobre quanto a produção de alimentos, fora as outras dezenas de produtos originados do boi. O Brasil pode ser considerado referência no que diz respeito à produção sustentável, visto que nossa produção experimenta avanços sem o aumento da área utilizada, em um cenário muito mais positivo do que as médias mundiais. Mesmo diante dessa situação, o fato é que vemos na mídia a presença em massa de organizações que, por incrível que pareça, contam com o apoio de brasileiros ao prestar o desserviço de macular a imagem da cadeia produtiva da pecuária. E o que é pior, na maioria das vezes, fazendo uso de informações que não expressam a realidade ou que não têm embasamento técnico-científico confirmado. Pedir que o tema seja tratado com seriedade não é muito. Gostaria que tais críticos tivessem idéia da importância social e econômica da cadeia da pecuária e da quantidade de pessoas que dela dependem.
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