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Scot Consultoria

Governo vai vender 7,29 milhões de toneladas de grãos para tentar baratear alimentos


Sexta-feira, 13 de maio de 2011 - 16h20

O governo federal vai intervir pesado para controlar a inflação dos preços dos alimentos, que vem penalizando a população de baixa renda. Com a venda de estoques que atingem 7,29 milhões de toneladas e garantia de preços ao produtor, o governo quer derrubar o custo da comida e levar à mesa dos brasileiros mais pobres as proteínas e carboidratos contidos no feijão, arroz, carnes de aves e suínos, leite e ovos. Mas essa iniciativa poderá ser insuficiente para enfrentar os preços internacionais em alta e a evolução da renda do brasileiro, que leva ao maior consumo de alimentos. Com leilão de milho, o governo garante redução do preço do produto in natura e pretende contribuir para diminuir os custos de produção de carne de aves e suínos. O milho é insumo na produção de rações que alimentam os animais. Ontem mesmo já foi realizado um leilão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com venda de 83 mil toneladas de milho, ou seja, 66,5% do total de 125, 9 mil toneladas oferecidas. Em relação ao arroz, o governo promoverá leilões para garantir o pagamento mínimo estipulado aos produtores. Com a realização do chamado Prêmio de Escoamento do Produto (PEP), o governo ofertará cerca de 60 mil toneladas do grão. Já os preços do feijão tendem a baixar quando a oferta subir. Segundo análise dos técnicos da Conab, os agricultores estão recebendo pela saca do produto recém-colhido entre R$50 e R$90, dependendo da qualidade. As recentes chuvas têm criado uma maior dificuldade de compra nas regiões produtoras. A primeira safra, ou safra das águas, terá redução de 1,1% na área plantada, mas será maior em 1,5 milhão do que a safra anterior. Demanda aquecida e oferta reduzida. É essa equação que tem levado à valorização dos preços dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros de todas as classes sociais. No caso da carne bovina, por exemplo, não há estoques e não dá para criar e engordar um bezerro da noite para o dia. Já para os grãos, são justamente as cotações previstas para as sacas que definem o investimento do produtor na cultura. Se baixar o preço, o produtor não planta. Com colheita menor, cai a oferta e o preço aumenta na safra seguinte. Por esses motivos é que consultores, pesquisadores e produtores rurais não acreditam que qualquer intervenção feita “na marra”, por meio da venda dos estoques reguladores do governo, tenha efeitos duradouros. Em falta O consultor de Mercado da Scot Consultoria e zootecnista Alex Lopes da Silva lembra que a arroba do boi atingiu a cotação recorde no Brasil no ano passado e chegou a R$ 118. “Falta matéria-prima e a renda está em alta, por isso houve o pico na entressafra”, explica. Hoje, em plena safra, o preço da arroba está na média dos R$ 100 e não há expectativa de queda. “Houve muito abate de animais abaixo do peso para aproveitar o preço recorde de novembro”, diz. Segundo Lopes da Silva, o preço da carne bovina no Brasil é diretamente ligado ao aquecimento da economia. “Estudos mostram que, se a renda aumenta 1%, o consumo de carne, principalmente dos cortes traseiros, de maior valor agregado, sobe 0,5%”, pondera. Esse é mais um motivo que dificulta a queda dos preços do bife tão apreciado pelo brasileiro. “Acho difícil frear esse preço”, afirma o consultor. Aumentar o milho em circulação para baixar os preços das rações pode ser eficiente para baixar os preços das carnes de aves e suínas, que dependem mais do grão. Mas, no caso da bovina, o reflexo tende a ser pequeno. A maioria dos bois criados no país tem engorda a pasto. “Só de 6% a 7% usam de confinamento e depende do grão para alimentação”, diz Lopes da Silva. O proprietário da fazenda Agromill, Renato Müller, de Paracatu, Noroeste de Minas, também não acredita que uma intervenção do governo para baixar preços de grãos surta efeito. “O tiro pode sair pela culatra”, alerta. Ele planta feijão, milho, soja, abóboras e cebolas. No caso do feijão, ele diz que o valor da saca de 60 quilos esteve mais alto em agosto, quando atingiu a média de R$80. Agora, a cotação está em R$50. “Está é saindo de graça. Não sei onde querem intervir”, diz. A onda de elevação de preços não é relacionada apenas com o aumento da renda dos pobres do Brasil. Segundo Lucilio Alves, pesquisador da Área de Grãos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/Usp), foi o mercado internacional que ditou a recuperação das cotações da soja e do milho. “Não se consegue ampliar a oferta rapidamente e muito menos reduzir a demanda”, observa. E ele alerta que os preços futuros ainda estão em alta. O Ministério da Agricultura estima, ainda, que as exportações do agronegócio deverão atingir mais de US$80 bilhões, em 2011, crescendo cerca de 10% em relação ao recorde de US$76,4 bilhões registrado em 2010. Isso significa que a demanda mundial também permanece aquecida. Fonte: Estado de Minas. Economia. Jorge Freitas e Guilherme Aragão. 13 de maio de 2011.
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