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Scot Consultoria

Queda-de-braço no mercado de boi após impasse com UE


Sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008 - 09h37

A suspensão das exportações de carne bovina in natura para a União Européia está gerando uma queda-de-braço entre frigoríficos e pecuaristas. Sem poder exportar à UE, depois que a lista com 2.681 fazendas de gado que estariam aptas a exportar ao bloco foi rejeitada, os frigoríficos tentam derrubar o preço do animal rastreado. Em alguns casos pontuais têm conseguido, mas o pecuarista, de uma maneira geral, está com mais fôlego para resistir, segundo analistas. Na BM&F, os contratos futuros da segunda posição fecharam ontem a R$67,25 a arroba, queda de 2,53% sobre o pregão anterior, quando fechou a R$69,00 . A queda já reflete a decisão européia. No mercado físico, o boi rastreado recuou R$1,00 na praça de Cuiabá (MT), segundo a AgraFNP, para R$65,00 a arroba, ontem. De acordo com José Vicente Ferraz, da AgraFNP, os pecuaristas tentam derrubar os preços em R$3,00 a R$4,00, mas não têm conseguido comprar. Ele admite que esperava que o mercado recuasse mais, mas a atual situação de oferta de boi gordo deve evitar uma queda expressiva das cotações, diz. Leonardo Alencar, da Scot Consultoria, afirma que há frigoríficos tentando pagar "até R$10 a menos". Caso de Goiânia, onde a arroba estava a R$73 na quarta-feira e valia R$63 ontem. Ele diz que no Triângulo Mineiro, o boi estava cotado a R$71 ontem, mas as empresas ofertaram R$66 a R$67 pela arroba. Ele não descarta que negócios pontuais nesses patamares mais baixos tenham ocorrido, mas diz que não são referência para o mercado, que segue travado. Tanto Alencar quanto Ferraz concordam que o impacto da decisão européia sobre a arroba do boi deve ser moderado, e a expectativa é de que os preços fiquem em patamares superiores aos vistos no ano passado. A arroba em São Paulo, por exemplo, cotada a R$73 ontem, tinha valor nominal de R$54 nessa mesma época do ano passado, segundo a Scot. "Apesar de tudo, será melhor que 2007", afirmou Leonardo Alencar, referindo-se aos preços. A razão para esse quadro é que a oferta de boi gordo no mercado é menor, resultado do abate de matrizes nos últimos anos. Com isso, há menos animais disponíveis e os preços de reposição do gado ainda são elevados. De acordo com Ferraz, da AgraFNP, o pecuarista está mais cauteloso para vender e resistente à pressão de baixa porque sabe que pagará um preço alto pelo animal de reposição. Um bezerro com quatro meses hoje custa cerca de R$500 em São Paulo; custava entre R$380 e R$400 na mesma época de 2007. A queda dos preços ainda não chegou ao atacado de carne. Ontem, segundo a Scot, o quilo do traseiro ficou em R$5,50, mesmo valor que uma semana antes. Com a restrição européia, a estimativa é que o Brasil deixe de exportar cerca de 20 mil toneladas (equivalente-carcaça) de carne in natura por mês, segundo a Scot. O cálculo considera as exportações do produto para o bloco em 2007 - 254 mil toneladas (equivalente-carcaça). O volume de 20 mil toneladas representa pouco mais de 3% das 640 mil toneladas (equivalente-carcaça) estimadas para o consumo mensal no mercado doméstico. "O volume pode ser absorvido, mas as empresas vão ter perda de receita", afirma Alencar. Segundo a Fitch Ratings, o embargo vai afetar as indústrias no curto prazo, mas as perspectivas devem se manter inalteradas. "O anúncio da União Européia deve afetar os preços da carne no mercado interno, já que os exportadores vão direcionar as vendas para outros mercados, inclusive o doméstico", disse o diretor da Fitch para corporações na América Latina, Revisson Bonfim, em relatório divulgado pela agência de classificação de risco. "No entanto, a queda nos preços da carne no mercado interno deve ser acompanhada por uma redução do preço do gado vivo, o que servirá como uma compensação parcial". A Fitch disse que o bom ambiente da economia brasileira deve sustentar o aumento do consumo de carne no país. Um dos desdobramentos desse cenário é a redução da dependência das compras feitas pelos países da UE. Em volume, as exportações brasileiras ao bloco representam 10% do total das vendas ao exterior. Das exportações brasileira de carne in natura, US$1 bilhão foram para a UE no ano passado. A Fitch é responsável pela classificação de risco da Minerva e da Arantes Alimentos. Em ambos os casos, a perspectiva do rating ("outlook") manteve-se estável, o que sinaliza baixa possibilidade de que a nota de risco das companhias seja alterada no curto prazo. Na Bovespa, as ações de JBS, Minerva e Marfrig subiram ontem após a forte queda de quarta-feira. Um dia depois que a União Européia oficializou que não aceitaria a lista de 2.681 propriedades elaborada pelo Ministério da Agricultura e exigiu uma relação com 300 estabelecimentos, diplomatas que acompanham as negociações entre o Brasil e o bloco disseram que houve grande insatisfação no ministério de Relações Exteriores com a atuação da Agricultura. Na análise dessas fontes, com o envio de uma lista de estabelecimentos bem mais extensa do que a esperada, o Brasil deu pretexto aos europeus para interromperem a importação de carne brasileira. Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Alda do Amaral Rocha e Patrick Cruz, com colaboração de Sérgio Leo. 1 de fevereiro de 2008.
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