Médico-veterinário, pós-graduado pela ESPM, possui MBA em finanças pelo Insper-SP e é sócio-diretor da Radar Investimentos.
Foto: Bela Magrela
Scot Consultoria: Existem algumas estratégias disponíveis para o produtor se proteger das oscilações de preços do mercado pecuário. Qual seria o primeiro passo para começar a usar essas ferramentas e qual a importância do uso delas?
Leandro Bovo: Existem diversas alternativas para mitigar o risco de preços na atividade pecuária, tanto acessando diretamente os mercados da B3, como acessando indiretamente através da venda de boi a termo direto ao frigorífico. O primeiro passo é o produtor saber com exatidão seu custo de produção, para depois definir o nível de preço em que ele quer travar sua lucratividade ou comprar um seguro de preço mínimo. Para isso, é preciso conhecer um pouco mais sobre as ferramentas de proteção de preço da B3 (mercados futuros e de opções) e o primeiro passo é abrir a conta em uma corretora com experiência e expertise nos mercados agropecuários e, a partir de então, iniciar as operações.
Scot Consultoria: Na sua opinião, qual é a maior dificuldade encontrada pelos pecuaristas para utilização dessas ferramentas de mercado?
Leandro Bovo: Basicamente são duas. A primeira, sem dúvida, é saber o seu custo de produção. A imensa maioria não sabe o custo de produção e, por isso, não sabe se vender a R$ 300,00/@, R$ 290,00/@ ou R$ 250,00/@ vai gerar lucro ou prejuízo. A segunda maior dificuldade é o desconhecimento das ferramentas disponíveis, nem mesmo estruturas bastante simples e que não demandam fluxo de caixa como o seguro de preço mínimo, são largamente usados e isso vai muito do desconhecimento sobre essas ferramentas. Para quem usa o mercado futuro, a maior dificuldade é em relação ao fluxo de caixa necessário para fazer frente à margem de garantia e aos ajustes diários, isso limita muito o uso dessa ferramenta específica pelos pecuaristas, por isso muitos preferem vender a termo direto ao frigorífico.
Scot Consultoria: Como acompanhar o mercado futuro pode auxiliar o pecuarista e o agricultor em seus negócios?
Leandro Bovo: Os mercados futuros agropecuários são muito dinâmicos, os preços oscilam a cada minuto, o fluxo de informação é enorme, então estar conectado a uma mesa de operações de uma corretora gera um fluxo de informações muito rico, que com certeza vai agregar na tomada de decisão do pecuarista, em sua atividade do dia a dia.
Scot Consultoria: Quanto deve ser investido para atuar no mercado futuro do boi gordo e do milho? Como funciona o ajuste diário no mercado futuro?
Leandro Bovo: A margem de garantia do boi gordo é definida, exclusivamente, pela B3, varia de acordo com o patamar de preço da arroba e condições de risco do mercado. Atualmente, a chamada margem gira ao redor de R$8.700,00/contrato. Isso não é um custo, é apenas um “cheque caução” que deve ficar depositado junto à bolsa, enquanto o seu contrato futuro não tiver sido negociado. O ajuste diário é o fluxo financeiro que vai entrar ou sair da sua conta junto à corretora, dependendo da variação do mercado. Ele ocorre todos os dias com base no preço médio negociado no mercado futuro entre as 16:20 e 16:30 de cada pregão. Por exemplo, se você comprou um contrato de BGIV (boi outubro) em R$320,00, a unidade padrão do contrato de boi é 330@, no dia seguinte, esse contrato valorizou para R$321,00. Então, em sua conta aberta na Radar Investimentos, receberá um ajuste diário positivo de: R$1 * 1 contrato * 330@, ou seja, receberá R$330,00. No entanto, o contrário é verdadeiro. Caso o contrato no próximo dia tenha desvalorização de R$321,00 para R$320,00, em sua conta haverá um ajuste diário negativo de: R$1 * 1 * 330@, ou seja, um débito de R$330,00. E assim por diante, até a liquidação da operação ou o encerramento do contrato.
Scot Consultoria: Leandro, por fim, você pode nos explicar quais são as ferramentas de trava de preços e gestão de riscos para o mercado futuro?
Leandro Bovo: De forma bastante simplificada, são duas alternativas de gestão de risco: venda no mercado futuro, onde existe a necessidade de depósito de margem de garantia e ajustes diários.
Uma alternativa é a compra de uma opção de venda (put). Para o pecuarista, a opção de venda funciona como uma garantia de preço mínimo. Quando ele efetua uma venda no mercado futuro, o que ele define é o preço de venda da arroba, portanto se o preço subir ou cair, ao final da operação, o resultado será o mesmo. No caso das opções de venda, o que é garantido é um preço de venda mínimo. Se esse preço mínimo for suficiente para cobrir os custos de produção (incluído neles o próprio custo para se adquirir a opção) o que está garantido é uma rentabilidade mínima para o investimento. No caso de um mercado em alta, os ganhos não ficam limitados e o pecuarista aproveita todo o movimento de alta.
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