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Scot Consultoria

A produção agropecuária brasileira e a demanda crescente por alimentos

Entrevista com o sócio-diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin

Terça-feira, 5 de julho de 2022 - 10h00
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Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP e sócio-diretor da Wedekin Consultores.

Foto: Scot Consultoria


Scot Consultoria: Ivan, quais foram os principais pontos da sua apresentação no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria?

Ivan Wedekin: Foi uma visão sobre políticas agrícolas e o grande mercado que temos na pecuária, onde há uma alta demanda do mercado mundial pela carne brasileira.

Em uma perspectiva de 10 a 20 anos, o Brasil será o grande fornecedor de carne bovina do mundo, mas, para isso, o país deve fazer a sua parte, aumentando sua produtividade e eficiência para elevar a oferta e atender a demanda crescente. Para isso, a pecuária deve inovar e nós temos condições para que isso aconteça, já que possuímos a vantagem de conseguir fazer uma safra de verão, uma safra de inverno e depois uma terceira safra de boi. Poucos países do mundo têm esse potencial de crescimento, mas para que isso aconteça o Brasil deve investir em tecnologia.

Scot Consultoria: Quais são os principais gargalos que impedem o crescimento mais acelerado do Brasil?

Ivan Wedekin: Nós temos gargalos econômicos muito grandes, como a dívida pública e a estagnação da economia que, esse ano, está crescendo apenas 0,5%, enquanto no mundo cresce quase 4%.

O agronegócio é uma ilha de prosperidade, porque é baseado em tecnologia. Nos últimos 20 anos, a produtividade da agropecuária cresceu 3,2% ao ano, enquanto no mundo esse crescimento foi de 0,5%, mostrando que a nossa competitividade vem do investimento em tecnologia e da capacidade empreendedora dos agricultores brasileiros.

Scot Consultoria: Até que ponto a pressão pelo mercado sustentável pode interferir na pecuária brasileira?

Ivan Wedekin: A pecuária foi injustiçada com relação à sustentabilidade por conta do desmatamento ilegal. A maneira mais simples de se aproveitar uma área desmatada é transformando-a em pastagem e isso denigre a imagem da pecuária progressista de alta tecnologia que poupa recursos naturais. Isso é uma questão de imagem, que o Brasil e a pecuária devem trabalhar.

Scot Consultoria: Como a guerra Rússia x Ucrânia deverá impactar o cenário do próximo ano agrícola e a pecuária brasileira?

Ivan Wedekin: O ponto principal é a redução da exportação ucraniana. Com exceção do trigo, que é exportado, boa parte do que é produzido na Rússia é consumido pelo mercado interno. No caso da Ucrânia, em 2021, o país exportou 23 milhões de toneladas de milho e o USDA estima que esse valor irá cair para 9 milhões de toneladas, o que abrirá espaço para elevação dos preços no mercado internacional. Em compensação, o Brasil continua sendo um grande exportador de milho, atrás apenas dos Estados Unidos, e tem um mercado com grande potencial.

Scot Consultoria: Qual a sua visão sobre a demanda chinesa em 2023?

Ivan Wedekin: É difícil responder exatamente como será a demanda chinesa no próximo ano. Hoje, a China é o principal comprador da carne bovina brasileira, mas nada impede que futuramente essa relação venha a se estremecer. A China se tornou um grande cliente do Brasil, infelizmente as custas da redução do consumo interno brasileiro decorrente da crise econômica, e isso só se resolve com o crescimento da economia, elevando a produção e aumentando a renda dos brasileiros.

Scot Consultoria: Pensando no lado humanitário, a FAO indicou o maior preço de alimentos da história este ano. Qual papel o Brasil pode desempenhar, visando mitigar os efeitos desse fato?

Ivan Wedekin: Tomando como base o ano de 2019, antes do começo da pandemia de covid-19, até esse ano, os preços dos alimentos subiram 60% e, nos últimos 12 meses, até abril de 2022, o aumento foi de 30%.

No mundo todo, o aumento da inflação está elevando os preços dos alimentos. A maneira de reverter esses efeitos é aumentando a produção de alimentos e, consequentemente, a oferta. O mundo precisa de alimentos e irá comprar do Brasil, mesmo pagando os altos preços do mercado internacional.


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