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Scot Consultoria

Desafios para o agronegócio e expectativas para a próxima safra

Entrevista com o engenheiro agrônomo, Sergio De Zen

Segunda-feira, 6 de dezembro de 2021 - 12h30
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Sergio De Zen é engenheiro agrônomo, formado pela ESALQ - Universidade de São Paulo (USP), possui mestrado e doutorado em economia aplicada e experiência em economia agrária. Sérgio foi anunciado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como novo titular para a Diretoria de Política Agrícola e Informações (Dipai). De Zen atuou como professor doutor da ESALQ/USP, foi diretor presidente da Fealq - Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz e era assessor especial no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Foto: ShutterStock


Scot Consultoria: Qual a sua visão para o papel do continente africano na produção agrícola para os próximos anos?

Sérgio De Zen: O continente africano tem um enorme potencial não é de agora, porém, os principais problemas que eles enfrentam são relacionados a questões políticas como a falta de segurança jurídica e institucional, dificultando a evolução da produção agrícola naquele continente.

Para que o desenvolvimento ocorra, será necessária a tecnologia desenvolvida em países tropicais, como é o caso do Brasil. Para nós, provavelmente eles serão concorrentes, mas também serão demandantes da tecnologia desenvolvida por aqui.

Scot Consultoria: Quais decisões estratégicas estão sendo tomadas para lidar com a crise de abastecimento no mercado de fertilizantes?

Sérgio De Zen: Em primeiro lugar, está sendo tomada a medida de garantir o fluxo e o cumprimento dos contratos com as empresas internacionais de fertilizantes. Precisamos entender que existem fatores que são de conjuntura geopolítica internacional, que fogem ao controle do Ministério da Agricultura e do governo brasileiro, como decisões de bloqueio comercial que alguns países sofrem.

É o caso do Irã por exemplo. Eles têm o produto para vender e nós temos interesse em comprar, mas não podemos pois não temos instrumentos financeiros para executar o pagamento. Esse exemplo se aplica também ao que pode vir a acontecer com a Belarus, que é um grande fornecedor brasileiro.

Outro ponto importante é que, em 2019, quando a ministra Tereza Cristina assumiu a pasta, percebeu essa possível vulnerabilidade do Brasil e demandou à Secretaria de Assuntos Estratégicos um estudo sobre o mercado de fertilizantes a respeito das possibilidades do Brasil para diversificar os fornecedores, inclusive o desenvolvimento da produção no próprio país. Essas medidas estão sendo tomadas em um esforço de garantir o cumprimento dos contratos e do fluxo normal dos fertilizantes.

Esses fatores não possuem uma relação direta com o preço do fertilizante, que está elevado devido ao aumento com o custo de energia. Por um lado, houve um encarecimento em decorrência do sistema produtivo e por outro uma situação de vulnerabilidade devido à conjuntura internacional.

Scot Consultoria: Qual a visão da Conab quanto à crise global de abastecimento de insumos agrícolas para o plantio da segunda safra de milho e para a safra 2022/23?

Sérgio De Zen: Nós não temos até o presente momento uma evidência clara se vai ocorrer a falta de insumos para a segunda safra de milho. Uma parcela considerável desses insumos já foi entregue e a expectativa é de que a segunda safra não sofra demasiadamente. O que pode ocorrer são faltas pontuais devido à conjuntura de uma economia que está em processo de retomada de fornecimento e das atividades, mas estamos atentos e alertando as pessoas que devem não só fazer a compra, mas garantir o insumo.

Não incentivamos que as pessoas tomem uma posição muito exacerbada, se todos saem às compras ao mesmo tempo podem acabar prejudicando a todos. Temos que ter calma, paciência e garantir o fluxo normal desses produtos para a segunda safra de milho.

Scot Consultoria: Por que os estoques de grãos vêm caindo há alguns anos?

Sérgio De Zen: Houve uma mudança dos patamares de consumo globais de soja e milho, principalmente no sistema de produção de suínos na Ásia, não só na China, mas também no Vietnã, Filipinas e Tailândia. Esses países tinham quase 50% da produção de suínos que vinham de uma produção em “fundo de quintal”.

Esse suíno consumia qualquer coisa, por exemplo, restos de comida. A recuperação após a peste suína se deu nos moldes industriais, e o suíno que não comia soja e milho passou a comer. Com isso, ocorreu um grande aumento da demanda sem um aumento da oferta, decorrente de uma mudança global nos patamares de consumo global de soja e milho.

Outro ponto importante é a presença do milho como um grande produtor de bioenergia. O milho, que antes era apenas destinado à produção de proteína como frangos, ovos e carne suína, também se transforma em etanol, restando o DDG, que é usado para alimentação de bovinos. Por um lado, você aumenta a concorrência pelo milho, e diminui a oferta para outras cadeias, mas por outro lado você favorece a produção de carne bovina, que é concorrente dessas carnes.

Scot Consultoria: Na sua opinião, qual a importância do Encontro de Analistas para o agronegócio nacional?

Sérgio De Zen: Todo fórum tem um debate de ideias e pontos de vista, ampliando o horizonte de visão das pessoas e dos tomadores de decisão. Tudo que nós discutimos é de suma importância para quem vai tomar decisão. Todos os produtores precisam tomar decisões diariamente, e ter essas informações, seja ele pequeno, médio, ou grande produtor, tem que ter uma visão clara de curto, médio e longo prazo. E esse evento da Scot Consultoria tem essa função.


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