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Scot Consultoria

Coprodutos da produção de etanol de milho

Entrevista com o médico veterinário, Leonardo Oliveira

Terça-feira, 21 de setembro de 2021 - 17h00
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Médico veterinário graduado na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também concluiu o mestrado e o doutorado em produção animal. Atualmente, é analista comercial pleno na empresa SJC Bioenergia.

Katherine Volkoviski


Scot Consultoria: Sabemos que os coprodutos têm ganhado cada vez mais espaço no setor de nutrição animal, atendendo fortemente a pecuária de corte, leite e se estendendo para a piscicultura, avicultura, equinocultura, entre outros. Você poderia fazer uma breve explicação para o produtor que ainda não conhece os coprodutos das usinas de etanol de milho, sobre como são produzidos e quais são as vantagens da utilização deles na nutrição animal?

Leonardo Oliveira: Os coprodutos da produção de etanol de milho são oriundos da moagem a seco dos grãos, sendo majoritariamente de milho, mas podendo também ser proveniente do sorgo, arroz, trigo ou outro cereal.

O coproduto mais conhecido é o DDG, sigla oriunda do nome em inglês dried distiller grain, podendo ou não ser acrescido de materiais solúveis do processo. Nesse caso, é adicionado o “s” no final, ficando DDGs. Dentre outros coprodutos incluem-se: o WDG (wet distiller grain), o óleo bruto de milho, o farelo de glúten de milho e a vinhaça concentrada, sendo vantajosa a utilização desses produtos em vários aspectos.

São produtos versáteis com alto teor de energia e proteína bruta, se encaixando bem nas formulações para os animais de produção, sendo que para ruminantes são especialmente utilizados por terem uma alta concentração energética e baixa porcentagem de amido. Outra grande vantagem dos DDGs do Brasil é que a dosagem de enxofre é baixa, em sua maioria, favorecendo assim a sua inclusão nas dietas de ruminantes. 

A gama de produtos apresentados é grande devido às diversas tecnologias de produção, nas quais temos produtos de 18% até 48% de proteína bruta e concentrados em levedura, por isso, são muito vantajosos e considerados ingredientes versáteis e indispensáveis na nutrição animal.

Scot Consultoria: Em meados de abril de 2020, no início da pandemia, as usinas de etanol (milho e cana-de-açúcar) sofreram com a retração do consumo de combustíveis, em função da quarentena. A queda no preço do petróleo na época também pesou na competitividade da gasolina frente ao etanol, provocando queda de preço. Diante desse quadro, boa parte das usinas de etanol de milho suspenderam as atividades em abril. Como o mercado de DDG e WDG reagiu neste período? Os coprodutos colaboraram para que as usinas não fechassem “no vermelho”?

Leonardo Oliveira: O mercado de DDG e WDG continuou com a demanda alta mesmo com a baixa de preço no mercado de etanol. A demanda por proteína animal seguiu ainda com certa força, contribuindo assim para “fechar as contas” no final do mês com a venda dos coprodutos. 

Apesar disso, como a maior fatia da receita advém da comercialização do etanol, com a queda brusca de seu preço, a venda dos coprodutos pode não ter sido suficiente para que as contas zerassem no fechamento do mês, fazendo até com que algumas indústrias operassem “no vermelho” em alguns períodos, podendo chegar na parada da moagem. 

Scot Consultoria: Com a quebra da produção de milho safrinha, como o mercado de DDG foi impactado?

Leonardo Oliveira: Nesse cenário, houve uma maior demanda no mercado de DDG, por vários motivos:

- uma crescente demanda de milho pelas usinas nesse período, demandando maiores volumes para a moagem e produção do etanol;

- maior demanda para substituição do milho para a nutrição animal devido à menor produção do cereal;

- mercado de exportação de milho aquecido, havendo alta demanda nos mercados internacionais consumidores sendo favorecidos pela elevação da cotação do dólar.

Esses motivos ajudaram a impulsionar o mercado de DDG. 

Scot Consultoria: Levando em consideração que o preço por quilo da proteína bruta do DDG atualmente está mais caro que o farelo de soja, como o coproduto pode colaborar com a redução dos custos na dieta neste momento de alta do preço do milho e da soja?

Leonardo Oliveira: O DDG entra na dieta substituindo o componente proteico, como o farelo de soja, torta de algodão, farelo de algodão, e o componente energético, como milho e sorgo, e nesta substituição há uma melhor eficiência do aproveitamento da dieta pelos animais, que no caso de ruminantes, por exemplo, favorece o metabolismo ruminal, melhorando os parâmetros da fermentação ruminal, diminuindo problemas de acidose ruminal por haver uma baixa concentração de amido, além de possuir uma considerável porcentagem de proteína não degradável no rúmen, que favorece o fornecimento de aminoácidos, principalmente os essenciais, como metionina e lisina.

Outro ponto que é muito positivo é a presença da levedura, presente no produto por ser o organismo responsável pela transformação do amido em etanol. A levedura, mesmo que inativa, tem efeitos positivos comprovados como a melhoria no sistema imune dos animais e no ambiente ruminal.

Esses pontos são os principais fatores para a diminuição dos custos com a dieta na produção dos animais.

Scot Consultoria: Qual sua perspectiva sobre as exportações brasileiras de DDG?

Leonardo Oliveira: Existem boas perspectivas sobre a exportação do DDG. Já houveram embarques para a exportação, mas no atual momento, ainda não é um horizonte que vislumbramos, visto que a demanda interna é crescente com uma valorização interessante.

Em um futuro provavelmente teremos um maior fluxo de exportação. Com o advento de novas indústrias deste setor se instalando e o DDG se tornando mais difundido, essa demanda surgirá naturalmente e ajudará a fortalecer as indústrias produtoras.

Scot Consultoria: Com a demanda crescente pelos coprodutos de destilaria de etanol, você acredita que as usinas serão capazes de atender a futura demanda desses coprodutos?

Leonardo Oliveira: Sim, com o mercado de nutrição animal sendo demandado, principalmente de produtos de maior qualidade, aliado a essa demanda, que é crescente, a maior produção do etanol e de coprodutos movimenta e fortalece a cadeia da produção agropecuária como um todo, gerando empregos e renda para o nosso país.

As indústrias, além de atender as demandas do mercado dos coprodutos, terão nele uma perspectiva de excelente mercado consumidor, com bom valor agregado ao produto e boa liquidez, sendo ponto decisório na tomada de decisão de abertura de novas usinas.

Os coprodutos são para as usinas o complemento da remuneração para os momentos de baixa na cotação do etanol. Se tomarmos como base o potencial produtivo brasileiro de grãos, esse mercado só tende a crescer, visto que o mercado de produção de alimentos é básico e indispensável e com o aumento da população mundial, o mercado consumidor, principalmente dos países em desenvolvimento, terá uma alta demanda de alimentos nos próximos anos.


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