• Terça-feira, 19 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

O mercado de insumos para produção intensiva de bovinos

Entrevista com o zootecnista, Mateus Silva Ferreira

Terça-feira, 14 de setembro de 2021 - 12h00
-A +A

Graduado e mestre em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá e com doutorado realizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Mateus Silva Ferreira atualmente é consultor técnico regional na Cargill.

Foto: Scot Consultoria


Scot Consultoria: Mateus, quais foram as dificuldades encontradas devido aos altos preços e desabastecimento de insumos para a pecuária neste ano?

Mateus Ferreira: Estamos vivenciando um ano atípico na questão de preço e de abastecimento de insumos. Alguns insumos mais do que dobraram seus preços e a margem do confinamento está ficando mais apertada, mesmo levando-se em consideração o maior preço da arroba do boi gordo.

A falta de chuva também impactou diretamente na produção e oferta de insumos volumosos na região. Dentre eles, podemos destacar o bagaço de cana, por exemplo. Bastante produzido na região Sudeste, principalmente em São Paulo e Minas Gerais, sua disponibilidade para a nutrição de bovinos tem reduzido e ele tem sido direcionado para a produção de energia elétrica. Frente à estiagem que estamos enfrentando, a utilização de bagaço de cana para produção de bioenergia é uma alternativa com relação à produção de energia hidrelétrica.

Além do bagaço de cana, o DDG (grão de milho seco por destilação) e coprodutos de algodão também estão em falta no mercado. Com a atual valorização dos insumos em geral, observamos algumas quebras de contratos entre confinamentos e fornecedores, o que resultou na falta de insumos nas operações.

Scot Consultoria: Quais ingredientes alternativos têm se destacado no confinamento de bovinos?

Mateus Ferreira: Na nossa região de atuação, principalmente no estado de São Paulo, tem bastante alternativas considerando coprodutos. Podemos destacar o bagaço de laranja in natura, polpa cítrica peletizada, palha de cana, gérmen de milho, DDG, melaço de soja, melaço cítrico, farelo de arroz, entre outros.

Estamos sempre buscando esses ingredientes a fim de baratear os custos relacionados com dieta sem afetar o desempenho dos animais e com isso, melhorar a margem do confinador.

Scot Consultoria: E o mercado de suplementos minerais, como ele tem reagido frente à pandemia?

Mateus Ferreira:  As matérias-primas como vitaminas, macro e micronutrientes, utilizadas para fabricação de suplementos minerais também deram uma alavancada neste ano, impulsionadas pela pressão do dólar e alta nos preços dos adubos. Insumos como ureia pecuária, fosfato bicálcico e calcário mais do que dobraram seus preços.

Além disso, a falta de fosfato no mercado fez com que algumas empresas do ramo de nutrição animal suspendessem as vendas e prorrogassem as entregas aos clientes.

Scot Consultoria: Você poderia explicar brevemente a campanha Carne do Bem?

Mateus Ferreira: O objetivo da campanha é levar informação de qualidade com clareza e confiabilidade, para desmistificar alguns mitos da pecuária brasileira para a população.

Em alguns casos, a pecuária é vista como uma grande vilã do meio ambiente, e sabemos que isso não é verdade, uma vez que estamos, cada vez mais, investindo em uma pecuária mais sustentável. Estamos construindo uma pecuária com três pilares essenciais: o econômico, o social e ambiental. Vale ressaltar a contribuição da pecuária para o PIB brasileiro e geração de empregos, evidenciando-se assim, a sua importância.

Além disso, o projeto Carne do Bem mostra casos reais de pessoas/produtores que vivem honestamente da atividade, respeitando pessoas, animais e o meio ambiente.

Scot Consultoria: Para o curto e médio prazo, há alguma expectativa de ocorrer um afrouxamento nos preços dos insumos alimentícios para a produção intensiva de bovinos?

Mateus Ferreira: Acredito que o mercado, para curto e médio prazo, seja de estabilidade nos preços. Não vemos mais força para o aumento dos preços, visto que a margem do confinamento já está bem reduzida.

Em 2019, confinamentos com estratégias de compras de insumos (contrato, travas) rodavam com dieta de terminação entre R$500,00 a R$600,00/t de MS, hoje essas mesmas dietas estão com preços entre de R$1.400,00 a R$1.850,00/t de MS, três vezes maior quando comparado ao ano de 2019.

Porém, uma boa parte das plantas que realizam compra antecipada dos insumos estão estocadas com preços inferiores ao mercado spot, o que dá um folego na margem.

Scot Consultoria: Qual sua perspectiva sobre o número de animais confinados para 2021 com relação a 2020?

Mateus Ferreira: De acordo com nossos números, em 2021, os valores de taxa de ocupação (número de animais/capacidade estática) dos confinamentos e o índice de reposição de gado (IRG) está levemente acima de 2020, principalmente na região Sudeste e Centro-Oeste do país.

Grande parte dos confinamentos que trabalham em boitel e/ou parceria estão com fila de espera para entrada de animais. Acredito que o número de animais confinados em 2021 deverá ser bem próximo ao ano de 2020, sem muita surpresa.


<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja