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Scot Consultoria

Exportações brasileiras de carne bovina

Entrevista com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Antônio Jorge Camardelli

Terça-feira, 10 de agosto de 2021 - 15h00
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Antônio Jorge Camardelli é formado em Medicina Veterinária pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC).

Foto: Unsplash


Antônio Jorge Camardelli é formado em Medicina Veterinária pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC).

Scot Consultoria: Antônio, qual a sua visão em relação à dependência do Brasil frente ao mercado chinês? O senhor acredita que esse ritmo aquecido perdurará mais alguns anos, apesar da recomposição do plantel suíno do país?

Antônio Camardelli: A China é hoje o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo e a tendência é que a demanda continue aquecida. Temos notado que o consumo de carne bovina na China tem sido muito apreciado pelas gerações mais jovens.

E por mais que o consumo per capita tenha crescido nos últimos anos, ainda gira em torno de 7 kg/habitante/ano, considerado pequeno perto de grandes consumidores como o Brasil, cujo consumo per capita é de cerca de 36 kg/habitante/ano.

Scot Consultoria: Atualmente, observamos que o Brasil é bem diversificado em relação à carteira de importadores de carne bovina. Entretanto não atingimos países como Japão e Coréia do Sul. Na sua opinião, o que falta para o Brasil conseguir atingir esses mercados?

Antônio Camardelli: A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) tem trabalhado em conjunto com seus associados e com o Ministério da Agricultura, sempre no sentido de ampliar e diversificar seus mercados, mas ainda assim não conseguimos exportar carne para alguns países.

No caso do Japão e Coréia do Sul, as negociações existem e estão em andamento, porém algumas vezes as barreiras comerciais impostas acabam sobrepondo as barreiras meramente técnicas. Uma das justificativas desses países é o fato de que o Brasil possui o status de livre de aftosa com vacinação. No entanto, Uruguai tem condição sanitária semelhante ao do Brasil, com uso da vacina e risco negligenciável para BSE (ou doença da vaca louca) e já consegue exportar para esses mercados. Vamos acompanhar o desenrolar das negociações.

Scot Consultoria: Em relação às indústrias exportadoras de carne bovina brasileira, o senhor acha que o Brasil tem indústrias suficientes para atender o mercado internacional? Qual é a maior dificuldade para as indústrias conseguirem o certificado de exportação de proteína animal?

Antônio Camardelli: O Brasil tem sim condições de atender o mercado internacional com as suas indústrias exportadoras. Atualmente, cerca de 74% de toda a carne bovina produzida no país ainda é consumida dentro do próprio Brasil, o que poderia ser facilmente alterado de acordo com a demanda internacional.

Além disso, as indústrias exportadoras de carne bovina do Brasil atendem aos mais exigentes padrões, tanto que cumprem todos os requisitos exigidos por mercados como União Europeia e Estados Unidos, competindo de igual para igual com outros grandes exportadores.

É importante também mencionar que a capacidade de produção de carne do Brasil é tão diversificada que muitas vezes as indústrias não se habilitam para exportar para algum mercado específico, simplesmente por estratégia comercial, não necessariamente porque não conseguem cumprir os padrões.

Scot Consultoria: Os Estados Unidos aumentaram as importações de carne bovina brasileira in natura em 2021. Na sua visão, o que tem levado a esse aumento e qual a importância da presença do país pensando em abertura de novos mercados?

Antônio Camardelli: A abertura do mercado norte-americano de carne in natura para o Brasil foi um grande marco no histórico das nossas exportações. Por se tratar de um mercado extremamente exigente, conseguir atender esse mercado representa um grande passo para a indústria brasileira, pois auxilia na abertura de mercados com exigências semelhantes.

As exportações brasileiras para os Estados Unidos têm crescido porque o produto que o Brasil tem mandado para lá é justamente a matéria-prima usada pela indústria.

Scot Consultoria: Sob seu ponto de vista, como o reconhecimento de novas áreas como livres de febre aftosa pode beneficiar o mercado brasileiro?

Antônio Camardelli: A ampliação da área livre de febre aftosa sem vacinação do território brasileiro pode sim facilitar o andamento de algumas negociações. Países que até então justificam a impossibilidade de o Brasil atender esta exigência específica tendem a flexibilizar as regras, facilitando o acesso da carne brasileira a alguns mercados. Porém, infelizmente, isso não significa abertura automática.

Scot Consultoria: Antônio, pensando em América do Sul, qual a importância dos países vizinhos em relação à competitividade frente ao Brasil no cenário internacional?

Antônio Camardelli: Uruguai, Argentina e Paraguai são tradicionais parceiros do Brasil. Somos complementares em vários produtos. Além disso, cabe lembrar sobre a nossa presença com indústrias nesses países também.


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