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Scot Consultoria

Cana-de-açúcar: efeitos da pandemia no setor sucroenergético

Entrevista com o zootecnista, João Henrique de Andrade

Sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021 - 11h00
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João é formado em Zootecnia pela Faculdade de Marília e possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi gestor de fazendas de cria e recria no Mato Grosso, participou da elaboração do projeto e montagem da Usina Cerradão em Minas Gerais e, atualmente, é diretor vice-presidente na Usina Pitangueiras.

Foto: Scot Consultoria


João é formado em Zootecnia pela Faculdade de Marília e possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi gestor de fazendas de cria e recria no Mato Grosso, participou da elaboração do projeto e montagem da Usina Cerradão em Minas Gerais e, atualmente, é diretor vice-presidente na Usina Pitangueiras.

Scot Consultoria: João Henrique, frente a um ano pandêmico, quais foram, ou são, os três maiores problemas enfrentados pelas usinas de açúcar e álcool? Qual foi a importância do açúcar no ano de 2020 para as usinas, em meio a esse cenário pandêmico?

João Henrique: No ano de 2020, todas as indústrias tiveram que se reinventar para não parar a sua produção. No setor sucroenergético não foi diferente. No início da safra, sofremos bastante com a expectativa de falta de produtos utilizados no processo de produção, onde acabamos comprando e fazendo um estoque para três meses de produção. As maiores preocupações foram continuar produzindo e cuidar da saúde dos colaboradores, utilizando mais transportes para aumentar o distanciamento, aumentar horários de refeição e realizar a higienização do ambiente de trabalho. A pandemia mexeu bastante com o psicológico das pessoas e o trabalho interno do nosso RH foi de extrema importância.

Apesar de todos os problemas causados pela pandemia, o açúcar já estava demonstrando preços com uma boa margem para as usinas, e a maioria das usinas fixaram o produto para garantir o resultado da safra e o etanol, que estava projetando preços muito baixos pela queda na demanda, acabou vindo a reboque, os preços do etanol também se mostraram bons do meio da safra pra frente.

Scot Consultoria: Falando de açúcar, o produto atingiu preços recordes nominais em 2020, especialmente por conta das exportações aquecidas ao longo de todo o ano, que limitaram a oferta no mercado doméstico. Quais as expectativas para 2021?

João Henrique: Para a safra de 2021, os preços médios do açúcar estão melhores fixados pelas usinas do que pela safra de 2020, o que deixará uma margem boa para as usinas que já anteciparam suas fixações.

Scot Consultoria: Na sua opinião, qual o maior entrave para garantir a sustentabilidade do setor de açúcar e álcool em longo prazo? Como o mercado de cogeração de energia pode colaborar?

João Henrique: Logicamente que o preço dos produtos é de extrema importância para a sustentabilidade do setor, mas o setor ainda precisa passar por uma transformação em seus canaviais. Comparando com outras culturas, a cana-de-açúcar está muito atrasada em ganho de produtividade e diminuição de custos de colheita.

Nós já exportamos energia há 20 anos, e com certeza é um grande diferencial para o resultado financeiro da empresa. Em anos em que os preços de etanol e açúcar estão abaixo dos custos, a energia ajuda a equilibrar as contas para não ficarmos “no vermelho”.

Scot Consultoria: Como o senhor enxerga os impactos dos maiores investimentos em usinas de álcool a partir do milho como máteria-prima, em relação às usinas que utilizam a cana-de-açúcar como matéria-prima? Você acredita que, futuramente, as usinas ao redor do Brasil poderão substituir a cana-de-açúcar pelo milho?

João Henrique: Os impactos são positivos para as regiões onde estão sendo montadas essas usinas, trazendo muita riqueza e trabalho pra região onde se instalam. Porém, essas indústrias necessitam ter grande área de produção a sua volta, pois o grande diferencial de uma usina de cana é ter o bagaço pra queimar e gerar vapor para o processo. As usinas de milho, por outro lado, precisam comprar matéria-prima (como o bagaço ou cavaco), ou ter uma plantação de pinus ou eucalipto que sirva de matéria-prima para queimas nas caldeiras.

Por esse motivo, não vejo a possibilidade de substituição da cana pelo milho. O que poderia acontecer é, cada vez mais, termos usinas de cana anexando usinas de etanol de milho ao parque industrial.

Scot Consultoria: João Henrique, a tarifa zero para a importação de etanol norte-americano impactou o segmento de etanol brasileiro? Como a renovação da tarifa em setembro de 2020 pode afetar o segmento ao longo de 2021?

João Henrique: Nessa safra de 2020, não chegou a impactar. Com o dólar alto, a paridade de importação não ficou tão interessante aos importadores, pois a tarifa não foi foi renovada e com 20% de imposto para todo etanol importado, hoje não deixa abertura para trazerem etanol de fora para o Brasil.

Scot Consultoria: O governo de São Paulo revogou, após pressão do setor, a decisão de cobrança da alíquota de 4,14% de ICMS para produtos hortifrutigranjeiros, fertilizantes, defensivos, sementes, milho, farelo de soja e produtos veterinários. Como a cobrança afetaria o setor na opinião do senhor? E, mais especificadamente, como as usinas de etanol e açúcar seriam afetadas?

João Henrique: Os produtos como defensivos e fertilizantes já estão com preços muito elevados, o que aumenta muito o custo de produção da cana com o aumento do ICMS. Com certeza o setor iria sentir o aumento desses custos e seria uma cobrança que afetaria em cheio o consumidor final, trazendo mais inflação aos produtos básicos da mesa dos brasileiros.

Scot Consultoria: Em 2020, a usina foi certificada entre as usinas capazes de emitir os créditos de descarbonização (CBios). O último estágio é conseguir a autorização do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para registrar as notas fiscais referentes aos volumes certificados e começar efetivamente a emitir os CBios. Vocês já conseguiram atingir esse estágio? Quanto a usina tem colaborado para a segurança energética, bem como para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE)?

João Henrique: Sim, a usina já conseguiu emitir os CBios da safra 2020, e praticamente todos já foram negociados pela nossa matriz Copersucar. Estamos constantemente fazendo todas as mensurações das emissões atmosféricas, tanto industriais como em máquinas agrícolas, para certificar que todos os equipamentos estão de acordo com as exigências ambientais.


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