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Scot Consultoria

Quais os principais fatores que impactam no desempenho do confinamento?


Quinta-feira, 16 de agosto de 2018 - 05h45

Foto: Scot Consultoria


Dando continuidade à parte 1 da entrevista com o prof. Dr. Danilo Millen sobre a dieta adequada para bovinos em confinamento:


Scot Consultoria: Qual melhor frequência de arraçoamento na engorda? E o quanto isso prejudica o ganho de peso dos animais se não respeitado?


Danilo Domingues Millen: Comparando os dois extremos, tratar uma vez ao dia sabemos que não é ideal, a ração fica muito tempo no cocho e no começo o animal come, mas dependendo de como está o clima, se estiver muito calor, por exemplo, a ração pode secar. Já se a ração for muito úmida ela pode fermentar no cocho e não terá mais a mesma qualidade. Então, a tendência nesses casos é que o bovino diminua o consumo e o que acaba impactando negativamente no desempenho.


O outro lado extremo também é prejudicial. Com muitos tratos, manejo que muitos confinamentos adotam, com sete a oito tratos por dia, também não funciona. Além de não ser viável economicamente por ter que carregar o trator/vagão várias vezes, em uma dieta como essa o pH do rúmen precisa flutuar, não a ponto de o animal ter uma acidose, mas o pH precisa subir e descer exatamente para favorecer os microrganismos que aproveitam a energia que você está dando no concentrado. Então se você der um pouquinho de cada vez, o boi vai comer um pouquinho e depois mais um pouquinho, o pH nunca cai, ele vai comer sempre pouquinho e aquela dieta nunca vai alcançar o máximo de aproveitamento. Então o ideal seria de 3 a 4 vezes, acima de 4 ou abaixo de 3 você já sai desse ponto ótimo.


Scot Consultoria: Sobre a dieta de grão úmido, você acha que haverá um crescimento da utilização no Brasil? Quais os principais cuidados para utilizar essa dieta?


Danilo Domingues Millen: Quem faz dieta de grão úmido normalmente tem lavoura, mesmo que ele terceirize, precisa saber o ponto certo de colheita da cultura, e da confecção do silo. Então além de todos esses pontos agronômicos que o pecuarista pode não ser familiarizado, a dieta de grão úmido é uma dieta muito forte, muito pesada, o risco que se tem de distúrbios digestivos é muito maior quando se coloca grão úmido.


Então de novo, o pecuarista precisa ter tecnologia, tem que ter pessoas treinadas, ter um bom nutricionista. É como se você estivesse andando na rua, se você pisar um pouco para o lado, você não vai cair, mas se estiver numa corda bamba, você cai, e isso te deixa sujeito a erros, é a mesma coisa na utilização dessa dieta.


O Brasil ainda tem muito que crescer, tem muitas fazendas modelos que usam grão úmido, mas de forma geral, eu acho que enquanto a parte do manejo não melhorar, a aplicação do grão úmido vai continuar limitada. Pelo menos nos próximos três a quatro anos, quando o pessoal começar mesmo a empregar mais tecnologias, ter métrica dos seus índices, aí pode ser que se crie um espaço para o crescimento da dieta de grão úmido.


No último levantamento que fizemos com os nutricionistas, 40% dos confinadores ainda utilizam bica corrida, não controlam a quantidade de comida que cai em cada baia, então ainda estamos no começo da conversa, o pecuarista que não sabe o quanto de ração cai em cada baia, não é indicado para utilizar o grão úmido.


Scot Consultoria: Por fim, qual a sua principal dica para o pecuarista que quer aperfeiçoar as técnicas de nutrição no confinamento e não sabe por onde começar?


Danilo Domingues Millen: Eu teria duas e elas estão ligadas. Primeiro o pecuarista precisa ter um bom nutricionista, pode ser autônomo ou de alguma empresa que preste serviço. Esse nutricionista vai muito além de fazer todo seu planejamento alimentar, ele vai treinar seus funcionários e aí que vem a outra dica, o treinamento dos funcionários. Esse funcionário que está lá, que vai fazer leitura de cocho, que vai distribuir o trato, esse funcionário tem que ser reconhecido. Pois se esse funcionário está feliz, ele vai trabalhar bem e vai acordar cedo para fazer leitura de cocho, e vamos dizer assim, dessa forma 30% do caminho está andado.


O que acontece normalmente, o produtor treina o funcionário para fazer leitura de cocho, mas ele ganha “uma miséria” e isso abre espaço para ele procurar trabalho na cidade, achar um emprego que remunere melhor e acabar saindo da fazenda.


O ideal seria como nos confinamentos americanos, onde quem ganha mais é o que faz a leitura de cocho. Ele é chave para a operação. E imagina se esse funcionário acertar a leitura todo dia, evitando jogar mais comida do que devia e assim economizar no bolso do pecuarista.


O produtor precisa ter essa visão, ele tem que valorizar esses funcionários, dei o exemplo do funcionário que faz a leitura de cocho, mas o que distribui a ração também, se ele distribui corretamente, se ele é bem treinado, ele consegue ver se todos os animais estão chegando no cocho, ele não é só um tratador, ele observa a reação desses animais e se notar algo de incomum, já avisa a sanidade, e o pessoal da sanidade já verifica o motivo do animal não está levantando.


Então são vários fatores, mas quem treina é o nutricionista. Esse profissional que vai lá a cada quinze dias, um mês, e que faz todo o planejamento, também é chave para essa operação, tanto que tem poucos nutricionistas de gado de corte no mercado. Então o conselho seria esse, valorizar as pessoas, os funcionários e o nutricionista.


Em terceiro lugar, aí sim, o pecuarista pensa em comprar um vagão novo, procurar estruturar mais a propriedade, pois não adianta nada ter toda a estrutura, mas não ter gente treinada. Acho que tem que ser ao contrário, ter uma equipe treinada antes de equipar a fazenda.


Entrevistado

Danilo Domingues Millen, zootecnista e professor Dr. da Unesp de Dracena.



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