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Scot Consultoria

O destino do país e a Presidência da República


Quinta-feira, 12 de julho de 2018 - 16h20


Dando continuidade à parte 1 da entrevista com o Dr. João Gomes Martines Filho sobre os pré-candidatos à presidência.


Scot Consultoria: Com a incerteza de quem irá assumir a presidência do país no próximo ano, quais seriam os impactos de um candidato a favor das reformas e um contra?


João Gomes Martines Filho: Um ponto que importante no meu ponto de vista é a realização urgente da reforma previdenciária, o próprio pré-candidato Henrique Meirelles (o qual se apresentou mais como Ministro da Fazenda do que pré-candidato a presidência da república) mencionou isso com uma clareza e a necessidade urgente na pauta de votação no congresso e senado.


Além da reforma previdenciária são necessárias reformas tributária e uma reforma política. Esses são os grandes gargalos para o país ir para frente. Não podemos fazer política com mais de 30 partidos e tentando acomodar todos no governo. Impossível continuarmos assim. O presidente eleito fica muito frágil para efetuar qualquer mudança séria nesse país.


Apesar de terem pessoas contra essas ideias, eu acho que a dívida previdenciária é muito grande e é necessário se repensar o sistema e tomar ações para que aconteça uma reforma, e isso tem que ocorrer logo na entrada do próximo governo.


O Geraldo Alckmin foi muito claro quanto a isso, mostrando que isso precisa ser feito logo nos primeiros 90 a 120 dias após o novo governo tomar posse.


Em minha opinião, isso tem que entrar na agenda e a partir do momento que se resolva a parte previdenciária, sobram-se recursos para o resto, inclusive para o agronegócio.


O Temer tentou fazer essa discussão de reforma previdenciária, mas isso é bastante complexo. Com certeza nós estamos a caminho disso, mas no Brasil ainda tudo demora muito por ser burocrático.


Além de Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles também tem essa agenda com muita clareza. Para a pré-candidata Marina Silva, como disse, ela acredita em uma discussão nos primeiros seis meses para depois entrar na sua agenda de trabalho.


Acredito também que, quando se trata de corrupção o país está mudando e nós todos aguardamos uma mudança na câmara federal, dos deputados e senadores com as novas eleições e essa será uma grande proposta de mudança.


O mais importante é que todos os pré-candidatos a presidência mostraram saber da importância do agronegócio em si, não é exclusivo para a pecuária, nem para o leite, nem para os grãos, nem para o sucroenergético.


Um dos assuntos que achei bastante interessante nas discussões é a preocupação com o jovem no mercado de trabalho. O pré-candidato Paulo Rabello trouxe para a discussão, durante seus 15 minutos, a notícia de um jornal de grande circulação de São Paulo dizendo que 70% dos jovens não querem ficar mais no Brasil e se pudessem eles iriam embora do país.  Então muitos pré-candidatos entraram falando sobre o assunto, com a questão do desemprego muito grande entre os jovens, e que o agronegócio entraria como um grande incentivador e gerador de empregos para os mesmos.


Alguns dos pré-candidatos deram enfoque sobre a reforma tributária, sobre impostos dos estados e nos produtos, sobre onde colocar esse imposto, no produto final ou no início da cadeia. Isso atuaria diretamente em nível de produtor rural no que tange o agronegócio. Sobre o problema do etanol, na tentativa de se tentar diminuir o preço na bomba de combustível depois desse grande apagão do setor do transporte brasileiro, onde cada estado brasileiro possui um valor de pauta para recolhimento de tributos, a conta no final não fecha.


Scot Consultoria: Por fim, em sua opinião, quais serão os maiores desafios e prioridades do próximo presidente que será eleito?


João Gomes Martines Filho: Com certeza a pauta da Reforma Previdenciária é muito importante e nós não podemos continuar gastando mais do que o sistema está coletando ou coletou. O pré-candidato Henrique Meirelles pautou especificamente que quando entrou no governo Temer, há dois anos, o déficit inicial no ano de 2016 era de R$90 bilhões, mas quando realmente começaram a somar o valor extrapolou para R$170 bilhões.


Eram certos detalhes que passaram despercebidos, como aluguel das embaixadas brasileiras que não era pago a quase três anos, e então quando tudo foi realmente somado, o valor do déficit fiscal no ano de 2016 foi muito maior do que o previsto. As contas do governo brasileiro estavam caóticas.  Uma verdadeira mazela!


Como exemplo atual temos a Argentina, em que uma das importantes mudanças que o atual governo assumiu com o FMI (Fundo Monetário Internacional) é a necessidade urgente de uma Reforma Previdenciária. O FMI emprestou US$50 bilhões para a Argentina para que que esse assunto fosse resolvido o mais rápido possível, só para entendermos como é um assunto tão delicado.


Atualmente eu estou me mudando de Piracicaba para uma cidade menor que é Bebedouro, onde a previdência é quase 70% da economia local. Então, se formos observar o papel dos aposentados na economia local de pequenas cidades brasileiras, é um papel muito grande, é impressionante o impacto dessa mudança.


Eu considero o Brasil como um país pobre, com potencial enorme na agricultura e com vontade de crescer, onde o agronegócio é o grande meio de alavancagem disso. Temos que investir em tecnologia, mas precisamos de um pouco mais de recursos, mão de obra especializada e bons empreendedores.


O jovem de hoje no agronegócio é um assunto que temos que trabalhar mais. Eu tenho sentido bastante que esse tópico de empreendedorismo deixa bastante a desejar, as universidades não estão preparadas, digo em nível de ESALQ, UNESP, as maiores universidades do país. Tem ocorrido somente ações pontuais nesse sentido. As universidades preparam hoje mão de obra para o mercado de trabalho, não empreendedores para o agronegócio. Isso é uma coisa que tínhamos que incentivar cada vez mais nos jovens, para que eles tenham seus próprios negócios. E esses negócios podem ter três funcionários, pode ser que tenha 20 funcionários ou 50, mas é essa a ideia, empreender. As universidades necessitam avançar com urgência nessa pauta e tornar isso parte do currículo mínimo e obrigatório de todos os graduandos.


Creio que como você me colocou na pergunta, qual o grande desafio? Acredito que seja fazer a mudança, me refiro propriamente nos valores das pessoas hoje em dia. Eu acho que existe um desanimo muito grande da população brasileira em relação a tudo, com a moral das pessoas, com o caráter e acho que o grande desafio daqui para frente é fazer a mudança nisso.


Quando falamos em medidas de longo prazo, que realmente resolvam problemas, eu não senti que ninguém ali (pré-candidatos) tem um plano claro de fato para o longo prazo para o agronegócio. É necessário que isso aconteça, o setor do agronegócio precisa de uma agenda mais clara quanto a isso. O agronegócio não trabalha no curto prazo. Isso é muito importante.


E eu acredito que a palavra tecnologia tem que vir com destaque nessa pauta, acredito que devemos dar um enfoque maior aos jovens, pois esse é o caminho. E depois tratar setor por setor, investir em tecnologia, como por exemplo, vem ocorrendo nos grãos e na pecuária. O pecuarista que não investe em tecnologia atualmente está fadado a desaparecer do setor, e isso não é só na pecuária. Acredito que temos que vender menos commodities para vender mais produtos processados e com maior valor agregado, e para isso todos os setores nacionais necessitam de investimentos.


E essa inclusive foi uma das discussões de como fazer o país ter uma inserção maior no mercado internacional, no caso de produtos agrícolas. Então é necessário entender o mercado, as demandas do mercado e a possibilidade de inserção dos nossos produtos neles, pois não adianta também produzir e não ter para quem vender. Temos a APEXBrasil, uma agência de promoção de exportação e investimentos.


Essa discussão foi bastante interessante para sabermos um pouco mais dos candidatos, e na minha opinião os pré-candidatos que surgiram lá estão interessados no agronegócio. Alguns mais que outros, dominando mais o assunto, mas eles estavam presentes.


Entrevistado:



 


Dr. João Gomes Martines Filho, engenheiro agrônomo e professor da ESALQ


 



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