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Scot Consultoria

Os pré-candidatos à presidência estão preparados para atender as demandas do agro?


Quinta-feira, 5 de julho de 2018 - 15h15


Para discutir propostas para o setor do agronegócio, a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar), recebeu os pré-candidatos à Presidência da República durante o UNICA Fórum 2018.


Foram debatidas decisões fundamentais para o futuro do setor e para comentar sobre os principais temas abordados durante o evento convidamos o Dr. João Gomes Martines Filho para uma entrevista.


Martines é engenheiro agrônomo pela USP, possui mestrado e doutorado pela Universidade de Ohio e pós-doutorado pela Universidade Illinois. Atualmente é professor da ESALQ e tem experiência na área de Economia Agrária, atuando principalmente nos temas: comercialização agrícola, derivativos agropecuários, economia agrícola, informação de mercados, relação de preços agrícolas e índices de sustentabilidade no agronegócio.


Scot Consultoria: O senhor comentou sobre a participação no fórum da UNICA com os pré-candidatos à presidência. Quais eram as principais preocupações dos presentes no fórum, quando se trata do setor sucroenergético?


João Gomes Martines Filho:  O evento foi na segunda feira dia 18/6, um tanto complexo. Foi feito o convite para todos os potenciais pré-candidatos a concorrer à presidência da república do Brasil, tinha toda uma agenda fixa, que eles se apresentavam em 15 minutos e depois tinham dois debatedores, quase sempre do setor sucroenergético, lá na frente com o pré-candidato e só eles faziam perguntas.


Então se apresentaram em São Paulo, no fórum, oito candidatos. Foram eles: João Amoedo, Paulo Rabello, Henrique Meirelles, Ciro Gomes, Marina Silva, Jair Bolsonaro, Aldo Rebelo e Geraldo Alckmin. Participaram apenas esses. O PT não mandou o pré-candidato e por isso não participou.


Todos se mantiveram no tempo estabelecido. Era uma dinâmica interessante, em que um pré-candidato entrava por uma porta enquanto o outro saía por outra. Os candidatos não se cruzaram, não foi dada oportunidade de troca de informações entre eles, e eles nem conseguiam escutar o debate do concorrente. E o tempo era cronometrado pois tinha outro em seguida na programação.


No caso específico da UNICA, eles têm um programa que é o RenovaBio, que está em plena discussão, e a grande questão é se este programa continua ou não com a entrada do novo governo, sendo esta a maior preocupação do setor. Todos os pré-candidatos foram indagados sobre o assunto e todos se mostraram a favor da continuação do programa se forem eleitos, mostrando que o RenovaBio seguirá em frente.


Houve outras indagações sobre a precificação dos combustíveis no Brasil – uma questão levantada pela greve dos caminhoneiros desse ano, mas muitos dos candidatos nem sabiam como funcionava o sistema e como se precificavam esses combustíveis, e o que de fato eles teriam a dizer sobre essa política. “Faltaram nas aulas de Microeconomia 001”.


Existiam outras perguntas na mesa, basicamente como que eles atuariam na parte de externalidades negativas e positivas dos combustíveis. Tendo em vista que o etanol tem uma externalidade positiva e ele deve ser compensado e receber um preço maior por isso, e a gasolina que tem um efeito estufa junto com o óleo diesel, tem uma externalidade negativa, devem sobretaxados por isso. Muitos dos candidatos nem sabiam o que era isso e que isso se remetia ao mercado externo. É muito complicado para eles, muitos nunca nem tinham ouvido falar sobre o assunto. Lembrando que as perguntas foram mandadas com antecedência para todos os candidatos, portanto eles não foram pegos de surpresa.


Muitos pré-candidatos achavam que estariam presentes produtores rurais, e na verdade estavam presentes muitos empresários do setor sucroalcooleiro e formadores de opinião no agronegócio brasileiro. Alguns produtores estavam presentes, mas a grande maioria era o pessoal do resto da cadeia sucroenergética.


Certamente nós como espectadores, podemos ter divergências entre um e outro, pois cada um da plateia estava com expectativas distintas sobre os debates. Como mensagem geral nessa primeira questão, o RenovaBio foi confirmado por todos os pré-candidatos, todos assumiram o compromisso dessa manutenção.


Scot Consultoria: Qual foi sua principal percepção dos mesmos quanto ao agronegócio? De forma geral, eles estão por dentro da conjuntura do setor canavieiro?


João Gomes Martines Filho: Essa é uma pergunta bastante interessante, antes de começar o evento, os organizadores explicaram como foi feito o convite aos pré-candidatos e as perguntas que foram encaminhadas a eles.


E a proposta era de uma apresentação de 15 minutos sobre os temas que foram mandados, como por exemplo, o programa RenovaBio, a precificação de combustíveis, o transporte público e privado, os carros elétricos, o papel do açúcar brasileiro (responsável pelo abastecimento de 45% do mercado mundial), mas muito deles tenho certeza que nem sabiam dessas informações.


De todos os candidatos presentes, o que se mostrou mais preparado para uma discussão sobre o agronegócio era o Geraldo Alckmin, ele demonstrou ter uma visão muito clara e interessante sobre o setor, mas isso não quer dizer que ele vai ganhar.


Outro pré-candidato muito interessante foi o João Amoedo, do Partido Novo. Apesar de ter vindo do setor bancário, mostrou que sabe entrar em uma discussão. Passou segurança e trabalhou bem as questões propostas, sabendo mostrar o que quer fazer e se mostrando direto nas questões, indo em cima dos problemas. Ou seja, mostrou-se preparado.


Outro pré-candidato que me impressionou bastante foi a Marina Silva. Me impressionou como ela tem mudado.


O perfil de todos os candidatos se mostra sem extremos, todos estão se caminhando para o centro, não tem mais um de extrema direita ou esquerda. Acredito que a Marina está hoje com uma outra plataforma, já assisti muitas apresentações dela e essa foi a que me chamou mais atenção, pois realmente percebe-se que ela está vindo para o centro e aquele negócio de produtor ser ruim por conta de desmatamento não está mais presente em sua plataforma. Porém, ela está propondo que nos primeiros seis meses de mandato, caso eleita, irá fazer uma discussão ampla para só depois definir sua agenda de trabalho. Bom, ela está coerente, mas dinamicamente inviável.


Agora um candidato que está com o slogan muito forte é o Jair Bolsonaro, deu para perceber que ele de fato prendia a atenção da plateia e ninguém nem andava durante a sua apresentação. Ele tem uma capacidade de comunicação muito forte. A proposta dele, de que dentro dos ministérios não terão guerrilheiros e sim militares, chamou a atenção de uma parte do público. Mas quando lhe questionaram sobre o mercado de combustíveis, ele respondeu que não sabia. Tecnicamente falando, ele realmente não sabe, é um militar que não tem o conhecimento técnico sobre o assunto agro. Mas o problema é que neste momento do país estamos vivendo cenários de corrupção que todo mundo quer que acabe e no seu discurso ele traz a solução. Agora para o setor do agronegócio, ele não domina o assunto. Só para vocês terem noção, estava sentado na mesa de discussão dele, o Caio presidente da ABAG e o Ricardo Sennes, eles quase não fizeram perguntas ao Bolsonaro. Assustou-me muito!


Scot Consultoria: Na sua opinião qual candidato está mais preparado para as pautas do agronegócio?


João Gomes Martines Filho:  Na minha percepção de todos esses pré-candidatos que se apresentaram, o Geraldo Alckmin é muito bem preparado, ele tem participado das atividades e tem uma agenda específica para o agronegócio.


O Jair Bolsonaro, apesar do seu jeito peculiar, acredito que vai receber uma quantidade de votos significativa.


Henrique Meirelles e Ciro Gomes estão totalmente desconectados, pelo que percebi não se posicionam claramente.


O que a maioria deles demonstrou durante o evento foi uma ausência de agenda para o agronegócio em si, mas deixaram claro o reconhecimento da importância do setor para o Brasil e para nós brasileiros.


E não acaba aqui!!! Acompanhe em nosso site para saber mais sobre quais são as perspectivas para o setor do agronegócio de acordo com a orientação política dos pré-candidatos à presidência do Brasil e também os maiores desafios que o próximo presidente eleito terá pela frente.


Entrevistado:

Dr. João Gomes Martines Filho, engenheiro agrônomo e professor da ESALQ.



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