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Scot Consultoria

Boas notícias para o agronegócio?


Sexta-feira, 22 de junho de 2018 - 05h50

Foto: Visual Hunt


Para comentar sobre a conjuntura econômica do país e os possíveis impactos dos acontecimentos de 2018 na cadeia do agronegócio, a Scot Consultoria convidou Haroldo Torres para uma entrevista.


Torres é economista pela USP e mestre em Ciências (Economia Aplicada) pela ESALQ. Atualmente é doutorando pela mesma instituição e gestor de projetos do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas - PECEGE/ESALQ/USP. Possui experiência especialmente na área de Economia Agrícola, com ênfase no desenvolvimento de modelos e sistemas.


Scot Consultoria: No primeiro semestre, tivemos alta do dólar, greve dos caminhoneiros, tabelamento do frete, e etc. Qual o seguimento do agro que mais sentirá os impactos a longo prazo destes acontecimentos?


Haroldo Torres: Acho que o impacto maior vem da greve dos caminhoneiros, câmbio eu comento um pouco depois. Sobre a greve, acredito que o setor que mais vai sofrer os impactos é o da proteína animal. Se olharmos para pecuária, tivemos queda no faturamento, assim como todos os segmentos do agro, mas será a mais impactada em função principalmente da mortalidade de animais, por conta especialmente da logística de ração para esse segmento.


Além disso, tivemos perda de produtos, sobretudo os perecíveis, e a multa de compradores internacionais, especialmente na pecuária. Levando em conta todos esses aspectos este é o segmento que mais vai sofrer a longo prazo, até porque quando falamos de mortalidade de animais, isto não é um processo reversível tão fortemente no curto prazo.


Agora nos outros segmentos, por exemplo açúcar e etanol, o que aconteceu foi basicamente que as operações agrícolas em algumas usinas precisaram ser interrompidas, por exemplo, pararam a moagem, ou pararam a colheita porque não tinha diesel disponível.


Então nestas outras culturas, os impactos foram menos diretos. Mas não podemos deixar de mencionar também os reflexos negativos no embarque dos produtos. Seja nos terminais portuários, ou efetivamente durante a colheita e nos processos em si.


Contudo, o setor que teve mais impacto, sem dúvida, foi o de proteína animal.


Se olharmos para laticínio, deve-se ter em média 50 milhões de litros de leite por dia captados, ou seja, o impacto também foi enorme.


Se não me engano para área de leite foi estimado um impacto financeiro de 180 milhões de reais, considerando os 50 milhões de litros de leite.


Além disso, alguns frigoríficos paralisaram todos os processos de abate.


Enfim, se fosse para resumir esse processo, da greve dos caminhoneiros, principalmente em um impacto de longo prazo, as atividades agrícolas como um todo foram afetadas, mas o setor de proteína animal é o que sofrerá mais as consequências, principalmente devido à mortalidade.


Scot Consultoria: Agora, no segundo semestre temos a Copa do Mundo e a eleição presidencial. Podemos esperar boas notícias para o agronegócio?


Haroldo Torres: Dado o cenário atual do Brasil, onde não se tem uma certeza no ambiente político, isso vai gerar incertezas e consequentemente volatilidade maior do câmbio.


Em função do aumento da taxa de juros nos EUA, e dado o cenário de incerteza política no Brasil, a maior parte dos investidores estão tirando seus recursos daqui e colocando em outros países, ou seja, há uma desvalorização cambial muito forte.


No início das eleições, o que provavelmente deve acontecer é um aumento muito maior da taxa de câmbio, fruto ainda dessa incerteza política, e se em um segundo turno aparecer por exemplo, Ciro Gomes e Bolsonaro, o cenário se agrava.


Então essa desvalorização cambial tem dois efeitos sobre o agro, o primeiro efeito é que nós estamos em um país exportador das principais commodities, e isso vai gerar uma receita maior para o agro, um lado positivo.


Só que ao mesmo tempo uma parcela expressiva dos nossos insumos também é importada, sejam eles defensivos ou fertilizantes, impactando no aumento do custo de produção do produtor rural.


O que é interessante, é que nem todo custo de produção é dolarizado, portanto a expectativa é que o custo cresça, fruto dessa desvalorização cambial, mas em uma taxa menor que o aumento da receita.


Portanto, querendo ou não, a própria insegurança e incerteza trazida pelo ambiente eleitoral, que vai levar a uma desvalorização cambial, vai trazer um movimento benéfico para o agro. Uma gangorra geral, que vamos ver.


Não termina por aqui! Para saber mais sobre a entrevista com o economista, fique ligado na próxima edição Boi&Companhia. Falaremos sobre exportações, medidas taxativas, as projeções de crescimento e a importância do agronegócio para economia brasileira. Não perca!


Entrevistado:

Haroldo Torres, mestre em economia pela ESALQ e gestor do PECEGE-USP.



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