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Scot Consultoria

Qual o manejo ideal no pré-confinamento?


Sexta-feira, 23 de março de 2018 - 06h00

Foto: Scot Consultoria


Gustavo Siqueira, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).


Gustavo Siqueira é zootecnista pela Universidade Federal de Lavras, com mestrado e doutorado pela UNESP, campus de Jaboticabal. Atualmente, atua como pesquisador da APTA.


Com foco na fase final da engorda, muitas vezes nos esquecemos que o manejo inadequado no pré-confinamento pode prejudicar os ganhos zootécnicos do confinamento. Esse é um dos temas abordados no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria que acontecerá de 17 a 20 de abril em Ribeirão Preto-SP e Barretos-SP.


Afim de inteirar o pecuarista sobre o tema, trouxemos o zootecnista Gustavo Siqueira para solucionar algumas dúvidas. Confira na entrevista:


Scot Consultoria: Gustavo, o senhor poderia comentar brevemente o que será discutido em sua palestra?


Gustavo Siqueira: Nós vamos comentar como os fatores pré-confinamento podem afetar no desempenho animal durante a etapa final, que é a etapa de confinamento. Como o estresse gerado na fase anterior ao confinamento impacta o desempenho animal na fase final do confinamento.


Scot Consultoria: Qual é o prejuízo que o estresse pré-confinamento pode causar e como é possível mensurar essa perda?


Gustavo Siqueira: Essa perda é muito difícil de ser mensurada, mas algumas propriedades estão conseguindo observar isso ao comparar um animal que está lá na própria propriedade com outro que vem de uma viagem longa.


Nós vamos mostrar o quanto há de perda de peso animal em função de uma viagem longa e qual o impacto de uma nutrição prévia deficitária. Temos observado mais de 10% de piora no desempenho animal durante o confinamento ao comparar animais que sofreram mais ou menos estresse, alguns estudos reportam essa amplitude. Isso eleva o custo de produção, pois esse animal está desempenhando menos para consumir a mesma dieta, o que significa que ele está ficando mais caro.


Scot Consultoria: Quais são os principais fatores que acarretam o estresse pré-confinamento?


Gustavo Siqueira: Esses fatores estão dentro do manejo pré-confinamento, ou seja, como é dado esse manejo no curral, se é estressante ou se conduz o animal a uma condição melhor.


O transporte talvez seja um dos grandes problemas, principalmente, para os nossos confinamentos em São Paulo, pois os animais vêm de longas distâncias.


A nutrição prévia é outro fator, porque o animal que vem de nutrição deficitária leva tempo para se recuperar. As vezes não estamos fazendo o confinamento em um animal para o ganho de peso, mas para a recuperação de algo que ele perdeu antes.


Sendo assim, na minha palestra vou mostrar o quanto isso impacta e quais são as ferramentas, como uma nutrição adequada no confinamento, podem minimizar esses prejuízos.


Outro ponto é que no protocolo de entrada de confinamento, são aplicadas vacinas que dependem de uma resposta do próprio animal para que funcionem. A vacina promove um estimulo no animal para que ele tenha uma resposta do organismo dele, o que pode ser comprometido pelo estresse pré-confinamento.


Scot Consultoria: Quais estratégias o pecuarista deve adotar para favorecer a adaptação dos animais ao confinamento?


Gustavo Siqueira: Eu acho que tem dois grandes grupos: quando o pecuarista consegue influenciar previamente e quando ele não consegue. Quando ele consegue, nós vamos mostrar que se você fizer uma nutrição prévia adequada e se você ajustar a alimentação com suplementação ou com uso de produtos que melhoram a imunidade desse animal, mesmo que o animal viaje longas distâncias, as chances de resposta no confinamento são muito favoráveis. Sendo assim, o pecuarista pode trabalhar com 30 a 60 dias antes desse animal vir para o cocho para a pré-adaptação na fazenda.


O outro lado é quando o pecuarista não consegue ter influência prévia sobre os animais, que é a maior parte da realidade brasileira. Vamos abordar quais ferramentas disponíveis dentro do confinamento podem ser usadas para minimizar esse efeito.


Sendo assim, vamos mostrar os tipos de minerais que devem ser fornecidos e quais os microminerais que auxiliam na resposta imune desse animal e na sua recuperação. Se eu faço um bom manejo de chegada e consigo fazer a mineralização adequada, eu consigo minimizar o problema.


Scot Consultoria: Qual tipo de suplementação é ideal na recria para adaptar os animais à futura intensificação do confinamento?


Gustavo Siqueira: Isso vai depender muito da época, eu classificaria em dois grandes grupos: dentre os confinamentos do primeiro giro, quando o animal ainda está exposto a um pasto de boa qualidade, talvez um proteínado ou um proteínado energético já seria o suficiente, com uma suplementação de 300g a 1kg por dia já teria uma ótima suplementação com ótimo resultado.


A gente atua na suplementação pré-confinamento sob dois olhares: efeito nutricional e o aporte comportamental, ou seja, condicionar para que o animal fique mais tranquilo e se alimente.


Quanto aos animais do segundo giro, a gente tem uma fase de pasto bem pior então a gente tem recomendado uma suplementação mais elevada, ou seja, próxima de 1kg para compensar a falta nutricional de qualidade do pasto. Sendo assim, o pecuarista traz para o confinamento animais que estejam preparados para ganhar peso.


Scot Consultoria: Há diferença de desempenho entre animais suplementados previamente?   


Gustavo Siqueira: Sim, nossos estudos mostram que a grande diferença está no ganho verdadeiro, que é o ganho de carcaça. Muitas vezes não vemos diferença quando medimos o ganho de peso vivo, mas quando olhamos o ganho carcaça, costumamos ver uma diferença favorável ao ganho no confinamento de 5 a 6% daqueles animais que são suplementados, fora o que ele já ganhou a mais na fase de recria. Em outras palavras, além do que ele já ganhou na recria, ainda tem a chance de ganhar 5% na fase de confinamento quando se mede o ganho de carcaça.


Scot Consultoria: Em sua opinião, qual é o principal gargalo existente para a implantação de um manejo pré-confinamento eficiente?


Gustavo Siqueira: Existem diversos pontos. O primeiro é o pecuarista saber desse problema. A falta de informação sobre essas perdas é talvez o principal gargalo. O segundo é o confinador ter influência sobre os animais ou não. Boa parte dos animais a serem confinados vem de um outro produtor que não é o mesmo confinador ou de uma outra fazenda. Quando ele é de outro proprietário, existe a desconexão entre recriador e confinador. Terceiro é a falta de infraestrutura do recriador.


Scot Consultoria: Gustavo, para finalizar, você poderia contar a sua história na pecuária e a sua experiência com o manejo pré-confinamento?


Gustavo Siqueira: Eu sou zootecnista formado pela Universidade Federal de Lavras, com mestrado e doutorado pela UNESP – Jaboticabal. Sou pesquisador na APTA Colina desde 2005 e nesse tempo sempre trabalhamos com sistema de produção, com o dia a dia da propriedade e buscando cientificamente ferramentas que tragam benefícios para o sistema produtivo, que agreguem à cadeia e ao produtor.


Nosso objetivo é gerar ferramentas, metas e diretrizes para que os produtores possam melhorar a rentabilidade na atividade. A nossa história com o pré-confinamento veio focada com a nutrição pré-confinamento, enxergando os benefícios do animal em boa condição de confinamento em detrimento daquele de má condição. Muitas das vezes o ganho é compensatório, mas ele não necessariamente traduz em receita ao produtor porque muitas vezes o que ele ganha não é carcaça, mas algo que o produtor não será remunerado.


Entrevistado:



Gustavo Siqueira, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).



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