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Scot Consultoria

“Em 2020 podemos chegar a 15 milhões de hectares de ILPF”


Sexta-feira, 1 de dezembro de 2017 - 10h00

Foto: http://www.senar.org.br


Scot Consultoria: Flávio, qual expectativa para o avanço da área de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta no Brasil em curto prazo?


Flávio Jesus Wruck: A nossa expectativa é que até 2020, nós ultrapassemos a casa dos 15 milhões de hectares. Nossos levantamentos estão mostrando que estamos aumentando cerca de 1 milhão de hectares por ano, se continuarmos nesses patamares que ocorreram entre 2002-2015, nós deveremos ultrapassar tranquilamente esses 15 milhões de hectares em 2020 e não acreditamos em estagnação até 2025.


Segundo estudos da EMBRAPA, hoje o Brasil possui aproximadamente 11,5 milhões de hectares com integração. Porém, eu acredito que atualmente o Brasil já possua mais, porque esses 11,5 milhões foram estimados em março de 2016, e considerando que estamos aumentando 1 milhão de hectares por ano, hoje devemos ter mais de 12,5 milhões.


Scot Consultoria: Qual a área média que a ILPF ocupa dentro das propriedades brasileiras? Temos muito para evoluir nesse ponto?


Flávio Jesus Wruck: Daquelas propriedades que já fazem ILPF, levando em consideração a área agricultável, 9,5% desta área é ocupada com ILPF.


As expectativas, segundo os próprios entrevistados, é de dobrar a área, ou seja, destinar de 19-20% da área agricultável da propriedade para a ILPF. Como o movimento ganhou força nos últimos sete anos, esse número (9,5%) é significativo.


A integração é uma outra forma de uso do solo, se compararmos a integração com o processo de plantio direto que aconteceu lá na década de 70, podemos perceber que o ritmo de adoção de ambas tecnologias foi lento.


É importante salientar que, quando nós consideramos a área do Brasil como um todo, ou seja, dados de todos os produtores, somente 5,5% das áreas agricultáveis das fazendas são destinadas à integração. Os 9,5% referem-se aqueles produtores que já fazem a integração. Sendo assim, considerando todos os que fazem e os que não fazem esse número cai para 5,5%.


Nós temos muito para evoluir e nossos trabalhos mostram que a integração é uma maneira de intensificar o uso da terra. Os trabalhos mostram que nós podemos chegar a até 1/3 da fazenda intensificada, ou seja, 35% de área pode ser utilizada de forma intensificada. Esse seria o potencial que nós poderíamos alcançar, isso na tecnologia de hoje, na tecnologia de daqui 10 anos poderíamos aumentar essa porcentagem ainda mais.


Scot Consultoria: O que a EMBRAPA observa em relação ao perfil do produtor que adota a ILPF?


Flávio Jesus Wruck: É sempre aquele produtor mais ligado, mais antenado, mas avido por tecnologia, aquele produtor que participa dos eventos tecnológicos da EMBRAPA, das universidades, de instituições privadas... É aquele produtor que sempre busca informação, independentemente do tamanho de sua propriedade.


Esse produtor não precisa ser de grande porte, com grandes áreas em sua propriedade. Nós temos exemplos aqui na EMBRAPA de produtores que tem oito hectares de ILPF. Essa atividade deu um salto de 25-27 litros de leite produzidos por dia para 150 litros. Isso através da integração e, claro de outras tecnologias, como manejo de pastagens, melhoramento do rebanho, etc... A complementariedade desse conjunto de tecnologias adotadas permite essa evolução na produtividade.


Scot Consultoria: O senhor poderia citar um exemplo de estudo da EMBRAPA com ILPF que teve bons resultados?


Temos várias propriedades em Mato Grosso (MT) que fazem integração e têm ótimos resultados, por exemplo aqui na nossa região, posso citar a Fazenda Platina, que possui ILPF na propriedade toda (2400 hectares) e tem resultados excelentes.


Ela foi destaque na área de tecnologia esse ano 2016-2017, dentro da área de integração, aqui na região do médio-norte do estado. Essa propriedade produziu 22 arrobas por hectares e a produção de soja chegou a 64 sacas por hectare. Nessa fazenda 60% da área é destinada a pecuária e 40% a lavoura.


Scot Consultoria: Os benefícios da ILPF são inegáveis, em sua opinião quais sãos os principais fatores que influenciam sua adoção?


Flávio Jesus Wruck: Primeiro o custo de implantação é mais alto do que os de sistemas solteiros. O investimento inicial é maior, porém, como todo bom investimento, o retorno financeiro também é maior do que nos sistemas solteiros. Isso é comprovado por pesquisas de sete anos aqui na EMBRAPA.


Além disso há a complexidade técnica. Ainda falta conhecimento direto sobre a ILPF. Como ciência, a integração ainda é muito nova. Devemos lembrar que ela está sendo estudada de forma técnica há pouco mais de uma década, e mesmo com somente 15 anos de estudos científicos o Brasil é líder no tema no mundo.


Por ainda ser uma ciência que está “engatinhando”, ainda temos muitas interações, especificações, e muitas diversidades locais, regionais, que precisam ser melhores estudadas para que dados mais confiáveis possam ser gerados.


Somado à falta de dados, também enfrentamos o problema de falta de mão de obra capacitada. Ou seja, faltam especialistas e consultores técnicos. Em Mato Grosso temos cerca de 30 consultores e olha que nosso estado é um dos que mais trabalham na captação desses técnicos...


Scot Consultoria: Qual tipo de integração é a mais presente no Brasil atualmente? Integração lavoura-pecuária (ILP)?  Lavoura, pecuária e floresta (LPF)?  Pecuária e floresta (IPF)? Lavoura e floresta (ILF)?


Flávio Jesus Wruck:  ILP é o tipo de integração mais adotada pelo pecuarista brasileiro, certa de 83% das áreas ocupadas com algum tipo de integração são compostas pelo consórcio de lavoura com pecuária. Essa integração não é a mais complexa, é intermediaria, no caso, seria a segunda mais complexa.


Em níveis de dificuldade de adoção, primeiro temos a LPF, seguida da ILP e em terceiro lugar a IPF. A IPF tem um potencial enorme de crescimento, falta um pouco de conhecimento técnico sobre essa cultura, porém precisamos explorar mais no Brasil a indústria da madeira. Nós exploramos muito pouco esse potencial que nós temos. É possível explorá-la como floresta energética ou na produção civil.


Mas um fator que dificulta a expansão desse tipo de atividade é o mercado mais restrito e indefinido, isso espanta um pouco nossos produtores de investir no sistema florestal.


Scot Consultoria: Quais regiões do Brasil mais adotam essa tecnologia e quais têm maior potencial de crescimento?


Flávio Jesus Wruck:  Mato Grosso do Sul é o estado que tem mais áreas de ILPF (2 milhões de hectares), em segundo lugar vem o MT com 1,5 milhões de hectares e em terceiro lugar o Rio Grande do Sul com 1,4 milhões. Só que em área percentual o RS tem quase 20% da área com ILPF e no MS não chega a 5%. O Centro-Oeste tem mais áreas agricultáveis, por isso é a região que tem mais potencial de aumentar as áreas com ILPF.


Scot Consultoria: Qual consórcio é mais benéfico com a madeira? A pecuária ou a lavoura?


Flávio Jesus Wruck:  Depende muitos das condições do solo e do clima da região. E como estamos falando de benefícios não podemos esquecer também o lado econômico, o mercado local influencia muito, logo, fica muito difícil avaliar qual é o mais ou menos benéfico.


Precisamos falar também que o sucesso de qualquer tipo de estratégia depende muito do capricho e cuidado do produtor, isso não é a EMBRAPA nem as universidades que ensinam, isso é inerente à pessoa, à fazenda e à propriedade.


Por todos esses motivos é difícil avaliar quais são as integrações mais ou menos benéficas, o que eu posso afirmar é que em todos os nossos trabalhos, tanto os indicadores técnicos como econômicos, mostram que os sistemas integrados são mais interessantes que os sistemas solteiros.


Scot Consultoria: Para finalizar, para qual caminho está seguindo as novas pesquisas da Embrapa, quais são nos novos focos das pesquisas?


Flávio Jesus Wruck: Na área de integração ILP a EMBRAPA e outras instituições de ensino, estão buscando muito a questão de construção de perfil de solo, esse é nosso grande foco. Nós precisamos melhorar os perfis do solo, reduzir o input de substâncias químicas e aproveitar mais a reciclagem de nutrientes e a fixação biológica do nitrogênio.


Isso está sendo consolidado com os consórcios de segunda safra, ao invés de retirar a soja e colocar somente capim, nós estamos procurando consorciar o capim com outras espécies, com leguminosas ou crucíferas, por exemplo. Pois assim podemos melhorar o perfil do solo.


 A ideia é fazer o sistema trabalhar para o sistema.


Para cada situação indicamos um tipo de consórcio, por exemplo, para problemas com nematoides, indicamos crotalária, para problema com compactação do solo podemos indicar mato forrageiro ou com feijão guandu, e se a demanda for aumentar o teor de proteína bruta na comida podemos fazer o consórcio com feijão cuabi e assim por adiante... Os resultados são muito promissores, mas precisamos de mais tempo e de mais pesquisas.


Nas integrações que tem o elemento florestal, nós estamos buscando novas espécies com potencial para integrar, buscando novas arquiteturas de plantas e procurando as configurações indicadas para cada situação.



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