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Scot Consultoria

“O mais barato dos investimentos é o em melhoramento genético”


Sexta-feira, 22 de setembro de 2017 - 06h05

Foto: https://www.comprerural.com


Durante o Encontro de Criadores da Scot Consultoria, que acontecerá dias 2 e 3 de outubro, em Ribeirão Preto-SP, o professor de melhoramento animal da USP, José Bento Ferraz, comentará sobre melhoramento genético e reprodução animal, quais fatores ligados a essas características mais afetam a produtividade do rebanho e como definir quais animais deverão ser selecionados para reprodução.


Dentro desse contexto, como a genômica pode colaborar com o progresso do valor genético do nosso rebanho?


A seguir, temos uma palinha sobre o que José Bento falará durante sua palestra no Encontro, confira a entrevista e não perca os últimos dias de desconto na inscrição, que acaba dia 22/9! Acesse https://www.scotconsultoria.com.br/encontros/ ou inscreva-se pelo telefone 17 3343 5111.


Scot Consultoria: Professor, durante sua palestra, o que será abordado sobre DEPs genômicas?


José Bento Ferraz: Abordarei de que forma a DEP genômica ajudará o melhoramento genético na acurácia de um touro melhorador e no intervalo de gerações. Mas, é importante encarar a genômica com bastante precaução!


Ela traz três impactos primordiais para o sistema de produção, o primeiro deles é que corrige os erros de pedigree. Esses erros são normais e acontecem em todas as espécies de animais, inclusive nos humanos, por várias razões, primeiro porque podem ocorrer erros mesmo e, segundo, porque não existe inventário de sêmen que dê certo, sempre sobra ou falta alguma coisa, isso quer dizer que alguém usou o sêmen errado!


Isso acontece, principalmente, porque as inseminações ocorrem, normalmente, no final da madrugada, no escuro, sem muito padrão de qualidade e, muitas vezes, os inseminadores não possuem qualificação técnica suficiente, dessa maneira, erros de identificação de inseminação sempre acontecem.


Em segundo lugar, também são recorrentes problemas para identificar qual foi o touro que cobriu a vaca, pois é comum animais “pularem a cerca”. Ou seja, acontecem muitos erros de paternidade.


E, em terceiro lugar, a maternidade é quase sempre atribuída para vaca que traz o bezerro para o curral e, muitas vezes, neste momento a cria está com outra vaca.


Sendo assim, os pontos de erros de pedrigree são vários e a genômica pode nos auxiliar a corrigir isso. Além disso, a genômica pode trazer uma nova informação para certa característica e isso tem um impacto muito grande na acurácia.


Nossos dados indicam que muitas vezes temos um aumento para até 70,0% na acurácia só devido ao uso da inclusão da genômica na análise. Já a acurácia somente por análise de pedigree está ao redor de 25,0%, dependendo da característica e da herdabilidade da mesma.


Quando usamos a genômica, a acurácia pode dobrar, ficando equivalente a de um touro que tem 25 filhos, por exemplo, e isso é muito importante porque você passa a ter riscos na escolha de material genético menores.


Quando você escolhe um touro de alto valor genético, o risco desse valor mudar quando vierem mais informações é menor e isso é genial porque diminui o intervalo de gerações.


E o ganho genético é dado por uma equação onde a acurácia está no numerador e o intervalo entre gerações está no denominador, ou seja, o ganho é em cima e em baixo! O ganho genético aumenta muito em velocidade quando se utiliza a genômica.


Mas, temos um problema, as equações de predição genômica (DEPs genômicas) são dependentes diretamente da coleta, da quantidade, da qualidade e da seriedade das informações, e isso no Brasil é um problema.


A Associação Brasileira de Angus, há menos de um mês, lançou um comunicado que, a partir de setembro de 2017, todas as DEPs serão assistidas com genômica, mas essa decisão só foi tomada depois que eles ultrapassaram a marca de 450 mil animais genotipados.


A pecuária de leite usa DEPs genômicas há um tempo, mas hoje, considerando Europa e América do Norte, tem mais de um milhão de animais genotipados e nós, no Brasil, ainda temos somente 5 mil, então, esse é um risco muito grande que temos.  


Em suma, a DEP Genômica auxilia fortemente no melhoramento genético aumentando a acurácia e diminuindo o intervalo entre gerações, atuando nos dois lados da equação de ganho genético, mas a qualidade dessas informações depende da quantidade de animais e da qualidade das informações.


Scot Consultoria: O senhor acredita que a pecuária brasileira já faz o “arroz com feijão” e já tem a base necessária para investir e obter ganhos com o melhoramento genético?


José Bento Ferraz: Não! A pecuária brasileira é muito amadora, muito tradicionalista, improdutiva e não adota tecnologia.  Um rebanho que tem taxa de desmame de 65,0% está “quebrado”, esse índice zootécnico não paga as contas e o desmame médio da pecuária brasileira é de 65,0%! Ou seja, nossa pecuária tem um potencial incrível porque tem condições climáticas e ambientais favoráveis e tem um baixo custo de produção, mas ela não aplica toda a tecnologia que temos disponível.


O pecuarista precisa fazer conta e encarar a fazenda como uma empresa e parar de ser tradicionalista, extrativista e explorador para começar a trabalhar com técnica.


O brasileiro não está fazendo o básico em nutrição, em sanidade (as perdas com doenças reprodutivas são terríveis e já existe vacinação para prevenir esse tipo de doença), em bem estar etc., ou seja, o Brasil está extremamente atrasado no “arroz com feijão”, nas causas não genéticas, com isso, é bobagem investir em genética para quem não resolve o problema do ambiente!


Investir em genética antes de arrumar os fatores ambientais da fazenda (nutrição, sanidade, bem estar, manejo etc.) é jogar dinheiro fora e o inverso também é verdadeiro.


Scot Consultoria: Quanto o investimento em melhoramento genético pode afetar a rentabilidade de uma fazenda, professor? O senhor acredita que esse mercado ainda é pouco explorado no Brasil?


José Bento Ferraz: O Brasil possui ao redor de 75,0 milhões de vacas e isso significa algo como 3,0 milhões de touros, fazendo reposição de 20,0% precisaríamos de 60.000 tourinhos para reposição por ano, se tomarmos todos os touros PO, de todas as raças, mais os touros CEIP, vendemos cerca de 35.000 touros por ano que passaram por alguma avaliação genética.


Isso significa que atendemos 6,0% do mercado e os outros 94,0% são touros cabeceira de boiada. E a diferença de preço entre um touro avaliado para um touro cabeceira de boiada é, em média, de R$4.000,00. Esse retorno você pode recolher no primeiro ano só com a diferença de produtividade dos bezerros.


O investimento em melhoramento é o mais barato do mundo, em primeiro lugar porque você já o paga no primeiro ano quando os produtos da primeira estação de monta desmamam, em segundo lugar você permanece por muito tempo com a genética no rebanho e em terceiro você fica com as fêmeas melhoradas no rebanho, fêmeas essas que irão substituir as vacas e os ganhos são perpetuados, se o trabalho for bem feito, ao longo de 10 anos é possível mudar completamente a fazenda.


Uma coisa interessante que aconteceu este ano foi que todos esperavam uma quebradeira geral do mercado por causa dos problemas que o abalaram, mas, ao contrário do que se imaginava, quem faz genética direito vendeu tudo em leilões e em preços melhores do que ano passado. Em média, a arroba foi comercializada 20,0% mais cara do que ano passado e isso é muito para uma época de crise. Isso significa que o pecuarista tecnificado compra o que é bom e quem cria gado somente por criar teve dificuldade em vender.


Scot Consultoria: Em sua opinião, professor, o que falta para os pecuaristas investirem em melhoramento genético?


José Bento Ferraz: Falta “culhão”! Falta ele ser empresário, fazer uma análise crítica e saber onde ele está para onde quer ir e qual caminho tem que seguir. Em suma, o empresário tem que responder três perguntas: Quem eu sou? Onde estou? Pra onde vou? O que falta para o sucesso é conhecimento, análise e planejamento.



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