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Scot Consultoria

Entrevista com Teresa Vendramini (Teka), diretora executiva da SRB


Sexta-feira, 10 de março de 2017 - 09h00

Foto: Teka Vendramini, socióloga e diretora executiva da Sociedade Rural Brasileira.


A Scot Consultoria vê a crescente participação das mulheres em todas as atividades do ramo agropecuário, sejam elas como herdeiras, gerentes ou técnicas. Elas estão liderando e conquistando um espaço cada vez maior em meio a um universo predominantemente masculino.


Como homenagem ao Dia Internacional da Mulher (dia 8 de março), entrevistamos Teresa Cristina Vendramini, também conhecida como Teka, que é inspiração para todas as mulheres envolvidas no agronegócio.


Teka Vendramini é paulista, natural de Adamantina, graduada em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Administra propriedades da família no interior de São Paulo e em Mato Grosso do Sul. Além disso, é membro do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA) e recentemente assumiu a diretoria executiva da Sociedade Rural Brasileira (SRB).


Confira a entrevista na íntegra:


1.   Qual a sua ligação com o meio rural? Conta pra gente um pouco da sua história com o setor.


Teka: A minha família está no agronegócio há 80 anos, só tivemos essa atividade durante todo esse tempo. Eu sou a terceira geração depois de meu pai e meu avô, junto com meus irmãos e primos. A minha história é a história de todas as mulheres no agro, não é diferente de nenhuma, dentro do meu nicho, que é a mulher produtora rural, que é herdeira na fazenda. Nossas histórias são muito parecidas, só mudam os locais.


Há oito anos eu herdei uma fazenda que era totalmente arrendada para cana-de-açúcar, era uma fazenda pequena e a usina responsável veio a falência na época. Então eu tive que encarar esse novo desafio, cuidar dessa propriedade do zero e torná-la rentável. Tive que reformar tudo, desde cerca até a genética do rebanho. Hoje faço cruzamento industrial trabalhando com as raças Angus e Tabapuã. Faço ciclo completo de Angus, e também faço terminação de garrotes em semi-confinamento. Levei um tempo para iniciar a produção de Angus, pois precisei estabilizar meu rebanho zebuíno para expressar melhor o potencial genético.


Na época, eu não entendia nada de agropecuária, então, busquei conhecimento através de cursos, workshops e fui me aperfeiçoando, aprendendo.


2. Como você conseguiu superar todas as dificuldades que encontrou Teka?


Teka: Eu busquei o Núcleo Feminino do Agronegócio, pedindo ajuda. O NFA é um grupo composto por mulheres envolvidas no agronegócio com o objetivo de compartilhar informações, trocar experiências, aprender novas técnicas e tecnologias e principalmente, saber se estão no caminho certo.


Após cinco anos como membro do grupo, fui eleita presidente. No entanto, além do Núcleo, eu tenho muito contato com as mulheres. Eu gosto muito de conversar com elas, eu ouço, eu aprendo, é uma via de mão dupla, nós oferecemos e nós recebemos. Hoje o grupo conta com uma nova presidência, mas ainda continuo sendo membro.  A cada grupo que conheço me emociono com as histórias de cada mulher que faz parte do agronegócio brasileiro.


3. Atualmente, qual a sua ligação com o meio rural?


Teka: Em dezembro fui convidada para fazer parte da Sociedade Rural Brasileira, sou a primeira mulher a fazer parte da comissão, em 98 anos, por isso aceitei sem nem pensar. Na primeira reunião me ofereceram um comitê de pecuária Brasil, serei responsável pela estruturação desse comitê. A ideia desse comitê é fazer contato com todos os grupos e associações de pecuária do país e realizar um levantamento a fim de descobrir os desafios e dificuldades mais encontradas na pecuária. O meio rural é extremamente político, assim como o envolvimento da Sociedade Rural Brasileira. Com esse diferencial, conseguiremos realizar as mudanças que desejamos com menos dificuldades.


4. A agropecuária é um universo historicamente masculino. Como as mulheres lidam com isso?


Teka: Essa é a pergunta que mais me fazem. É óbvio que o machismo existe, mas em minha opinião, o pior tipo é aquele que é praticado dentro de casa. O machismo vindo da própria família desestimula a gente. Outro machismo que me incomoda muito também é aquele propagado entre mulheres. É uma competição que não deveria existir, pois deveríamos nos fortalecer juntas. O machismo dos homens deve ser combatido, pois a mulher é novidade. Eu tenho a opinião que nós devemos assumir um andar silencioso até atingir nossas metas e nosso lugar. Quando fazemos um trabalho bem feito, os homens olham e querem ajudar, e isso acaba se tornando um trabalho mútuo.


5. Você acha que cada vez mais as mulheres estão se inserindo ou “escapando” do agronegócio?


Teka: Eu acho que as mulheres já estão no agro há muito tempo. Eu tenho certeza porque eu estou vivendo isso, mas as mulheres ainda demonstram um pouco de timidez. O importante é que os trabalhos que são feitos por mulheres sejam divulgados, para que elas não se sintam sozinhas. Dessa maneira, vão se sentir amparadas, mais fortes e confiantes para “mostrar suas caras” e seus trabalhos no mercado.


Eu acho que hoje, como o Brasil é um país com a economia essencialmente ligada ao agronegócio, quem faz parte, tem orgulho em trabalhar com isso e representar esse valor.


6. Qual o perfil das mulheres que trabalham no agronegócio? Quem são essas mulheres? Onde elas estão no mercado?


Teka: Eu vejo alguns outros núcleos de mulheres no mercado agro, não dá para generalizar. As mulheres do estado de São Paulo e Mato Grosso, por exemplo, são as grandes produtoras, grandes proprietárias rurais que sabem lidar com as adversidades, sabem ultrapassar o machismo e se destacar no mercado.


Existem também as mulheres que já são técnicas, que tem segurança do seu discurso e do seu conhecimento. Existem as mulheres que estão se inserindo no agronegócio porque são herdeiras, algumas inclusive de forma abrupta, devido ao falecimento de familiares da geração anterior. Essas mulheres estão pedalando devagar, estão tentando aprender mais sobre esse setor, são mulheres com histórias parecidas com a minha.


E eu vejo também mulheres recém-formadas saindo da faculdade, que querem se inserir no agro e querem participar assiduamente desse setor, com muita garra e força de vontade para enfrentar todos os desafios que uma mulher enfrenta.


Ter referências femininas na mídia faz com que todas essas mulheres se estimulem e continuem batalhando para conquistar seu espaço nesse setor. Nós temos que mostrar possibilidade para essas mulheres, elas têm que perceber que podemos estar juntas, podemos estar unidas, podemos trocar experiências, trocar vivências, crescer pessoalmente e profissionalmente juntas. Não estamos sozinhas. Minha missão aqui é mostrar que é possível.


7. Para encerrar, quais são os desafios da mulher no agronegócio daqui para frente? Quais são os pontos mais importantes a serem destacados?


Teka: Eu acho que uma premissa muito importante, não só para as mulheres, mas para todo mundo, é o aprendizado constante, é o conhecimento, é o querer se reciclar. Eu acho que o desafio é sempre ter vontade de aprender, ter anseio por informação. Quando você está aprendendo você é jovem eternamente.


Em relação às mulheres eu percebi que o Brasil está repleto de núcleos, associação e grupos destinados às mulheres e o grande desafio delas é se manterem unidas. Realizar um trabalho conjunto e ter cuidado para não segregar. Juntas somos mais fortes. O nosso desafio também é ter coragem para viver o agro, coragem para encarar esse setor seja em qual área for.



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