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Scot Consultoria

Chove ou não chove? Os impactos no mercado do boi gordo


Sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016 - 18h00


Alcides Torres, diretor e fundador da Scot Consultoria, concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva.


Alcides é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP.



Confira a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio: Scot, quer dizer então que o carnaval ajudou a desencalhar o estoque que estava na geladeira do distribuidor de carne no atacado?


Alcides Torres: Na verdade, os estoques não estavam tão grandes assim e bastou um feriado prolongado para dar conta da carne existente. Tanto é que a cotação da carne no atacado, por exemplo, o boi casado, subiu de R$9,50/kg vigente no dia 3, para R$9,80/kg no dia 4 e hoje está em R$9,90. Portanto antes e depois do carnaval.


Sidnei Maschio: Só pra não dar a falsa impressão de que o mundo mudou de repente, de que tamanho era esse estoque que estava na mão do distribuidor atacadista?


Alcides Torres: Saber precisamente é difícil, o indicador de que o volume abaixou, é o preço, termômetro do mercado, são as cotações. O movimento dos compradores, depois do carnaval, oferecendo mais pela arroba do boi gordo, para ter com que produzir carne, digamos assim, indicou a necessidade de recompor os estoques. Os preços subiram, por exemplo, nas praças de Araçatuba-SP, no Triângulo Mineiro, no Sul de Goiás e no Mato Grosso do Sul.


Sidnei Maschio: Considerando o mercado de carne sem osso, que tipo de produto foi mais demandado durante os feriados, e como é que foi a evolução dos preços do traseiro e do dianteiro? 


Alcides Torres: Na semana anterior ao carnaval, os preços praticamente estavam estáveis para traseiro e dianteiro. A crise vigente anula esses incrementos sazonais de demanda.


Na semana seguinte, pequena alta de 0,5% para o traseiro e de 0,4% para o dianteiro. Essas valorizações, em grande parte, são o resultado de redução dos estoques, mais do que de aumento de consumo, já que muitas indústrias operaram na semana do carnaval sem conseguir comprar boiadas. O pecuarista saíra do mercado. Não há muito espaço para ajustes no preço da carne, tanto que as margens das indústrias recuaram, saíram de algo próximo de 27,0% no começo do ano para os atuais 18,5%.


Sidnei Maschio: De qualquer maneira, o preço do boi casado também subiu na semana passada? O que exatamente isso quer dizer, Scot?


Alcides Torres: Subiu, significa que a demanda por carne bovina está firme e que o mercado está aceitando pagar mais pelo produto e ou, que está faltando mercadoria e por isso a cotação subiu. Forças do mercado.

A alta da cotação da carne foi reflexo do carnaval. As altas já tinham perdido força na segunda semana de janeiro, quando os estoques do varejo se recompuseram.


A demanda melhorou pontualmente no carnaval, principalmente traseiro (dianteiro teve até queda de preço).


Na semana após o carnaval a expectativa era de queda, que não ocorreu porque os frigoríficos voltaram do feriado um tanto desabastecidos e, subiram mais 10 centavos/quilo.


Sidnei Maschio: O frigorífico fechou a primeira quinzena de fevereiro com escalas apertadas e procurando boiada para comprar, mas a previsão é de enfraquecimento no consumo de carne, como sempre acontece na segunda metade do mês, não é?  Será que a disposição de comprar boi gordo vai ser a mesma daqui até a próxima virada do calendário?


Alcides Torres: Eu acredito que sim, a oferta não está uma maravilha e desova somente na boca da seca. O mercado está comprador.


Sidnei Maschio: Na maioria das principais regiões de pecuária do país o pasto já está recuperado e não vai ser por falta de capim que o boi não vai engordar. Dá para apostar num aumento na oferta de gado terminado nas próximas semanas?


Alcides Torres: Uma das maneiras de fazer frente ao aumento dos custos de produção é agregar peso, nesse sentido a oferta continuará comedida enquanto as pastagens estiverem nutritivas, mas em relação ao carnaval, sim, a oferta deverá melhorar, principalmente nas praças onde as cotações subiram, mas nada parecido com uma desova.


Sidnei Maschio: Com o carretão andando nessa toada, o que é que vai acontecer nas próximas semanas com a margem de comercialização do frigorífico e como é que isso vai influenciar a negociação do boi gordo na praça?


Alcides Torres: Para o curto prazo, não deverá haver mudança no cenário. Oferta curta, mesmo com as chuvas tendo voltado em janeiro no centro-oeste, norte e nordeste. Já o consumo, ao mesmo tempo, deverá continuar retraído. A inflação continua acima do 1,0% ao mês. As tarifas de transporte público subiram. O poder de compra está abalado.


O espaço para as altas da arroba está se estreitando, por que o consumo não evolui. Ao mesmo tempo, as indústrias mostram resistência em reduzir os preços da carne ao consumidor, já que isso estreitaria ainda mais seus resultados.


Há duas semanas as margens estão variando entre 18,0% e 19,0%, ilustrando esse cenário de briga entre preços da carne e da arroba.


Só para contrapor. Se as chuvas ficarem abaixo do normal neste quadrimestre, como o Inmet projeta, pode ser que essa oferta de bovinos, já pequena, fique ainda menor, e pode ser que o preço da carne descole do consumo.



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