• Quinta-feira, 25 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

A opinião de Alcides Torres sobre custos, gestão e novas tecnologias na propriedade rural


Sexta-feira, 18 de setembro de 2015 - 07h00


Alcides Torres, diretor-fundador da Scot Consultoria, onde coordena as atividades gerais relacionadas à cadeia pecuária de corte, de leite, grãos e insumos agropecuários, concedeu entrevista ao programa DBO na TV, no Terra Viva, com coordenação do jornalista Sidnei Maschio.


Leia a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio - DBO: Scot, eu vou começar com uma pergunta que fica batendo na cabeça de todo pecuarista que precisa investir em tecnologia. O que é que é mais importante, aumentar a produção, controlar o custo ou arrumar um jeito de combinar as duas coisas?


Alcides Torres: O mais importante é ter lucro. Uma atividade econômica sem lucro não tem sentido. Aumentar a produção, controlar custos ou combinar esses dois fatores são ferramentas de gestão para aumentar o lucro. Ressalto, no entanto, que a pecuária brasileira tomou o rumo da profissionalização e o pecuarista que não se modernizar, não terá futuro. Todos os fenômenos sociais que influenciam a pecuária a conduzem nessa direção. Restrição à expansão territorial rural em função das leis ambientais draconianas, aumento das taxas, aumento dos preços controlados, leis trabalhistas e concentração de compradores.


Sidnei Maschio - DBO: Como é que o uso de tecnologia pode influenciar o custo de produção nas fazendas mais modernas e naquelas que trabalham com um sistema mais tradicional de produção?  


Alcides Torres: A tecnologia somente se justifica se promover um resultado econômico, do contrário é preferível manter o sistema de produção vigente. Neste sentido é preciso calcular o benefício que o custo da aplicação da tecnologia propiciará. Se o benefício for maior que o custo, por que não adotá-lo? Quanto ao sistema tradicional, é preciso definir o que é tradicional. Se o tradicional a que se refere é a exploração extensiva, retrógrada, essa se extinguirá por si. Isso está acontecendo há pelo menos duas décadas. Mas se o sistema tradicional for o de um fazendeiro comedido, rigoroso e que faz contas, tanto para a fazenda dele como para uma fazenda fundamentada em engenharia agronômica de ponta, a tecnologia bem dosada somente faz bem.


Sidnei Maschio - DBO: Fazia muito tempo que a pecuária de corte não passava por um período assim tão longo de preços muito favoráveis ao fazendeiro, mas a gente não pode esquecer que os ciclos da atividade não foram revogados e continuam existindo. Não é o caso de ser pessimista, mas como é que isso deve influenciar o planejamento dos investimentos que pecuarista vai fazer?


Alcides Torres: É verdade, fazia muito tempo que isso não acontecia, desde o advento do Plano Real, os preços pecuários nunca estiveram tão bons. E, é verdade também que os ciclos de preços existem. Estamos vivendo a fase de alta do ciclo de preços pecuários e esse fenômeno deverá perder força em um ou dois anos, se algo muito dramático não acontecer. Com relação ao planejamento, conhecendo o ciclo é possível estabelecer estratégias de compra, por exemplo. Se vende a desmama. Comprar boi magro na alta para vender na baixa torna a atividade dolorosa.


Sidnei Maschio - DBO: Além dessa questão dos ciclos de alta e de baixa da nossa atividade, o pecuarista também tem que levar em conta o tempo de retorno do seu investimento, que varia de dois a três anos. E se o mercado virar de ponta cabeça entre o nascimento ou a compra do bezerro e a venda do boi gordo?


Alcides Torres: Pois é, saber sobre o ciclo de preços pecuários permite estabelecer essas estratégias e mesmo definir se em um determinado período será melhor o ciclo completo, a recria ou somente a engorda. Pode-se, por exemplo, definir se o rebanho a engordar será de machos ou de novilhas.


Sidnei Maschio - DBO: A gente fala em mercado da pecuária, mas o certo seria por a palavra no plural, porque na verdade o fazendeiro trabalha em vários mercados, como o do bezerro, o do boi magro, o da arroba, e isso sem contar os insumos. Como é que o vivente junta isso tudo num planejamento só, Scot? 


Alcides Torres: A pecuária de corte, ao contrário do que se apregoa, é uma atividade complexa e que exige muito do fazendeiro, do empreendedor e do seu time. O treinamento ajuda, mas é preciso talento. Apesar disso, não considero a exploração pecuária, com toda a sua complexidade, diferente das demais atividades humanas, mas é, sem dúvida, umas das mais nobres, pois em seu bojo carrega ocupação do solo, desenvolvimento, consumo de tecnologias ou ciência, desenvolvimento humano, progresso, respeito à natureza, bem estar animal e produção de alimento nobre e nutritivo, que melhora a condição de vida do cidadão. Aliás, todo o produtor rural e todo o trabalhador rural deveria ser saudado com respeito.


Sidnei Maschio - DBO: Nos últimos dois anos o preço do bezerro subiu muito mais do que a arroba do boi gordo no Brasil, prejudicando o poder de compra do invernista e também a capacidade de reinvestimento do criador. Isso não é uma enorme pedra no caminho de quem quer melhorar a qualidade do seu gado?


Alcides Torres: Não, não é. Como dissemos, vivemos um momento excepcional. Toda a cadeia está se locupletando. Não vejo por que o criador deva pagar por isso. Já passamos por momentos em que o bezerro nada valia. Uma fazenda pecuária não é construída do dia para a noite. Leva-se anos nisso. Um bom planejador certamente sabia que os preços subiriam, só não saberia dizer quanto, mas saberia que o cenário mudaria de cor. Melhorar a qualidade do rebanho é um processo de anos e não serão os preços vigentes nesses últimos 24 meses que interferirão nisso. Aliás, o que assistimos é justamente o contrário, um forte investimento no setor. As vendas de tourinhos vão bem, as vendas de sêmen vão bem e o simples ato de reter uma matriz para a produção de bovinos para a reposição do rebanho é uma demonstração cabal de investimento, de fé na atividade.


Sidnei Maschio - DBO: Considerando a situação atual dos preços do bezerro e do boi gordo, a oferta de animais nestes mercados e ainda a demanda nacional e internacional por carne, qual é o conselho que você daria para o pecuarista brasileiro hoje?         


Alcides Torres: Nossa, são tantos os conselhos a dar, tantas oportunidades a serem aproveitadas..., mas penso que a pecuária de corte no Brasil tende a ser a mais importante do globo e que o nível de riqueza que ela agregará à nação será tão grande que fará sombra à cafeicultura e à sojicultura, por exemplo, e superará outras cadeias de produção do agro. Diante desse cenário favorável para a pecuária, nada melhor do que ser pecuarista. Aconselharia ao fazendeiro a ficar na pecuária e evoluir conforme as demandas da modernidade, composta pela tecnologia, informação, mercado, produtividade, organização e principalmente representação e propaganda. O mundo está faminto e não há nada melhor do que atenuar a fome com carne bovina. Carne bovina brasileira, de boiadas brasileiras.



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja