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Scot Consultoria

Giuliana Nogueira - Commodities da BM&F Bovespa


Sexta-feira, 1 de junho de 2012 - 15h59

Giuliana Nogueira é zootecnista formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP-Botucatu). Atua na área de produtos do agronegócio, junto à Diretoria de Commodities da BM&F Bovespa.

Scot Consultoria: Qual a diferença de uma operação de hedge e uma operação "especulativa" no mercado futuro? E qual é a importância dos especuladores?

Giuliana Nogueira: Hedge, ou fixação de preços, é uma operação feita com o objetivo de mitigar riscos. Todo produtor, indústria, banco ou fundo está exposto ao risco de oscilação de preços, seja de uma commodity agrícola ou de taxa de juros. Por exemplo, um pecuarista que já definiu seu fluxo de abate até o final do ano, que tenha seu custo de produção da arroba na ponta do lápis, mas não sabe qual vai ser o preço do boi em novembro, quando ele vai abater os animais. Ele consegue fixar o preço de venda da arroba dele hoje (em maio) para novembro. Dessa forma, minimiza o risco dele, que, neste caso, é de queda de preços, além de garantir sua rentabilidade de forma antecipada.

Já o especulador não tem o ativo no físico. Este efetua a operação financeira com o objetivo de obter lucro, correndo o risco de, eventualmente, perder dinheiro. Na operação de hedge não há riscos de perda de capital, já que existe o ativo no físico, que neste exemplo, é o boi gordo. O especulador tem fama de vilão no mercado financeiro, mas esta é uma ideia bastante equivocada. Os especuladores são muito importantes para proporcionar liquidez aos mercados.

 

Scot Consultoria: Em sua opinião, por que o número de pecuaristas que usam ferramentas de mercado futuro ainda é relativamente pequeno? A BM&F Bovespa tem adotado alguma medida para tentar reverter esse quadro?

Giuliana Nogueira: Essa é uma questão cultural e de tempo. O mercado futuro brasileiro ainda é muito novo, se comparado ao dos Estados Unidos, por exemplo. Lá eles já utilizam esse tipo de ferramenta para gestão de risco há muito tempo, já estão acostumados e conhecem o mecanismo e os benefícios que o hedge traz para sua atividade. No Brasil, ainda existe uma falta de conhecimento sobre as ferramentas financeiras existentes e ainda há muita ideia errada sendo difundida sobre os derivativos.

O papel da BVM&F Bovespa neste contexto é difundir o uso de derivativos e fomentar esse mercado, através de eventos, divulgação de informações e educação. Para isso, o Instituto Educacional BM&F Bovespa disponibiliza uma ampla variedade de cursos sobre o assunto e ações individuais são realizadas para tentar atingir um maior número de pessoas, como treinamentos para as empresas e divulgação dos contratos. Existe também uma iniciativa de popularização chamada "BM&F BOVESPA Vai até Você", em que a bolsa passa por várias cidades do Brasil dando palestras educativas sobre educação financeira e os produtos existentes.

 

Scot Consultoria: Quais são as principais dúvidas que os pecuaristas ainda têm sobre o mercado futuro?

Giuliana Nogueira: Ainda há um grande desconhecimento sobre a utilização do mercado futuro de commodities agrícolas. Mas acredito que a principal dúvida é de como utilizar os derivativos para fazer a fixação de preços futuros e de qual é o procedimento para utilizar os produtos que a bolsa oferece. Ainda existe muita dúvida sobre o risco de diferencial de base, que acontece quando um produtor ou frigorífico quer fixar preço em uma praça pecuária diferente da do contrato futuro, que no caso utiliza São Paulo como referência, através do indicador ESALQ/BM&F Bovespa.

O diferencial de base é a diferença de preços entre São Paulo e as outras praças. Por exemplo, um pecuarista no Mato Grosso do Sul, normalmente negocia o preço da arroba de boi gordo com um deságio sobre os preços praticados em São Paulo. Caso ele queira efetuar um hedge de venda através do mercado futuro, ele tem que estimar historicamente, qual o valor médio dessa diferença nos últimos anos. Portanto, ele pode chegar à conclusão de que essa diferença no período analisado foi de R$6,00/@, em média (preço de SP - preço no MS). Supondo que ele queria efetuar um hedge para outubro/2012 e o mercado aponta para uma arroba a R$103,00 neste vencimento em SP, no MS, considerando o diferencial de R$6,00/@, esse valor equivaleria a R$97,00/@.

 

Scot Consultoria: Você acredita que os corretores estão preparados para atender, explicar e orientar os pecuaristas no uso de ferramentas de mercado futuro? A linguagem adotada, com termos como "call", "put", "hedge", "spread", entre outros, não cria certa barreira?

Giuliana Nogueira: Os corretores estão preparados para atender os pecuaristas e são fundamentais para os clientes. São eles que ajudam a entender todos estes aspectos técnicos e a tomar a decisão de como operar na Bolsa. O corretor funciona como um grande consultor dos produtores, sendo a conexão entre os clientes e a Bolsa. A linguagem adotada às vezes pode criar certo tipo de barreira, mas há maneiras muito eficazes de torná-las mais acessíveis. Dessa forma, a Bolsa vem trabalhando fortemente em cima de ações educacionais com o intuito de popularizar a informação.

 

Scot Consultoria: A BM&F Bovespa tem alguma ação ou produto novo para ser lançado no mercado? Quando?

Giuliana Nogueira: Foi lançado um novo contrato de soja, o contrato futuro de Soja com Liquidação Financeira pelo preço do Contrato Futuro Mini de Soja do CME Group (Chicago Mercantile Exchange), o qual visa a atender à demanda de diversos agentes do mercado da soja que possuem dificuldade de operar em bolsas no exterior.

A partir de 11 de junho, este contrato poderá ser operado diretamente na BM&F Bovespa. O objetivo desta parceria com a bolsa de Chicago é ter acesso ao contrato de soja que é operado lá e é referência mundial de formação de preços desta commodity.

Com esta iniciativa, a BM&F Bovespa facilitará o travamento do prêmio de exportação, que será a diferença entre o preço doméstico e o preço internacional. Além disso, garantirá a possibilidade de negociação antecipada do prêmio de exportação. Para isto, basta negociar o contrato futuro de soja Paranaguá e o contrato da CME, ambos negociados no Brasil, na BM&F Bovespa.

A negociação feita aqui no Brasil traz uma série de vantagens, como o depósito das margens de garantia e o pagamento dos ajustes diários, em reais, sem a necessidade de se ter uma estrutura no exterior para operar o contrato. O participante faz suas operações na BM&F Bovespa e as posições são diariamente ajustadas com base no preço de ajuste do contrato de soja da CME. A liquidação continua sendo financeira.


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