• Sexta-feira, 29 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

José Francisco da Cunha - Tec-Fértil


Sexta-feira, 2 de março de 2012 - 10h20

José Francisco da Cunha é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP. É sócio-diretor da Tec-Fértil. Desenvolve ferramentas para o setor agrícola como os programas para a otimização de adubação e fabricação de fertilizantes com custos mínimos (FERTISOLVE), para a gestão integrada de propriedades agrícolas com controle de fertilidade do solo, análises foliares, DRIS e gerenciamento da propriedade (AGROPRECISA) e para controle e interpretação de análises foliares (SISFOLHA). Scot Consultoria: Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), as vendas de fertilizantes foram recordes em 2011, amparadas pelo bom momento das commodities, principalmente milho e soja. As perspectivas iniciais dão conta de um cenário favorável também em 2012. Acredita que este ano os preços dos fertilizantes podem bater novo recorde de venda? Os preços podem subir como o ano passado? José Francisco da Cunha: Além das culturas de soja, milho e café que receberam mais investimentos para melhorar a produção, a cana-de-açúcar também foi responsável pelo aumento devido ao maior consumo pela necessidade de recuperação dos canaviais. Embora o cenário não seja tão favorável como em 2011 visto que os preços das commodities estão em baixa, os custos aumentaram e ainda paira uma incerteza com o rumo da economia mundial. Para este ano, a perspectiva é de consumo igual a 2011. Alguns mercados podem retrair o consumo, pois os fertilizantes iniciaram este ano bem mais caros que no início do ano anterior e com uma menor pressão na demanda. Dessa forma, os preços dos fertilizantes perdem o fôlego para aumentos significativos. Houve uma redução de preços em alguns fertilizantes como a ureia e o MAP, mas é possível que se recuperem ao final do primeiro trimestre, devido ao aumento na demanda do hemisfério norte. Porém, os aumentos devem ser pequenos, pois já consomem uma parcela da receita dos agricultores acima da situação histórica para algumas culturas. Scot Consultoria: Ainda tratando da importação de fertilizantes, existe alguma possibilidade - estudo de jazidas, locais em potencial para serem explorado -, do Brasil aumentar a porcentagem de produção própria de fertilizantes, diminuindo a dependência de outros países? José Francisco da Cunha: Este é um processo muito lento e o consumo tem aumentado mais do que os investimentos feitos. Seria melhor falarmos em partes: Para o nitrogênio, o principal recurso necessário é o gás natural e com um custo baixo como obtido na Europa oriental e oriente médio, estas regiões lideram a produção mundial. Aqui no Brasil os investimentos anunciados pela Petrobrás serão praticamente neutralizados pelo aumento do consumo até o início da operação destes novos investimentos: 303 mil t de sulfato de amônio ao final de 2013 (em 2011 as importações aumentaram 325 mil toneladas com relação a 2010) e 1,81 milhões de toneladas de ureia em 2014 e 2015. Entretanto, em 2011 as importações de ureia foram superiores a 3,01 milhões de toneladas e, certamente até 2015, será maior o consumo. O empresário Eike Baptista demonstrou interesse em investir na produção de fertilizantes nitrogenados, partindo do gás descoberto pela EBX para produzir 3,0 milhões de toneladas de fertilizantes nitrogenados. É necessário constatar se não é somente um balão para alavancar seus investimentos. Para os fosfatados, temos recursos minerais suficientes para aumentar a produção e existem novos projetos entrando em operação até 2015, que devem reduzir a dependência de importações. Estímulos a outros projetos, parados no momento, como a expansão da Copebrás, poderiam garantir a auto-suficiência. Mas é necessária também uma política tributária mais justa com a produção nacional, que paga ICMS para o fertilizante mudar de estado mas a importação não tem tributo para chegar ao local da sua distribuição. A soma de outros tributos sobre a produção também é elevada, tira a competitividade e torna os investimentos mais arriscados. Se os preços internacionais caírem, como será garantida a remuneração para os produtores internos, sem que seja um apenas um protecionismo e penalize o consumidor mantendo um preço injusto em comparação com os produtores agrícolas de outros países, que são seus concorrentes? Outro aspecto é que, embora existam recursos minerais suficientes, eles são finitos e a pergunta seria: é melhor utilizá-los o mais rápido possível e diminuir a dependência no curto prazo ou é melhor ter reservas para quando estiver mais escasso ainda? Com relação ao potássio, a situação é mais crítica. Indicam-se jazidas em Sergipe e na Amazônia, mas os investimentos são altos e demoram. A própria viabilidade técnica pode ser colocada em dúvida para a exploração destes recursos. Certamente existem projetos para a produção, mas precisamos ver maturar estas promessas e, além disso, o consumo é alto e a dependência do país é maior que 90%. Existem alternativas não tradicionais como a produção a partir do verdete ou dos fonolitos, mas estes produtos ainda precisam comprovar a sua eficiência e apresentarem custos competitivos para serem distribuídos em maiores distâncias, além de representarem um volume pequeno da demanda pelo nutriente. Ainda temos o enxofre, que é totalmente importado e essencial para a cadeia industrial dos fosfatados. Com relação aos micronutrientes, não temos um fornecimento regular, equilibrado e justo. Scot Consultoria: É possível estimar em que proporção o preço dos fertilizantes afetam o custo da safra? José Francisco da Cunha: Sim. Para cada cultura nós temos um consumo típico e o acompanhamento do preço do produto poderá ir revelando como está a situação. O método mais usado é calcular a relação de troca, onde dividimos o valor do fertilizante pelo valor do produto. Para o café, por exemplo, o produto mais utilizado é a fórmula 20-05-20 e podemos verificar quantas sacas são necessárias para comprar uma tonelada do fertilizante. Também pode ser usada uma “cesta” de produtos. Para as culturas de grãos como soja ou milho, devemos esperar que os fertilizantes utilizem menos de 15% da receita prevista. Scot Consultoria: A utilização de fertilizantes nas lavouras é crescente. Como tem sido nas pastagens? Tem melhorado o nível de utilização? É possível estimar o ganho em produtividade de uma pastagem adubada? José Francisco da Cunha: Os pecuaristas ainda não perceberam o retorno que a fertilização e recuperação das pastagens podem proporcionar pelo aumento de desempenho e intensificação do uso da terra. Os resultados da integração lavoura-pecuária são visíveis e deveriam servir de exemplo de produtividade para o pecuarista. No sistema somente de pasto, inicialmente o investimento pode ser maior, pois é necessário fazer a calagem e eventualmente utilizar micronutrientes e ainda o custo do fertilizante em maior quantidade e de sementes, mas a manutenção do sistema tem custo muito baixo, pois a extração de nutrientes é pequena. Apesar disso, o retorno destes insumos é direto e também podem proporcionar economia de outros, como sal mineral, já que a pastagem irá fornecer mais nutrientes. Provavelmente o maior gargalo para um maior uso de fertilizantes nas pastagens seja o investimento inicial e ainda a disponibilidade de terras para acomodar todo o rebanho, mesmo que com baixa produtividade. Mas se o pecuarista enxergasse a sua propriedade em “pedaços” e não como uma grande área que demanda um grande valor para o investimento, ele poderia se encorajar para melhorar as pastagens, trabalhando em 10% da propriedade por ano por exemplo.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja