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Scot Consultoria

Ocimar Villela – Instituto ARES


Segunda-feira, 3 de janeiro de 2011 - 13h48

Graduado em zootecnia pela Faculdade de Zootecnia de Uberaba-MG, ocupou posições gerenciais em Pecuária, Meio Ambiente e Agricultura na Fundação Bradesco, Fazendas Rubayat e nos últimos 15 anos trabalhou no Grupo André Maggi, onde implantou o sistema de gestão socioambiental e articulou parcerias importantes com ONGs locais, regionais e internacionais. Auxiliou na estruturação da RTRS – Mesa Redonda da Soja Responsável, tendo sido eleito vice-presidente na gestão de constituição da iniciativa e participou de forma efetiva na estruturação da Moratória da Soja. Atualmente é presidente do GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, diretor de sustentabilidade do MARFRIG e superintendente do ARES –Instituto para o Agronegócio Responsável. Scot Consultoria: Para começarmos, como foi criado o instituo ARES e de que forma tem trabalhado em prol de um agronegócio responsável e sustentável? Ocimar Villela: O Instituto ARES foi criado em 2007 por um grupo de 19 associações do agronegócio brasileiro como uma iniciativa pró-ativa para coordenar ações para o desenvolvimento responsável do setor. O ARES é uma entidade sem fins lucrativos, dedicada à geração e difusão de conhecimento sobre sustentabilidade relativo ao agronegócio. O Instituto participa de ações como a Moratória da Soja, o GTPS e o Programa Soja Plus. Entre os projetos que estão em andamento, está o Campo ao Mercado, que trabalha para criar indicadores das cadeias produtivas que servirão para analisar a sustentabilidade dos processos produtivos e darão fundamentos para influenciar políticas públicas e privadas, assim como para orientar investimentos. Scot Consultoria: Quais os reais avanços que o agronegócio brasileiro tem dado no sentido de se tornar cada vez mais sustentável? Ocimar Villela: A preservação dos recursos naturais está associada diretamente ao aumento da produtividade. O uso de boas práticas agrícolas, associadas ao melhoramento genético, possibilitou que o País aumentasse a produção sem crescer significativamente a área plantada. Com as novas técnicas de produção, a expansão da área de lavoura se dá sobre áreas já antropizadas, como áreas de pastagens, o que reduz a pressão de desmatamento. Novos conceitos foram desenvolvidos e são amplamente utilizados, como, por exemplo, o plantio direto, que permitiu a redução da erosão do solo, aumento da capacidade de retenção de água e do teor de carbono fixado no sistema produtivo. Também pode ser citada a ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que maximiza a utilização da propriedade, aumenta a produtividade e melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. O desenvolvimento do etanol de segunda geração é outro avanço muito importante. Existem também diversas ações voltadas à sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Podem ser citadas a Moratória da Soja, que é um acordo entre indústria e produtores para não se comercializar soja advinda de regiões desflorestadas dentro do Bioma Amazônico; o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro, que prevê a antecipação do prazo para o fim das queimadas na cana-de-açúcar; o GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, que trabalha para criar princípios e critérios para o desenvolvimento da atividade entre muitas outras iniciativas. O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) também merece destaque, sendo que o Brasil é modelo mundial no recolhimento e processamento de embalagens utilizadas de agrotóxicos. Scot Consultoria: Como você avalia a atual legislação ambiental brasileira e as propostas de reformas que estão sendo pregadas? Ocimar Villela: A legislação ambiental brasileira é uma das mais fortes e restritivas do mundo, sendo que muitas vezes se torna impossível de ser cumprida da forma como está colocada hoje. Especialmente no caso dos pequenos proprietários, que são os maiores afetados, as mudanças são necessárias, e creio que as novas propostas são muito coerentes, embora ainda existam alguns aspectos a serem discutidos. Acredito que através de estudos e da fundamentação em critérios e conhecimentos científicos se possa obter um novo código, que seja apropriado tanto no ponto de vista ambiental, como no lado da produção. Scot Consultoria: Como você avalia as diversas críticas que a pecuária nacional vem sofrendo, em relação a “falta” de sustentabilidade? Ocimar Villela: Foi criada uma imagem negativa da atividade, que não corresponde a realidade. Muitas das censuras que a pecuária nacional vem sofrendo são devidas à pressão de interesses externos. Estudos que não eram adaptados a realidade brasileira levaram a várias das críticas referentes às emissões de carbono pela pecuária. A dificuldade em se obter dados e as metodologias incertas contribuíram para este cenário. Novos estudos estão sendo realizados e leva em consideração aspectos como a retenção de carbono por pastagens bem conservadas, diferença de emissão da fermentação entérica em função da dieta, entre outros aspectos de manejo. Os resultados começam a mostrar uma situação diferente da que costuma ser divulgada. Nos últimos anos, houve redução de área de pastagens e diminuição do rebanho. Os ganhos genéticos foram enormes, e as boas práticas de manejo vêm se desenvolvendo. Temos a possibilidade de criação tanto a pasto como em confinamento ou semi-confinamento e excelentes condições climáticas. O Brasil é com certeza o país com a melhor conjuntura para atender a crescente demanda mundial por proteína animal. Com investimento em infra estrutura, políticas adequadas de meio ambiente, financiamento e uso de tecnologia, o país com certeza pode atender as exigências de apresentar uma pecuária extremamente sustentável e ainda oferecer um produto de qualidade a baixo custo. Scot Consultoria: O que define como sustentável? Ocimar Villela: Para o agronegócio ser sustentável tem que ser considerada toda a cadeia. Ser sustentável é fazer o melhor uso possível da terra, obtendo a maior produção possível sem comprometer os recursos naturais e humanos. Sustentabilidade é realizar as boas práticas de produção, evitar desperdícios e ter a logística mais adequada, com a menor emissão possível. Ser sustentável é garantir a viabilidade da produção, a qualidade de vida, e ao mesmo tempo assegurar a proteção ambiental, de maneira que este cenário possa permanecer por um grande período de tempo.
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