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Scot Consultoria

Paulo Reimann – Gelita South America


Segunda-feira, 10 de março de 2008 - 16h50

Engenheiro químico, 48 anos, Presidente da Gelita América do Sul. A Gelita tem 130 anos, de capital alemão, líder de mercado de gelatinas nos segmentos alimentício, farmacêutico e fotográfico. Scot Consultoria: Paulo, para os nossos leitores entenderem, qual é a relação existente entre a indústria de gelatina e a produção pecuária? Paulo Reimann: A gelatina é uma das pontas finais da cadeia do agribusiness como consumidora de uma matéria-prima fonte de colágeno (a proteína animal mais disponível no planeta). Peles, ossos e tecidos conectivos são fontes ricas de colágeno. O Brasil é, por natureza, a “terra do colágeno” que se apresenta na forma de bovinos e suínos. Esta “natureza” é a vantagem competitiva do Brasil (um cluster de agribusiness). Scot Consultoria: Qual a posição que o Brasil ocupa, em termos mundiais, no que diz respeito à produção e exportação de gelatina? Paulo Reimann: O Brasil produz hoje 20% de toda gelatina do planeta e quase a totalidade de gel a partir de peles de boi. Exporta 80% de tudo que produz. Isso torna o Brasil o maior exportador de gelatina do mundo! Scot Consultoria: Quais são nossos principais concorrentes? Eles são competitivos? Paulo Reimann: A concorrência tem base européia. Porém, é totalmente global (as indústrias estão presentes em todos os continentes). Todos são competitivos, mas na América do Sul sofremos com a tragédia da taxa de câmbio. No continente existe uma combinação que envolve a inflação em alguns países, cambio em outros, juros e assim vai. Esses problemas são contornados por indústrias inteligentes e empreendedoras que, independentemente dos governos, reduzem custos constantemente, inventam e competem. Porém existem limites. A perspectiva de câmbio (futuro) é talvez o maior desastre do país desde a era hiper inflacionária. Scot Consultoria: Qual foi o desempenho de indústria de gelatinas em 2007 e o que esperar para 2008? Paulo Reimann: O ano de 2007 foi ano de ajustes ao câmbio. Para 2008 o desafio é se ajustar a um mercado que acompanha a aderência do problema de margens que afeta, por exemplo, os frigoríficos e a agroindústria em geral. A indústria de gelatina tende a se consolidar/concentrar. A concorrência em menor número, porém acirrada, (cartel não existe, 100% da indústria de gel tem governança de primeiro mundo e é extremamente competitiva), fará com que a criação e criatividade aumentem dramaticamente. Isto está ocorrendo em todos os setores. Scot Consultoria: Quais as principais barreiras ao crescimento do setor? Paulo Reimann: Rastreabilidade e credibilidade dos documentos oficiais lá fora. Sabemos que o MAPA faz esforços, sabemos que nem todas as indústrias fazem o mesmo esforço (como se a questão de rastreabilidade fosse um problema “deles” e não “nosso”). Scot Consultoria: Em sua opinião, a “pendenga” entre Brasil e UE afeta apenas as exportações de carne ou pode influenciar negativamente o comércio de outros derivados bovinos? Paulo Reimann: Acho que a pendenga termina rápido e não afeta os outros produtos que não sejam o in natura. Porém, a questão da rastreabilidade é séria e, se nada for feito, terminará em choro. A indústria de gelatina tem sido extremamente ativa no tema rastreabilidade. Scot Consultoria: No que diz respeito à pecuária, quais os principais problemas que deveriam ser “atacados” tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada? Paulo Reimann: Número 1: credibilidade. Falou e/ou prometeu, cumpre-se. Fazer valer a máxima “o cliente sempre tem razão”. O governo deveria defender a cadeia contra ataques protecionistas, e acho que só. O resto deveria ficar por conta da iniciativa privada: sanidade, rastreabilidade e gerenciamento (veja bem, eu creio que o Brasil sofre do apagão gerencial). A indústria exportadora tem que fazer seu dever de casa. Em dois aspectos. O dólar não reagirá, portanto, se a indústria tiver esperança de melhoria de resultado via taxa de câmbio, pode esquecer. As ineficiências devem ser combatidas com sistematização, e a produção considerada e tratada como um cluster de matéria-prima (e não pensar em vantagem competitiva por causa da taxa de câmbio). Algumas indústrias ainda estão no passado, produzem por produzir, não planejam e não desenvolvem produtos. Simplesmente massificam. Outro aspecto é o regulamentário. A indústria tem que assumir que está inserida, mesmo que parcialmente, na cadeia do agro (via sebo, via couro, via gelatina, via extratos, via dog toys...) e que certificados são importantes. Mais ainda: como é quase ponta final, o fisco e as autoridades sanitárias tendem a apertá-la. Finalmente, acho que o Brasil dever fazer a indústria assumir sistemas de gestão, nada de novo. Deming seria ótimo, melhorias contínuas, 6 sigma, complexos e menos complexos, reviver os círculos de controle de qualidade. A elite precisa cumprir o papel de elite (elite é pouco, o contraponto é massa que nada faz, normalmente destrói). Somos elite e temos um dever. São as pequenas revoluções diárias que levam a uma grande transformação. Todo dia é dia de pequena revolução (contrapondo-se à evolução, que é lenta). Temos pressa.
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