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Scot Consultoria

Carta Gestor - Só não sei que nada sei: você já mediu a “força do acho” na sua análise de investimento pecuário?


Sexta-feira, 8 de maio de 2020 - 09h20


Se eventualmente, o parassem na rua para uma pesquisa e o perguntassem: entre 100 pessoas que vivem no Brasil, quantas você acredita que são imigrantes? Pense em sua resposta. Já tem seu número? Agora compare com a média de respostas do que acham os demais brasileiros: 30 imigrantes. Foi bem? Agora compare com o número real: três, ou seja, na verdade de cada 100 pessoas que vivem no Brasil, apenas três são imigrantes.


Esse é um exemplo de uma das perguntas aleatórias que foram feitas no mundo todo, em um estudo publicado por um Instituto Britânico, tema de reportagem na Revista Nexus. A pesquisa comprovou que, em geral, o achismo e os fatos nem sempre caminham juntos, e independentemente do país, classe social ou tema em questão, o desvio entre ambos evidencia os perigos da percepção, ou seja, deixa clara a “força do acho”.


Eu não sei que nada sei

Diferente da clássica frase do filósofo Sócrates, “eu só sei que nada sei”, na qual uma das interpretações é a de que estamos em constante aprendizado, na verdade, as pessoas vivem o “eu não sei que nada sei” e acabam dando palpite mesmo sem ter a real informação.


O que é mais perigoso é quando tomam isso como verdade para si em seu negócio. Esse comportamento pode levar a investimentos, escolhas e, possivelmente, ao fracasso. Recomendo uma busca no Google para encontrar um artigo da revista Galileu de 2015 (só não sei que nada sei) que afirma o quanto não temos a verdadeira noção do que não sabemos.


Efeito Dunning-Kruger

Trago mais uma referência para nosso debate da desconstrução da “força do acho”. Trata-se do efeito Dunning-Kruger, citado até os dias de hoje, no qual, dois pesquisadores da Universidade Cornell, nos anos noventa, publicaram um artigo que, de forma simplificada, diz que os indivíduos com pouco conhecimento sobre determinado assunto acreditam saber mais do que outros mais bem preparados para o mesmo tema.


Tenho certeza de que neste momento você se lembrou de uma conversa ao pé da cerca com alguém que o convenceu a fazer algo que você sabia que não ia dar certo. Intrigante é que isso é muito antagônico, pois quem tem mais conhecimento deveria ter maior confiança, mas nem sempre é assim...


O que nos consola é que essas são características próprias do ser humano. A percepção é levada ao extremo, o que é muito comum quando subestimamos ou superestimamos eventos. O otimismo ou pessimismo particular, impacta inconscientemente nas análises de cenário da atividade e percepção de mundo. Por um lado, pode-se correr o risco de que tudo seja generalizado a partir da “força do acho” ou de se ter as opiniões subestimadas por alguém com menos conhecimento, como retrata o efeito Dunning-Kruger.


Seria fantástico, se fosse verdade

Outro dia, em uma consultoria, um investidor paulista me apresentou dados que recebeu de um amigo, grande pecuarista, que o convenceram a entrar na atividade. Comprando X, gastando Y e vendendo por Z ele conseguiria uma margem de 50%!


Seria fantástico, se fosse verdade.


Com base nos números que temos, disse a ele que sua expectativa de desembolso era a metade do que um pecuarista eficiente gastava há três anos, portanto, a conta não iria fechar naqueles termos. Nesse caso, paramos, trouxemos as informações para a realidade, excluímos o “acho” e remodelamos as decisões. O que me intrigou, foi que o executivo era muito vivido para ter sido contagiado daquela forma pela “força do acho”, a partir de números em um papel. Sinal de que a experiência não nos deixa completamente imunes. O que fazer então?


Números, números, números...

É preciso buscar uma análise de investimentos pecuários na prática, baseando-se em informações corretas e aprofundadas. Buscar orientação de consultores capacitados. Calcular indicadores que realmente irão nortear o negócio e não desgrudar da verdade nua e crua que os números trazem. Números, números, números...


Ahhh, mas e a intuição que nos tira de tantas enrascadas? Desconsideramos? É claro que não. Deve-se sempre estar atento a ela, pois a intuição nos traz bom senso e nos auxilia. Minha sugestão é que ela seja uma boa conselheira, mas nunca a protagonista de suas decisões, pois há uma forte tendência, com base no que explicamos anteriormente, de se confundir a “força do acho” com a intuição.


E quais são os caminhos para a boa análise prática de investimento pecuário?

- Faça uma análise SWOT bem feita das características de sua ideia ou projeto antes de colocá-lo em prática (analise as ameaças e oportunidades, fraquezas e pontos fortes).


- Abra-se à crítica. Pegue o projeto e o apresente a outras pessoas capacitadas e que pensem de forma diferente para que, principalmente, apontem pontos fracos que você não esteja observando. Se o escolhido for contra a sua ideia, melhor ainda, pois ele irá expor muitos aspectos que você não parou para pensar.


- Transforme todos os fundamentos em números. Saiba a taxa de retorno, taxa de balanço, análise de risco, retorno sobre o capital investido (ROI), taxa de atratividade, entre outras. Para nossa satisfação, falar sobre indicadores econômicos não é algo que assusta os pecuaristas profissionais. O que precisam, cada vez mais, é deixar de “ter uma ideia” desses números, mas assumi-los em sua rotina, assim, como já fazem com os indicadores zootécnicos.


- Por fim diante das informações faça uma análise de risco e, não sendo pessimista, recomendo que assumam que as coisas podem dar errado. Na prática, significa que irá provisionar uma margem superior ao que se espera ganhar, principalmente, porque a fazenda é algo vivo.


Por experiência, sugiro que o cálculo final do resultado deve sempre considerar 30% mais. Esse é o número que trabalhamos, em média, pois equivale ao coeficiente de variação que há no resultado de ganho de peso de um lote de bois gordos. Para casos de animais criados na fazenda e mais homogêneos esse risco pode reduzir para 15% a 20%.


Na prática, se há a expectativa do resultado aumentar de R$ 200/ha/ano para R$300/ha/ano, o projeto deve considerar a possibilidade de crescimento de R$130 e não apenas R$100 ao ano, ou seja, 30% a mais do que o esperado. A equipe toda precisará sugerir ideias para uma estratégia que atenda a matriz de risco, pois ao final do ano, todos querem a meta atingida, lembrando que os 30% a mais referem-se a problemas que podem ser enfrentados pela atividade e não aos relaxamentos frente aos processos previstos.


Faça com que o projeto dê errado no papel

Faça, refaça as etapas quantas vezes forem necessárias para que o projeto dê errado muitas vezes no papel. Assim, o líder estará cada vez mais seguro quanto tiver de tomar decisões na prática. Poderá colocar as expectativas em uma realidade tangível, exequível e isenta de opiniões pessoais para enfraquecer os achismos que chegarão de todos os lados.


Os números e informações estudadas permitem que o líder e sua equipe tenham um ponto central de realidade para se apegar em meio a caminhada e não sofram com as mudanças de mercado ou o assédio das tecnologias. Garanto para você que lutando por seguir por um caminho bem desenhado, o resultado estará garantido.



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