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Carta Gestor - Cinco fatores não controláveis que afetarão o negócio rural nos próximos anos...e como se preparar para enfrentá-los.


Quarta-feira, 19 de abril de 2017 - 12h00


O agronegócio passa por uma turbulência em virtude dos acontecimentos do final de março, começo de abril, que incluem as consequências da operação Carne Fraca e o retorno do Funrural, além do ambiente econômico desfavorável vigente.


Aproveito para dar uma notícia:


A coisa não para por aí, ou melhor, é certo que vários outros fatos “não controláveis” surgirão e impactarão os negócios...e outras situações de turbulência acontecerão. 


Existe uma série de fatores imprevisíveis, que certamente incidirão no negócio rural em algum momento. É fato que ciclicamente eles acontecem, e o ponto a ser analisado é a intensidade do dano. A ação direta na prevenção das perdas potenciais é que fará a diferença entre passar sem sequelas por estas dificuldades ou deixar o negócio sofrer. 


Destacamos cinco principais assuntos que poderão impactar o negócio em breve (ou que já estão impactando):


1 - Crises políticas e econômicas internas: consequências diretas no incremento de tributos a serem pagos, falta de crédito no mercado e diminuição do consumo, gerando queda de preços;


2 - Problemas de ordem sanitária ou ambiental: são bombas relógio que podem aparecer a qualquer momento, como foi o foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul em 2006 e a Operação “Carne Fraca”, afetando diretamente os preços pagos ao produtor e abalando a cadeia como um todo;


3 - Clima: sempre será incontrolável, com mais impacto na agricultura do que na pecuária, e dependendo da região pode afetar o negócio a cada 5 ou 20 anos (entre secas prolongadas, geadas ou excesso de água);


4 - Economia mundial, demanda por alimentos e câmbio: por mais que o Brasil seja o melhor local para se investir em produção de alimentos, haverá períodos de preços baixos em virtude de acontecimentos específicos na China, Estados Unidos, Comunidade Europeia e no Mercosul;


5 - Relações familiares e seus impactos na gestão do negócio: as famílias que labutam no agronegócio postergam decisões essenciais sobre o patrimônio, e consequências sérias poderão afetar o negócio sem um modelo de gestão formal e que seja entendido por todos.


O fato é que os produtores rurais, por essência, focam na produção do seu ativo (arrobas, grãos, madeira, etc.), e dão menor ênfase ou deixam de lado processos que minimizam os riscos das épocas turbulentas.


De modo geral, as famílias de fazendeiros desenvolvem atividade em um ambiente relativamente ESTÁVEL, onde as situações acontecem com um perfil próximo à expectativa gerada para cada evento.


Na pecuária esta particularidade é visível com relação a preços, uma vez que dificilmente vemos oscilações maiores que 10% ao ano (nesta conta deve-se descontar inflação anual), tanto no valor da arroba vendida, como também na aquisição dos insumos. Esta volatilidade não permite saltos exponenciais de crescimento, e muito menos leva alguém à falência ou necessidade de se desfazer de ativos. No caso da agricultura é diferente, mas não deixa de ser confortável em anos normais.


A possibilidade de problemas sérios começa quando algum evento NÃO CONTROLÁVEL de maior força atua no ambiente de negócios, que pode ser desde uma geada até uma disputa judicial, ou o falecimento do patriarca. Neste momento o ambiente passa a ser TURBULENTO pois há risco de perda de patrimônio e mesmo da dissolução do negócio familiar.


É provável que haverá um fato externo, incontrolável, e que certamente poderia ser minimizado com a implantação de regras simples e práticas, que chamamos de PROCESSOS DE GOVERNANÇA.


Nos últimos anos, acompanhando uma grande quantidade de grupos familiares do agro, pudemos verificar situações de mudança repentina deste ambiente, de estável para turbulento, e sempre houve desgaste da família, além de perda ou diluição de bens e receitas. Você deve conhecer pessoas que já passaram por isso.


Do mesmo modo, vimos Grupos saírem ilesos destas situações, e a análise comparativa mostra que o diferencial nesses casos era a existência de processos de governança definidos, vinculados com uma estratégia de ação clara, finanças apuradas e controladas, ambiente jurídico e tributário mapeado, além do ambiente familiar equilibrado.


Uma pequena amostra disso é a análise de dois produtores rurais que sofreram impactos distintos no ambiente financeiro. Quem sabe você se identifica com isso. 


Ambos vivem no interior de São Paulo, com fazendas de pecuária no Mato Grosso, com patrimônio e endividamento semelhantes. Tiveram dificuldades na renovação de crédito em 2015 pois os bancos suspenderam determinadas linhas de repasse. Um deles tinha todo seu crédito vencendo naquele ano, e o outro tinha um procedimento para o ambiente financeiro que regrava seu negócio de modo que as dívidas de curto prazo não fossem acima de 30% da dívida total. 


Assim, na negativa bancária para a renovação de quase 100% do seu crédito, o primeiro pecuarista foi obrigado a se desfazer de ativos para saldar a situação (vendeu quase dois mil bovinos que não estavam prontos e ainda se desfez de dois terrenos urbanos, vendidos às pressas e com deságio), porque contava com a renovação bancária, que nos últimos anos sempre se dera de maneira fácil.


O segundo produtor teve um problema menor para resolver, e a estratégia financeira se mostrou eficiente, uma vez que conseguiu pagar os vencimentos com bois gordos que já estavam separados para aquela demanda. É fato que não teve a renovação para comprar a reposição naquele momento, mas resolveu isso adiante com novo crédito, e o impacto negativo foi nulo.


É bom reiterarmos que tomar crédito em linhas bancárias saudáveis (entenda como “saudáveis” as linhas subsidiadas ou que sejam mais baratas que o custo de oportunidade do seu capital próprio) é recomendável e deve ajudar na busca dos objetivos, porém deve ser balizada a partir de regras de gestão/governança.


Em nosso modelo, os principais indicadores financeiros balizadores de riscos são:


 - Dívida total / patrimônio; 


 - Dívida de curto prazo / faturamento; 


 - Dívida total / rebanho (para pecuaristas) 


 - Lucro operacional / serviço da dívida (juros e amortizações sobre os empréstimos pagos naquele ano).


Enfim, em nossa visão, a abordagem do tema da GOVERNANÇA PARA FAZENDAS deve ser corrente, para que as famílias do agronegócio a discutam prioritariamente e dominem os processos envolvendo a criação de regras e controles, para implantá-los em seus ambientes de trabalho para que o negócio seja sustentável e lucrativo.


Trataremos do tema em toda sua amplitude durante o ano! Continue nos acompanhando.



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