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Carta Boi - Mantenha as escolhas do confinamento sob seu domínio


Quinta-feira, 9 de março de 2017 - 18h00

O primeiro bimestre do ano terminou e continuamos com preços do boi gordo abaixo da cotação mínima observada em 2016, considerando as praças pecuárias de São Paulo. 


Depois do Carnaval o mercado voltou um pouco mais firme devido aos dias de compra a menos. Com isto, frigoríficos retomaram às compras com ofertas maiores que as do fechamento de antes do feriado. 


Para as próximas semanas, no entanto, a tendência é de aumento gradativo da oferta de fêmeas para abate, o que deve pressionar o mercado.


Esta análise, no entanto, tem por objetivo o segundo semestre, na saída das boiadas de cocho e no que o confinador já devia estar acompanhando.


CENÁRIO PARA O CONFINAMENTO


Nos últimos meses, a cotação da reposição cedeu mais que a do boi gordo, o que permitiu uma relação de troca mais atraente para a compra do boi magro. 


Em São Paulo, neste primeiro bimestre, com 12,8@ de boi gordo comprava-se um boi magro, enquanto no mesmo intervalo de 2016 eram necessárias 13,2@, melhoria de 3,1%.


A troca com o milho também está melhor. Na média de janeiro e fevereiro, com uma arroba de boi gordo comprava-se 4,2 sacas de milho, frente a 3,7 sacas no mesmo período do último ano, acréscimo de 14,7% no poder de compra.


As quedas nas cotações, nas comparações dos primeiros bimestres de 2016 e 2017 foram de 1,9% para o boi gordo, de 4,9% para o boi magro e de 14,5% para o milho. 


Ou seja, a situação melhorou do ponto de vista do comprador. Aí temos a questão dos preços de venda.


MERCADO FUTURO


No fechamento da semana do Carnaval, o mercado futuro (BM&FBovespa) para outubro apontava para algo ao redor de R$145,00/@, à vista.


Com um custo de diária de R$9,00 e a cotação média do boi magro em fevereiro (R$1,87 mil/cabeça), o preço de equilíbrio para venda seria de cerca de R$147,00/@, à vista (praticamente o preço no mercado futuro, mais alguma bonificação). 


Em outras palavras, estamos perto do ponto de equilíbrio com o custo da diária utilizado na estimativa se considerarmos a situação atual de preços da reposição e se o mercado se mantiver até a compra. 


Obviamente, os resultados variam com os índices zootécnicos e do custo da diária na propriedade. Não entraremos no mérito dos índices utilizados pois o foco da análise é outro. Agora a “conversa” começa a ficar interessante.


EXPECTATIVAS E OPORTUNIDADES


Milho


Temos expectativas de preços do milho em queda até o confinamento desse gado, a ser vendido no fim de outubro. Considerando a venda ao final 90 dias e uma situação de compra única de insumos, esta poderia ser feita até julho. 


Daqui (06/03/2017) até lá a expetativa do mercado futuro (BM&FBovespa) é de queda da cotação do milho em pouco mais de 10%.


Reposição


O desânimo do comprador tem mantido as cotações frouxas. Além disto, temos a retenção de fêmeas ocorrida nos últimos anos, o que gera expectativa de oferta crescente em 2017 e nos próximos anos. 


Com isto, o mercado poderá cair mais ao longo de 2017, gerando oportunidades de compra a preços interessantes. Mas se a cotação boi magro cair, provavelmente a do boi gordo terá perdido valor também, devido à correlação e influência que estes mercados possuem entre si, não é? Exatamente, aí entra o ponto a seguir.


A oportunidade


Nesta situação é a hora de considerar as oportunidades que aparecem no mercado futuro. É certo que preços de R$145,00/@ em outubro não soam como grandes achados. E realmente não são! 


No entanto, se as contas estão praticamente em equilíbrio, por que não aproveitar algum ajuste positivo de preços do boi gordo no mercado futuro para garantir uma cotação mínima? Isto pode ser feito com o contrato a termo com frigoríficos ou comprando opções de venda, as puts.


A compra das opções de venda - puts - tem um custo, mas permite que o pecuarista ganhe na alta. O contrato a termo de preço mínimo é semelhante, com a diferença de que se o mercado ou os custos surpreenderem e, mesmo com os preços travados o confinamento não for interessante e o pecuarista desistir de confinar, haverá um contrato, com possibilidade de multa, a depender do negócio. Desistir de confinar seria complicado.


Ou seja, há um gado a ser entregue, enquanto no mercado de opções o produtor não tem esse compromisso. 


Trataremos da compra de opções, embora o contrato a termo também tenha vantagens, como as citadas em uma das últimas edições da Carta Boi, nesta conexão (link): O diferencial de base, o mercado a termo e a teoria dos jogos.


Aqui temos preços mínimos do boi travados em um ponto praticamente de equilíbrio (a depender de índices e custo da opção) e expectativa de queda das cotações dos bovinos para a reposição e do milho. Cenário interessante.


O QUE PODE DAR ERRADO?


Preço do milho subir


Se houver uma quebra de safra e o milho subir, por exemplo, há a opção de não confinar, desde que não tenha sido celebrado o contrato a termo com o frigorífico e que tenha sido feita a compra das opções. 


Como a decisão de não confinar ocorrerá 90 dias antes do vencimento das opções (do seguro), elas ainda podem ser vendidas, com lucro ou prejuízo, a depender do mercado futuro do boi.


Isto, para não entrar no mérito de usar ferramentas de garantia de preços para o milho, que deixariam o sono do produtor ainda mais tranquilo.


Valorização do boi magro


Esta consideração é para o confinador exclusivo, que vai comprar a boiada nos próximos meses. De toda forma, a análise estratégica de um confinador que também recria deve considerar a opção da venda dos bois magros, caso a etapa do confinamento não esteja atrativa.


Após anos de retenção de fêmeas, com oferta crescente de reposição, altas do boi magro provavelmente viriam de uma demanda forte por bois gordos, com melhoria do consumo e preços dos rebanhos terminados (altas que seriam aproveitadas, porque o produtor travou apenas a cotação mínima).


Aí dependemos da economia. Neste caso temos expectativas de inflação em queda, com juros menores, ambos fatores positivos para o consumo, mas não fique “à espera de um milagre”, usando o mote da publicidade do nosso Encontro de Confinamento (mais detalhes clique aqui). Mesmo a melhoria esperada, deve ser gradual para emprego e consumo.


Outro ponto na economia é a taxa de juros norte-americana, que deverá ser elevada. Isto tende a gerar apreciação do dólar e pode impactar na queda dos juros e da inflação. Ainda assim, há espaço para recuos e o próprio Copom (Comitê de Política Monetária) ensaia uma redução de 1,0 ponto percentual na próxima reunião.


Voltando aos bois. Se a cotação do boi magro subir muito e a cotação do boi gordo não, o cenário pode ficar desinteressante para o confinador. Mas como não há compromisso de entrega de boiadas, o produtor pode optar por não confinar. Caso a cotação do boi gordo tenha caído, as opções até estariam valorizadas, permitindo a venda com lucro.


Boi gordo subir


E desde quando o boi gordo subir é ruim? Deve ser a pergunta que veio à mente. Realmente não é. Apenas a compra da opção não terá sido necessária e o produtor vai achar que perdeu dinheiro.


Aí no ano seguinte talvez volte a acreditar na sorte e o mercado fará exatamente o que sempre faz. Ignora completamente os seus custos e expectativas, sem o menor pudor, e vai para onde os fundamentos o levam.


CONCLUSÕES


Nos dois últimos anos apareceram oportunidades interessantes no mercado futuro, que não foram aproveitadas pela maioria dos produtores. E lá se foram R$15,00/@ ou mais que não foram embolsados por causa da bendita esperança de o mercado sempre subir mais e mais.


Para 2017 o cenário pode ser diferente, é verdade. É possível que os preços futuros no primeiro semestre estejam pessimistas. Não devemos descartar esta hipótese, uma vez que temos uma pressão de fêmeas no mercado e, paralelamente, uma economia em recuperação, com possibilidade de demanda melhor para a segunda metade do ano.


Por isso, os preços devem ser travados se estiverem interessantes, a ponto de, com o custo da opção, apresentarem equilíbrio ou lucro nas projeções com preços atuais para boi magro e para o milho, porque o cenário provável é de melhoria para estes itens de custo e, se houver piora para o boi magro, o boi gordo deve subir também.


Estar com preços mínimos assegurados para o boi gordo, em um cenário de provável queda de custos, pode ampliar a margem. Imagine que a cotação do boi magro e a do boi gordo caiam até julho. A cotação da reposição cai, mas preço de venda da arroba do boi gordo está assegurado no mercado de opções (puts).


Quanto às opções, destacamos que no caso de praças fora de São Paulo temos o diferencial de base, que deve ser considerado. Ainda assim, o risco do diferencial (risco de base) tende a ser menor que o risco de mercado.


O seguro foi feito para não ser usado, mas o fato de não ter sido usado não dirime sua importância.



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