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Scot Consultoria

Carta Gestor - Recuperação de pastagens degradadas com a integração lavoura-pecuária


Terça-feira, 29 de novembro de 2016 - 17h20


No Brasil, grande parte das pastagens possui algum grau de degradação e este é um dos entraves para o aumento de eficiência e lucratividade da pecuária.


Para reverter tal situação, técnicas que permitem a formação, a recuperação e a reforma de pastagens, reduzindo os custos, ganham importância. Neste sentido, a integração lavoura-pecuária (ILP) é uma opção.


No entanto, existem pré-requisitos para adoção de sistemas integrados de produção agropecuária, com destaque para áreas favoráveis, no que diz respeito ao acesso às fazendas, solo bem drenado e terreno mecanizável. Além disso, temos percebido que os agricultores possuem melhores condições de infraestrutura (maquinários e instalações) e recursos financeiros (próprio ou crédito rural) para integrar as atividades agrícola e pecuária.


Também temos acompanhado pecuaristas motivados e dispostos a mudanças, iniciando a utilização da ILP para recuperação das áreas com pastagens degradadas. 


As parcerias entre pecuarista e agricultor são interessantes. Nesta modalidade, o pecuarista empresta a área para o agricultor semear a lavoura, e este devolve a pastagem recuperada.


Por se tratar de um sistema mais complexo do que a monocultura agrícola ou pecuária, é essencial o acompanhamento de técnicos que dominam a tecnologia de ILP.


O cultivo consorciado de milho e sorgo com forrageiras tropicais, principalmente as braquiárias, tem sido utilizado no sistema de ILP. Outra opção é a sobre semeadura da braquiária entre os estádios R6-R7 da cultura da soja. 


Ambas as opções têm possibilitado a recuperação de pastagens degradadas, sendo essas pastagens utilizadas pela pecuária durante um a três anos após a recuperação com lavoura, possibilitando a cria, recria e/ou terminação de bovinos em pasto, semiconfinamento ou confinamento (utilizando a pastagem, a silagem e os grãos produzidos nas áreas de ILP).


O esquema na figura 1 ilustra a recuperação de pastagem degradada utilizando o consórcio de milho colhido para grãos com Brachiaia brizantha cv. Marandu (braquiarão), sendo a lavoura realizada na primavera/verão (140 sacas de milho/ha) e a pastagem recuperada para uso a partir do outono/inverno com vacas Nelore no sistema de cria (3 UA/ha).



Há diversas alternativas para esse consórcio da cultura granífera (milho ou sorgo) com braquiária. Porém, a melhor opção deve ser definida, levando principalmente em consideração os maquinários e a mão-de-obra disponível em cada fazenda.


Um aspecto importante é o uso de híbridos de milho e sorgo adaptados ao consórcio, principalmente no que diz respeito ao ciclo do híbrido. Nas pesquisas desenvolvidas na universidade percebe-se que o uso de híbridos precoce e superprecoce tem sido a melhor alternativa para o consórcio. 


As figura 2 e 3, retratam a pastagem de capim ruziziensis (Braquiária ruziziensis) sobressemeada na cultura da soja, sendo a lavoura realizada na primavera/verão (60 sacas de soja/ha) e a pastagem formada para consumo a partir do outono/inverno com novilhos Bonsmara no sistema de recria, utilizando 0,8% do peso vivo de suplemento energético (6 UA/ha).




Nas áreas de pastagens degradadas, a taxa de lotação média anual com bovinos de corte tem sido de 0,4 a 0,8 UA/ha, com produtividade de 2 a 5 arrobas/ha/ano. Após a recuperação com o consórcio de milho e sorgo com braquiária ou sobressemeadura da braquiária na cultura da soja, a taxa de lotação média anual passa para 2 a 6 UA/ha, com produtividade de 15 a 60 arrobas/ha/ano. 


Essas maiores taxas de lotações e de produtividades são obtidas com estratégias de suplementação proteico/energéticas, com fornecimento variando entre 0,6% a 1,0% do peso vivo.


A estratégia para formulação dos suplementos é condicionada à categoria animal, à qualidade da forragem produzida, às cotações dos insumos e às projeções dos valores dos bovinos a serem comercializados. 


A suplementação deve maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem, e não deve exercer efeito substitutivo sobre a mesma.


As figuras 4 e 5 retratam a pastagem de capim Marandu (braquiarão) recuperada em consórcio com milho colhido para grãos e silagem. A lavoura foi realizada na primavera/verão (100 sacas de grãos/ha e 35 toneladas de massa verde de silagem/ha, respectivamente) e a pastagem recuperada para uso a partir do outono/inverno com novilhos Nelore no sistema de terminação em pastejo rotacionado, utilizando 0,6% do peso vivo de suplemento energético (5 UA/ha) e ganho de 1@/cabeça/mês (15@/ha durante três meses - junho a agosto).




Para finalizar, destacamos que a principal vantagem da ILP é potencializar os sistemas de produção de grãos e de carne. A desvantagem é que uma vez adotada, não é recomendável desistir do sistema.  


Ao longo de dois ou três anos, após a recuperação da pastagem com lavoura, se o sistema não for continuado, com adequação da taxa de lotação animal e o correto manejo de adubação e/ou rotação de culturas, as áreas voltam a se degradar. 


Portanto, recomenda-se recuperar de 1/3 a 1/5 ao ano das áreas de pastagens degradadas, até que todas as áreas estejam inseridas em um esquema de rotação de culturas (ora lavoura, ora pastagem) no sistema de ILP.


Autores:


Cristiano Magalhães Pariz - Doutor em Zootecnia – FMVZ/UNESP – Botucatu


André Michel de Castilhos - Doutor em Zootecnia – FMVZ/UNESP – Botucatu



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