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Scot Consultoria

Carta Boi - Vender ou segurar as boiadas?


Quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016 - 10h45


O peso médio de uma boiada está em 520,0kg/cabeça, cerca de 18,0@, considerando 52,0% de rendimento. Pronto para o gancho, mas aí surge a dúvida, vender ou segurar um pouco mais?


Se o pecuarista vender, ele realiza o lucro e pode repor os animais, investir, quitar dívidas, etc. Em geral, a indicação é ir realizando o lucro, fazendo as vendas, compassadamente, com o intuito de gerar um preço médio interessante e mitigando riscos. 


Mas se o produtor tiver a possibilidade de reter estes animais, ou existir uma área próxima para ser arrendada, a conta também pode ser interessante.


Prós e contras da retenção


Aqui temos algumas ressalvas a fazer sobre a retenção. A partir do momento em que o produtor deixa de vender a determinado preço (hoje) e decide reter os animais, ele assume mais um período de risco de mercado. 


No entanto, existem meios para que ele garanta o patamar de preços da arroba. As ferramentas de hedge, sejam via frigorífico (termo) ou BM&F (contrato futuros e de opções), garantem os preços e tiram todo ou parte deste risco.


Com isto, observar as cotações no mercado futuro pode ser um direcionamento. Mas não adianta usar os preços futuros apenas para optar pela retenção, se não travar as cotações efetivamente. 


Um exemplo foram os preços futuros de outubro de 2015, que em abril atingiram valores próximos de R$158,00/@, à vista, em São Paulo, e animaram muitos pecuaristas. 


Os que só se animaram, mas não aproveitaram para usar as ferramentas disponíveis, venderam em outubro com média de R$146,80/@, preço R$11,20/@ menor do que quem travou, o que equivale a R$201,60 por boi gordo com 18,0@. 


Outro ponto é a troca. O momento pode estar ou não favorável para a compra da reposição. Há o risco de que ao reter os animais o produtor encontre trocas menos favoráveis quando vender a boiada. Por outro lado, também há a possibilidade de que o bezerro ceda e haja ganho. 


Outro risco é o de mortalidade, embora este seja pequeno para categorias eradas, como é o caso deste exemplo. Com uma retenção de 70 dias, teríamos algo em torno de 0,38% de mortalidade, ao considerarmos uma taxa de mortalidade de 2,0% ao ano.


O fato de o dinheiro entrar na conta antes também é importante. Para comparar a venda antecipada à retenção, podemos usar uma taxa de juros e adicionar um rendimento à receita do cenário sem retenção, pelo mesmo período que os animais ficarão no pasto.


Custos adicionados


Neste período de retenção, vamos agregar custos aos bovinos. Considerando que uma pequena parcela das fazendas possui controle de custos, incluindo os não desembolsáveis, nos quais estão as depreciações de benfeitorias e pastagens, vamos usar um ajuste. 


Para estes custos fixos, podemos utilizar o arrendamento de pastagem na região. Obviamente não serão os custos exatos da propriedade, mas se a fazenda não tiver nada excepcional, do ponto de vista de investimentos, podemos usar sem medo de errar. 


E se a fazenda for um ponto fora da curva, sob o ponto de vista de maior capital imobilizado e investimentos, este é mais um motivo para que o pecuarista controle direito os seus números. 


Consideramos um custo de arrendamento de R$28,00 por cabeça ao mês. 


Para a mão de obra, consideramos um colaborador, com um salário de R$1,0 mil, ao qual foram somados 70,0% de encargos, para cada 500 cabeças, ou seja, aqui usamos dois funcionários e aqui temos um custo mensal de R$3,40 por cabeça.


Para a suplementação, foi usado um suplemento mineralizado, com 40g de fósforo. Usamos um consumo diário de 70g e um custo de R$50,00 por saco (30kg). Aqui temos um custo mensal de R$3,50 por cabeça. 


Incluímos outros custos, como R$500,00 por mês, de quilometragem para a visita à fazenda ou arrendamento e mais R$1,00 por cabeça/mês, como custeio de sanidade (equivalendo a R$12,00 por ano). 


Embora no período da retenção não haja tratamento sanitário previsto, optamos por um custo mensal um doze avos de um custo estimado por ano. Estes outros custos somaram R$1,50 por cabeça ao mês.


Com isto, estimamos um total de R$36,40 por cabeça ao mês. A tabela 1 mostra um resumo dos custos considerados.



Vamos aos cálculos


Consideraremos um lote de mil animais, com 520kg de peso vivo (equivalente a 18,0@, com 52,0% de rendimento). Simulamos a retenção por um período de 70 dias, com o abate previsto para meados de abril. 


Estes animais, se fossem para o gancho no início de fevereiro, com a arroba negociada por R$152,50, à vista, em São Paulo, gerariam receita de R$2,75 milhões.  


Durante a retenção, consideramos um ganho de peso médio diário de 500g neste período e um rendimento após a retenção estimado em 52,5%. 


Com isto teríamos um peso de abate de 19,4@ ao final do intervalo. Seriam adicionadas 1,33 mil arrobas ao lote, já considerando aquelas perdidas pela mortalidade proporcional ao período, considerada na conta. 


O abate após o ganho adicional e considerando que o pecuarista obteve a cotação apontada no começo de fevereiro para abril (R$154,74/@), no mercado futuro, a receita passaria para R$2,99 milhões, acréscimo de R$245,49 mil. 


O custo com a retenção no período foi de R$84,93 mil. Ou seja, sobraram R$160,55 mil. 


Mas, como comentado, o fato de o dinheiro da venda imediata chegar antes à conta deve ser considerado. Para tanto, aplicamos a ele uma taxa de 1,0% ao mês, o que faz o montante passar de R$2,75 para R$2,81 milhões. 


Mesmo frente a este valor com juros, temos um retorno adicional de R$95,98 mil com a retenção, o que equivale a R$96,35 por cabeça. Vale destacar também que estes resultados adicionais se referem à comparação entre venda e retenção. 


Quando o resultado é positivo em R$95,98 mil, isto não indica o lucro da engorda. Demonstra quanto o resultado foi melhor que a outra opção (venda e aplicação ou retenção). 


Reter ou não reter a boiada?


Outros fatores, como a troca, interferem na opção pela retenção. A necessidade de caixa é outro fator importante a ser avaliado. Não adianta o pecuarista manter os bovinos em engorda e buscar recursos para pagar dívidas de curto prazo junto ao banco. 


Neste exemplo, o ponto de equilíbrio para o ganho de peso seria de 0,246 kg por cabeça ao dia. Ou seja, mantendo as outras variáveis, inclusive o preço projetado de venda (R$154,74/@), com um ganho de 0,246 kg/dia o retorno da retenção se igualaria ao da venda imediata e aplicação à taxa de 1,0% ao mês.


Se ao invés de ganho de peso, quisermos testar o preço de venda, agora mantendo os 0,50kg/dia, seria indiferente a venda ou a retenção com uma cotação de R$149,78/@. O preço poderia ser até R$4,96/@ menor que o projetado, que o resultado da retenção ainda seria igual ao da venda mais aplicação (1,0% ao mês). Veja um resumo da simulação na tabela 2.


Para cada ponto considerado nesta simulação há diversas variações possíveis. Por isto, custos de produção e análises econômicas devem ser feitos caso a caso. 


Para facilitar a decisão do pecuarista, a Scot Consultoria lançou a planilha Retenção de Bovinos – Sim ou Não. Todas as simulações e tabelas apresentadas aqui podem ser feitas em minutos com essa ferramenta. 


Também é gerado um relatório para impressão, com um resumo, gráfico e considerações sobre a simulação. 


Se não concordou com algum parâmetro usado ou ele não se aproximou dos da sua fazenda, clique aqui, peça a sua planilha e faça os seus cálculos em minutos.



 



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