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Carta Boi - Expectativas do consumo de carne


Segunda-feira, 11 de agosto de 2014 - 16h50

A demanda por um determinado produto é influenciada por diversos fatores. Entre eles estão o preço, o poder aquisitivo dos compradores (ou potenciais compradores), a presença de produtos substitutos, dentre outros. 


Os produtos substitutos afetam a demanda por meio da competição. É o que ocorre quando os preços da carne de frango e da carne bovina se distanciam e há migração para a proteína mais barata. 


Atualmente o varejo tem trabalhado com margens mais apertadas, em relação aos últimos anos, devido à dificuldade em repassar as altas ocorridas no atacado. 


Esta dificuldade de repasse de preço se deve à elasticidade-preço da carne bovina. Ou seja, variações de preços afetam a demanda.


No caso da renda, existe o que se denomina elasticidade-renda. Quanto maior a receita familiar, maior tende a ser o consumo de carne. Vale destacar que a elasticidade vai sendo perdida à medida que a renda aumenta. 


Se alguém já tem renda e consumo elevados, o acréscimo nos rendimentos tende a afetar menos a demanda.  


Demanda atual por carne bovina


Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil é o segundo mercado consumidor de carne bovina, seguido pela União Europeia. 


A primeira posição é dos norte-americanos. Veja a figura 1.



A partir destes valores foram estimadas a demanda per capita, utilizando a população de cada país ou bloco, tendo como fonte a Organização Mundial para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Banco Mundial. 


Os resultados, em quilos de carcaça, estão na tabela 1.



A disponibilidade per capita na Argentina é a maior, atingindo 64,3kg por habitante ao ano. Vale destacar que estes valores se referem a quilos de carcaça e não consideram perdas. 


Estes valores foram obtidos pela estimativa de produção, somada às importações e excluindo-se as exportações.


No caso da demanda estimada para o Brasil, os 39,6kg de carcaça equivalem a cerca de 30,5kg de carne in natura


Projeções 


Com base no exposto, fizemos uma simulação da demanda por carne bovina nos principais países consumidores. Para as estimativas da demanda em 2019, foram considerados dois fatores, a elasticidade-renda e o aumento populacional. 


Com base nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, segundo o Banco Mundial, e as elasticidades-renda estimadas pelo Instituto de Pesquisas sobre Alimentação e Políticas Agrícolas (FAPRI), foram calculados os consumos per capita em 2019. 


Cabe a consideração de que PIB per capita não é renda, mas aqui o utilizamos com este fim, uma vez que há relação entre esses indicadores. 


Os resultados estão na tabela 2.



A partir dos dados de demanda per capita e das projeções para a população em 2019, foram projetadas as demandas domésticas desses países. 


Apesar de figurar entre os menores crescimentos per capita da demanda, o incremento esperado da população no Paquistão entre 2014 e 2019 é de 10,1%, o que colabora com o aumento do consumo total. Veja a figura 2. 



Para o Brasil, a expectativa é de aumento anual de 1,8% na demanda por carne bovina nos próximos anos.


A menor taxa esperada é a da Rússia, cuja variação é de 0,7% ao ano, impulsionada pela elasticidade-renda da demanda, uma vez que a expectativa é de que a população praticamente se mantenha no intervalo analisado (-0,2%). 


Concentração de renda


Outro fator que influencia as expectativas é a distribuição de renda. O índice de Gini, que varia de 0 a 100, expressa a concentração da riqueza. Quanto maior o índice, menor é a distribuição de renda. 


Segundo dados da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), o Brasil possui o maior índice de Gini dos países da análise, cujo valor é de 51,9.


Nos Estados Unidos, país e pais do capitalismo, o índice é de 45,0, que indica uma distribuição de renda maior que a brasileira. 


A União Europeia e o Paquistão possuem os menores índices dentre os países analisados, ambos com 30,6. Veja a figura 3.



A União Europeia possui PIB per capita alto e índice de Gini baixo, o que indica que a população tem poder aquisitivo. 


Além do PIB per capita alto, é interessante que haja distribuição de renda (Gini baixo). Leia-se renda, não assistencialismo, algo paliativo. 


Considerações finais


As projeções de PIB per capita foram feitas com estimativas do Banco Mundial. No caso do Brasil os números estão consideravelmente mais otimistas que os relatórios recentes que circulam no mercado.


Os números e projeções demonstram a importância do crescimento da população e renda.


Por isto existe a expectativa de que a demanda aumente significativamente na América Latina e na Ásia, regiões nas quais há crescimento, tanto populacional, como de riquezas.


Economias consolidadas tendem a ter taxas de natalidade menores, além de taxas de crescimentos mais comedidas.


Obviamente cabem ressalvas às expectativas, quanto à variação de oferta (ciclo pecuário) influenciando os preços (elasticidade-preço), além da produção de proteínas alternativas, dentre outros.


O objetivo da análise foi indicar de onde deverá vir o maior apetite por carne, com base em renda e variação populacional.



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