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Carta Boi - BSE em Mato Grosso: situação e impactos


Quarta-feira, 14 de maio de 2014 - 15h29

Nas últimas semanas a identificação de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB ou BSE, na sigla em inglês) ocorrido em Mato Grosso chamou a atenção do mercado pecuário nacional e mundial. 


A vaca acometida, foi identificada no frigorífico JBS de São José dos Quatro Marcos, proveniente de uma propriedade em Porto Esperidião, também no estado.


Em 19 de março a inspeção pré-abate detectou a presença de sintomatologia nervosa em um bovino, que foi sacrificado e amostras de tecido nervoso foram enviadas ao Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGRO) de Recife-PE, onde foi detectada marcação priônica em meados de abril. 


Também foram sacrificados e testados outros 49 bovinos contemporâneos, para os quais o resultado quanto à marcação priônica foi negativo.  


Amostras do animal positivo também foram enviadas para o laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Weybridge, no Reino Unido, que confirmou a marcação priônica, no início de maio.


Os exames para determinação sobre a origem do caso não foram conclusivos, mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) relatou em nota que o laboratório inglês apoia a hipótese de que realmente tenha sido um caso atípico, com base nos exames laboratoriais e características da ocorrência. 


O caso atípico ocorre de maneira espontânea e esporádica na população de bovinos, não sendo relacionado à ingestão de produtos de origem animal pelos bovinos, como é observado nos casos típicos, muito frequentes na década de 90 no Reino Unido. 


Segundo a OIE, em 1992 chegaram a ser reportados mais de 37 mil casos na região. Em 2013 foram três ocorrências. 


Voltando ao caso brasileiro. A idade avançada do bovino em questão (12 anos) também corrobora com a hipótese da forma atípica, que acomete animais mais velhos. 


A OIE considera o caso como encerrado e não deve apresentar mais relatórios sobre o mesmo. 


A REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

Por um lado, houve elogios quanto à identificação do animal suspeito pela comunidade internacional. Em nota, o Comitê Veterinário Permanente do Cone Sul (CVP) elogiou a velocidade e transparência com as quais o caso foi tratado.  


Por outro, até o fechamento deste texto houve confirmação de embargos, do Peru à carne brasileira, e do Egito e Irã à carne do estado. 


Em 2013, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), os três países foram o destino de 13,7% das exportações brasileiras, considerando a quantidade exportada de miúdos, tripas, carne industrializada, salgada e in natura. Foram 205,26 mil toneladas, das 1,50 milhão embarcadas em 2013. 


Em faturamento representaram 11,4%, o que equivale a US$755,8 milhões. Veja a figura 1.



Focando a análise na carne in natura, que representa a maior parte do volume e faturamento dos embarques brasileiros, Egito e Irã são importantes, com 11,3% e 5,0% do total em 2013, respectivamente. O Peru não comprou carne in natura no último ano.  



O Egito foi o quarto comprador de carne bovina in natura em 2013, perdendo para a Rússia, Hong Kong e Venezuela, nesta ordem. Na quinta colocação ficou o Chile, seguido pelo Irã. 

A PECUÁRIA DE MATO GROSSO


Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao final de 2012, o Mato Grosso detinha o maior rebanho bovino brasileiro, com 28,74 milhões de cabeças, o que equivale a 13,6% do efetivo nacional.

Entre os abates inspecionados (federal, estadual ou municipal), o estado também se destaca. Teve a maior quantidade abatida em 2013, com 5,84 milhões de cabeças e 17,0% do total nacional. 


Segundo dados do MDIC, as exportações de carne bovina in natura de Mato Grosso representaram 19,2% no volume embarcado em 2013. 


Foram 227,3 mil, de 1,18 milhão de toneladas métricas. 


A receita com a venda de carne in natura em 2013 foi de US$1,08 bilhão, o que correspondeu a 20,1% do total das vendas. A figura 3 apresenta um resumo da representatividade da pecuária mato-grossense. 



Em relação aos embarques de carne in natura de Mato Grosso em 2013, Egito e Irã foram o terceiro e quarto maiores compradores, respectivamente. O Egito comprou US$113,2 milhões (10,5% do embarcado pelo estado), com 32,5 mil toneladas (14,3%). 


Na quarta posição, o Irã comprou 19,3 mil toneladas (8,5%), o que rendeu US$86,4 milhões (8,0%). Veja a figura 4.



Em nível nacional os embarques para Egito e Irã responderam por 16,3% da carne in natura. Em Mato Grosso responderam por 22,8%.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os embargos aplicados pelo Egito e pelo Irã, mesmo que limitados ao estado, são importantes, devido à relevância de Mato Grosso no suprimento de carne para o mercado externo. 


Com isto, é possível que haja aumento da oferta de carne no mercado interno, devido ao fechamento desta via de escoamento. Isto poderá pressionar as cotações, principalmente de cortes de dianteiro, pois o Egito e o Irã são grandes compradores destes produtos. 


Por outro lado, existe a possibilidade de redirecionamento dos embarques, o que poderá aumentar a demanda para este fim em outros estados. 


Como ocorreu em 2012 (sobre o caso de BSE atípica no Paraná em 2010), é possível que mais embargos aconteçam, mesmo que um caso atípico não indique nenhuma carência do sistema de inspeção e que a vaca sacrificada não tenha sido destinada à alimentação humana ou animal.


Vale destacar que a importância do Paraná na pecuária de corte é limitada, na comparação com Mato Grosso. 
Se os embargos se mantiverem, é possível que haja um alongamento do diferencial de base no estado, devido à diminuição do escoamento para o mercado externo. 


Mais um ponto de atenção para a venda das boiadas de cocho no segundo semestre. 

Referências


Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC)


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)


Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)


Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)



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