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Scot Consultoria

Carta Conjuntura - O Brasil não está crescendo, mas por que os brasileiros estão tão felizes?


Segunda-feira, 10 de junho de 2013 - 18h41

Mais de uma década após Jim ONeill do Goldman Sachs criar o acrônimo "BRICs", em 2001, que juntou os quatro países com potencial de crescimento sustentável, o "B", Brasil, realmente se colocou no mapa econômico. O país teve crescimento de 2,3% por ano entre 1995 e 2002, e crescimento acima de 4,0% nos oito anos seguintes.


No entanto, depois disto, o Brasil saiu da linha. A evolução foi de 2,7% em 2011 e de 0,9% em 2012. Isto foi desapontante. Ainda sim, os brasileiros se mostram com uma alegria incompreendida.


Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de dois terços a três quartos das famílias disseram que a situação financeira melhorou no ano passado e que a expectativa é de melhora no próximo ano.


Em dezembro último, pesquisadores da Gallup, um centro global de pesquisas, concluíram que os otimistas em relação a economia estão em maior número no Brasil. Esta margem é maior do que em qualquer outra economia de peso. Dado que o crescimento estagnou, por que estão tão felizes?


A razão encontrada é que por mais que o país esteja com dificuldades para manter o alto nível de crescimento, os rendimentos da maioria das famílias cresceram rapidamente.  


O desemprego está com níveis baixíssimos e o crescimento dos salários supera confortavelmente a inflação, em parte por causa dos grandes aumentos do salário mínimo, mas também por causa do mercado de trabalho apertado.


Apesar de o Brasil aproveitar um bom momento em sua economia interna, alguns fatores como a taxa de Poupança Nacional Bruta apresenta índices ruins, dando sinais que a economia pode se comprometer futuramente.


Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), nos últimos cinco anos, o Brasil não conseguiu ultrapassar a marca de 20,0%. Em 2013, a taxa deverá  ficar em torno de 18,0%. 


Quando comparado ao grupo de países BRICS, o país só poupa mais que a África do Sul (16,0%). Fica longe das poupanças de China, Índia e Rússia, com respectivamente, 50,0%, 32,6% e 29,4%.



Enquanto isso, as politicas de apoio social resgatam muitos brasileiros da miséria. O resultado é a queda da desigualdade, a ascensão da classe média - e a desconexão entre o crescimento do PIB e a atual experiência da população.


Para ilustrar como a distribuição do crescimento afeta os salários, imagine um país que tenha dez pessoas, com uma recebendo US$1.000,00 por mês, outra recebendo US$2.000,00 por mês, e assim por diante até o décimo. No conjunto, os dez recebem US$55.000,00 por mês.


Agora suponha que em um ano, a economia cresça a modestos 1,8% e que exista um "extra" de US$1.000,00, a cada mês.


Se a pessoa mais rica captar todo este crescimento "extra", isto garantirá para ela um aumento salarial de 10,0%. Mas ela dificilmente sentirá isto, porque a situação financeira dela é relativamente confortável. Tudo o mais constante, o crescimento médio do salário de toda a população será de 1,0%.


Mas se o morador mais pobre receber todo este dinheiro "extra", sua renda irá dobrar, e isto poderá fazer uma enorme diferença em sua vida. Novamente, tudo o mais constante, a média do crescimento do salário em seu pequeno país, pode ser de gritantes 10,0%, muito superior às escassas taxas de crescimento global.


Em geral, quanto mais US$1.000,00 for para as populações de renda mais baixa, maior será o crescimento médio dos salários que ela provoca, e maior será o impacto disto.


Depois de muitas décadas em que o "extra" foi para os mais ricos, o crescimento brasileiro está indo cada vez mais para a população de renda modesta. Este é o resultado de longo prazo da estabilidade econômica e da universalização da educação primária, que aconteceu na década de 90, juntamente com os recentes aumentos das "bolsas assistencialistas" e salário mínimo.


Então, não importa se a economia brasileira cresce a passos curtos? A resposta é sim, embora não necessariamente de imediato.


Apesar das melhorias recentes, o Brasil ainda é um país extremamente desigual. É dos brasileiros pobres que sai a grande participação das receitas dos impostos e eles recebem o mínimo de volta com os gastos do governo.


Reduzir ou preferencialmente reverter, as politicas públicas regressivas permitiria à maioria das rendas das famílias voltarem a crescer, mesmo se a economia continuasse a se pulverizar. Mas se os salários continuarem a subir, os trabalhadores brasileiros no setor de serviços - isto é, aqueles que o trabalho pode ser feitos fora do Brasil - irão receber o preço fixado fora, nos mercados globais.


Péssima educação e infraestrutura, sem mencionar a burocracia que sufoca as empresas, mostra que a eficiência média dos trabalhadores brasileiros representa um quarto da produtividade de um trabalhador norte-americano. 


Final


Se o Brasil quiser entrar no ranking dos países ricos seu PIB terá que ser muito maior. Com apenas US$11.000,00 per capita, será impossível dar a volta por cima - não importa quão justa ela seja dividida.



De acordo com o FMI, o PIB per capita do Brasil, em 2013, deverá ser de US$12,64 mil. A Grécia, país que sofre com uma conturbada crise econômica, deverá registrar um valor 66,40% superior, com US$21,04 mil no mesmo período.


Em países desenvolvidos, como Alemanha, Suécia e Estados Unidos, o PIB per capita em 2013 deverá ultrapassar os US$40 mil anuais. 

Fonte: The Economist. 7 de maio de 2013.


*Traduzido, adaptado e comentado (em azul) por Augusto Maia, em treinamento pela Scot Consultoria.



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