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Carta Boi - A queda argentina


Sexta-feira, 9 de novembro de 2012 - 15h34

A Argentina sempre figurou entre os principais exportadores de carne bovina do mundo, porém, perdeu de espaço no mercado internacional. Durante as décadas de 60 e 70, esteve entre os três principais exportadores mundiais. Na década de 80, integrava o grupo dos cinco líderes em exportações do produto, também em função da ascensão de países europeus e da Austrália. Da década de 90 em diante, esteve entre os dez principais. A previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) para 2012 é de que os argentinos fiquem com a décima primeira colocação, pela primeira vez em 50 anos fora dos dez principais exportadores mundiais.


De janeiro a setembro, a Argentina embarcou 159,9 mil toneladas de carne bovina, segundo informações do Instituto de Promoção da Carne Bovina Argentina (IPCVA, sigla em espanhol). Esse volume é 12,7% menor em comparação com o mesmo período de 2011. É também o menor volume embarcado pelo país dos últimos dez anos, na comparação do período acumulado. A retração em relação ao volume médio anual exportado neste período é de 41,6%.


A previsão do USDA para as exportações de carne bovina da Argentina é de que fiquem ao redor de 170 mil toneladas em 2012. Para 2013, a previsão é de crescimento de 5,9% sobre 2012, ficando em 180 mil toneladas. Em ambos os anos o país não estará entre os dez principais exportadores mundiais de carne bovina.


Este ano existe a possibilidade de o país não cumprir a cota Hilton, de 12 mil toneladas. As exportações da cota Hilton sempre foram cumpridas em sua totalidade nas últimas três décadas. No ano passado, faltaram 2,2 mil toneladas para cumprir a cota.


A produção agrícola argentina, assim como a pecuária, foi afetada pelo clima. O país passou por períodos de forte seca em 2011 e 2012, que reduziu a produção de grãos, as área de pastagens e encareceu os custos de produção, principalmente do confinamento. Mas o principal entrave às exportações de carne bovina, e à produção pecuária do país, são as políticas governamentais. Desde 2006 o governo argentino, sob o argumento de aumentar a oferta de carne bovina a preços acessíveis no mercado doméstico, implementou cotas para exportar. Por alguns meses o país ficou impedido de exportar devido ao bloqueio imposto pelo governo.


Interferências desse tipo geraram impactos negativos em todos os elos da cadeia pecuária. O rebanho bovino argentino, que em 2006 era de, aproximadamente, 60 milhões de cabeças, atualmente está em 48 milhões de cabeças, forte redução de 20,0% e composta majoritariamente de fêmeas, segundo dados do Ministério da Agricultura da Argentina. De acordo com a Confederação de Associações Rurais da Terceira Zona do país, a Argentina poderá voltar a possuir rebanho semelhante ao que tinha em 2006 apenas em 2018.


Em 2010, segundo dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados (CICCRA, sigla em espanhol), os abates atingiram 11,8 milhões de cabeças e a produção de carne chegou a 2,6 milhões de toneladas. No ano anterior esses volumes foram superiores devido ao forte abate de fêmeas. Esta situação provocou um aumento de até 120% no preço da carne no varejo, desde o final de 2009 até a data atual. Com isso, o consumo per capita anual caiu de 69 para 58 quilos em 2010. Atualmente está em 57,9 quilos por habitante, queda de 7,7% em relação à média dos últimos dez anos, cujo consumo era de 62,4 quilos por habitante. No início da década de 80 o consumo per capita da população argentina era de 80 quilos.


Na indústria frigorífica, o impacto das ações do governo foi grande. A quantidade de frigoríficos listados pelo Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (SENASA, sigla em espanhol) caiu 65% nos últimos cinco anos. Aproximadamente 12 mil postos de trabalho deixaram de existir na indústria frigorífica argentina nos últimos seis anos.


Após anos difíceis, entretanto, a pecuária argentina vislumbra um feixe de luz no fim do túnel. Os preços pagos ao produtor estão, em média, 5,8% mais altos no acumulado do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, por outro lado, o preço pode estimular o produtor a liquidar seu rebanho e ceder a área destinada à pecuária para o cultivo de grãos, considerando os bons preços dos grãos e as dificuldades que o pecuarista encontra no país, que parecem longe de ter fim. A contração da área de pastagem também pode dificultar a recuperação do tamanho do rebanho argentino.


Dados recentes do IPCVA relacionados ao terceiro trimestre deste ano indicam evolução nos abates, maior produção de carne, além dos melhores preços pagos ao produtor e um ligeiro aumento no consumo doméstico. Os abates de fêmeas estão em patamares menores em comparação com o período de janeiro a setembro de 2011, o que pode ser visto como um sinal positivo rumo à recuperação da atividade.


A situação na Argentina claramente desestimula o investimento na atividade. As medidas do governo, nos últimos seis anos, reduziram o rebanho bovino, desempregaram pessoas, afugentaram investimentos, tiraram o país do rol de principais exportadores do mundo,  e aumentaram o preço da carne para o consumidor interno, reduzindo assim o consumo. Bastaram seis anos para acabar com o trabalho construído ao longo de décadas. Se o objetivo era frear a pecuária argentina, este foi atingido.



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