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Scot Consultoria

Exportação de gado


Terça-feira, 1 de setembro de 2020 - 11h30

Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

Rodrigo Queiroz é engenheiro agrônomo, formado pela UNESP de Jabotical.


Fonte: portosenavios.com.br

 


Contexto

A exportação de bovinos sofreu com a pandemia. Considerando o agro nacional, foi uma das poucas atividades rurais que sentiu os efeitos da gripe. O desempenho foi afetado. Uma exceção diante dos números da pecuária neste ano.

A exportação de bovinos agrega valor diretamente para o produtor rural, pois ele recebe mais por arroba. Pode-se argumentar que é preferível exportar carne, pois a agregação de valor é maior. É verdade. O Brasil faz isso também. A exportação brasileira de carne bovina deverá ser recorde em 2020 e ela complementa essa atividade comercial, assim como a exportação de carne de vitelo, por exemplo. Uma ação comercial não exclui a outra, ao contrário, complementa. Quanto maior a diversificação de mercado para a produção rural, melhor. Por exemplo, o crédito para o belo desempenho da exportação de carne se deve à China, de longe a maior importadora do agro nacional. Bovinos vivos não são exportados para a China. Atendemos a outros mercados com esse produto e isso é bom. Traz segurança.

O Brasil é um dos maiores exportadores de bovinos do globo, por isso, é prudente e recomendável que esse mercado seja estudado e monitorado.


Um pouco da história desse mercado.

Em 2019, o Brasil foi o quinto maior exportador de bovinos considerando qualquer tipo de transporte, mas se considerarmos o marítimo o país ocupa a segunda posição, perdendo apenas para a Austrália.


México, Austrália, União Europeia e Canadá são os concorrentes das boiadas brasileiras.


O México e o Canadá são grandes exportadores de bovinos, mas aí tem carta marcada. Os dois países são beneficiados pelo Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, em inglês) e atendem fundamentalmente os Estados Unidos. Para que competição seja em pé de igualdade, teríamos que ter acesso ao mercado norte-americano. A notória aproximação política entre o governo Bolsonaro e o governo Trump, bem que poderia ser traduzida em liberação da exportação de bovinos para os EUA.

Apesar da posição de destaque nesse mercado, a quantidade de cabeças exportadas pelo Brasil está estimada em 0,3% do rebanho nacional. Esse número sugere o tamanho do potencial desse mercado para os pecuaristas brasileiros. Nada desprezível, não é mesmo?


O Brasil detém o maior rebanho bovino comercial do mundo, estimado em 222 milhões de cabeças (Mapa)2 e é o maior exportador de carne bovina in natura, com um volume de 1,57 milhão de toneladas e faturamento de US$ 6,55 bilhões em 2019 (Comex)3. Dá para atender o mercado interno e externo.


Desempenho da exportação de bovinos

Turquia, Iraque, Egito e Líbano são os principais importadores de bovinos do Brasil (Comex)3.

A importação por esses países tem, entre outras razões, o objetivo de satisfazer hábitos e  costumes culturais, a dificuldade agronômica de produção local e por que o nosso boi é competitivo, deslocando fornecedores tradicionais.

Esse países responderam por 86,9% da exportação em 2019, consumindo 484,5 mil cabeças (Comex)3 .


Em 2015 a exportação caiu dramaticamente, de 624,5 mil cabeças em 2014 para 207,4 mil cabeças (Comex)3.


Essa queda foi causada pela ausência da Venezuela, que importara 494,8 mil cabeças em 2014 e em 2015 importou 102 mil cabeças, ou 20,6% do volume em relação ao ano anterior (Comex)3.


Retomada das exportações

Depois da retração de 2015 a exportação de bovinos vem se recuperando, estimulada agora pelos países do Oriente Médio.


Nessa rota de recuperação, 2018 se destaca com um aumento de 102,2% em relação a 2017. Em 2019 assistimos uma retração, desta vez provocada pela queda do poder de compra dos países do Oriente Médio ocasionada pela queda do preço do barril de petróleo nas bolsas de todo o mundo (Comex)³.


Neste ano, no primeiro semestre o Brasil exportou 146 mil cabeças, uma retração de 47% em relação ao mesmo período do ano passado (Comex)³. Essa retração sugere que as economias dos importadores, assim como no restante do mundo, foram afetadas pela queda do consumo de combustíveis, pela queda do preço do petróleo e pela retração do consumo de proteínas.


Egito, Arábia Saudita e Jordânia responderam por 60% da importação de bovinos, totalizando US$93,8 milhões em receitas (Comex)³.


A importação pelo Iraque caiu 65% no primeiro semestre de 2020, comparado ao mesmo período do ano passado, ou seja, de 50 mil cabeças importadas para 21 mil cabeças. (Comex)³.


Tabela1. Exportações de bovinos em 2019.


Período Vendas (no. cab.) Receita (US$)
Janeiro 33.012 18.877.743
Fevereiro 36.053 22.291.615
Março 46.734 30.718.868
Abril 56.403 36.108.449
Maio 50.364 36.377.944
Junho 53.369 35.153.956

 


Tabela 2. Exportações de bovinos em 2020. 


Período Vendas (no. cab.) Receita (US$)
Janeiro 19.303 12.411.237
Fevereiro 2.219 2.018.844 
Março 25.425 20.949.724 
Abril 42.855 28.540.355 
Maio 14.367 12.604.942 
Junho 41.916 24.768.040 

Fonte: Comex³


Os principais estados exportadores foram Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo.


O Pará respondeu pelo embarque de 87,6 mil cabeças, ou 60% da exportação, seguido pelo Rio Grande do Sul (28,8%) e São Paulo (11,2%) (Comex)³. Dessa forma o Pará se consolida com o principal estado exportador de bovinos, apesar da queda dramática das compras venezuelanas.


Final

A recuperação dos preços do barril do petróleo não foi suficiente para estimular a retomada da importação pelos árabes e a pandemia instaurada em 2020 também tem sido negativa para o desempenho.


Neste ano, a exportação em maio foi de 14,3 mil cabeças, ou seja, 28,5% da quantidade referente ao mesmo período do ano passado (Comex)³.


Em junho, a exportação ganhou força, com 41,9 mil cabeças embarcadas. Um salto em relação a maio, mas ainda assim menor que em junho de 2019, cuja exportação fora de 53,3 mil cabeças (Comex)³.


A ausência da Jordânia e da Turquia e o menor volume exportado para Arábia Saudita (3,1 mil cabeças) foram os motivadores da queda em maio.


A retomada da exportação em junho foi puxada pelo Egito, responsável por 72% do volume ou 30 mil cabeças (Comex)³.


Com relação ao faturamento, a receita do primeiro semestre de 2020 foi de US$101,2 milhões, 56,4% do faturamento comparado ao mesmo período do ano passado, que foi de US$179,5 milhões.


A expectativa é de que o ano termine com 350 mil cabeças destinadas ao mercado externo (USDA)¹.


Caso essa expectativa se concretize, a quantidade exportada será 37% menor em relação ao ano passado (Comex)³.


Bibliografia consultada

1 USDA - Abreviação de Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em inglês.
2 MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
3 Comex - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços



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