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Scot Consultoria

Oportunidades para investir em adubação de pastagens


Segunda-feira, 31 de agosto de 2020 - 16h00

Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos e avaliação e perícia. Editor-chefe do Relatório do Mercado de Leite, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


Foto: Scot Consultoria


A área de pastagem disponível no território nacional está estimada em 163 milhões de hectares, alojando um rebanho estimado em 214 milhões de cabeças de bovinos. A lotação é de 1,06 UA/ha (1,31 cabeças/ha) muito aquém do potencial que se pode alcançar com a adoção de tecnologias (ABIEC, 2020). A baixa lotação tem impacto direto na produção de carne (@/ha), bem como na taxa de desfrute, idade de abate, exportação e por consequência arrecadação.


O volume de abate anual no Brasil é cerca de 44 milhões de cabeças por ano, o que corresponde 20% do rebanho de 214 milhões de cabeças. O peso médio das carcaças é de 244 kg e com rendimento de carcaça (RC) médio de 52,8% (ABIEC, 2019). Já nos países concorrentes o peso médio das carcaças chega a 460 kg e com RC de 63%. Essa diferença basicamente está na raça dos animais e sistema de produção, principalmente confinamento. A idade média de abate nacional é de 48 meses, a dos concorrentes é de 24 meses.


A sazonalidade de produção de pastagens no território nacional durante o período do ano, é conhecido por todos. Sabe-se que, no período da chuvas, com elevados fotoperíodo (dias longos), pluviosidade e temperatura, permite-se boas condições para o crescimento e melhoria da qualidade das pastagens. Já no período seco, as temperaturas caem, as chuvas param e os dias ficam curtos (menor fotoperíodo) e com isso as pastagens param seu crescimento e a qualidade piora.


Por conta disso, o desempenho animal durante o ano varia muito, em função da produção e qualidade das pastagens. No período das chuvas, onde a forragem tem boas condições de desenvolvimento, o ganho de peso diário desses animais é satisfatório. Porém, no período da seca, o pasto não tem condições mínimas para produzir e a qualidade cai. Nessas condições, o pasto não tem quantidade e qualidade, afetando diretamente no desempenho animal, com perda de peso. Esse “fenômeno” é conhecido por “boi sanfona”.


A correção de solo e adubação das pastagens com fertilizantes de empresas idôneas, permite o incremento da produção e da melhoria da qualidade em proteína bruta (PB), nutrientes digestíveis totais (NDT- “energia”) e ajuda a diminuir a fração fibrosa, que é um limitador de consumo. Dessa forma acontece um consumo em maior quantidade de pasto, por consequência mais PB, NDT, atingindo as exigências de mantença (sobrevivência) e tendo um bom desempenho em ganho de ganho de peso ¹.


Bovinos produzidos em pastagens adequadamente adubadas podem alcançar ganhos de 250 grama/cabeça/dia a mais em relação aos criados em pastagens não adubadas. Nessa condição foi considerado o consumo de suplemento mineral de boa procedência. Claro que isso são cálculos, simulações e estimativas para ganho médio diário - GMD. 


Mas quando aliamos a adubação com a suplementação proteica ou energética, os ganhos podem chegar a 150-200 e 250-300 gramas/cabeça/dia a mais quando comparados a animais produzidos em pastagens adubadas+sal mineral, respectivamente. Ou seja, animais criados em pastagens adubadas+suplemento, proteico ou energético podem ter seu desempenho de cerca de 650 a 850 gramas/cabeça/dia, superando rebanhos produzidos em pastagens não adubadas.


Quando levamos em consideração o GMD e a quantidade de bovinos a mais que se pode alojar na mesma área a produtividade aumenta assustadoramente. Por exemplo, como descrevemos no início deste artigo, a lotação média brasileira é de 1,06 UA/ha, a produção média é de 4@ e 2,55@ de carcaça e de carne/ha/ano, porém se fizermos toda a correção e adubação do solo para aumentarmos para 3UA/ha, a produção será de 18@ e 11@ de carcaça e carne/ha/ano. Ou seja, aumento de 350% e 431% de carcaça e carne, respectivamente, segundo simulações e estimativas da Mosaic.


Mercado

Considerando o ciclo pecuário, as expectativas são positivas para o mercado do boi gordo em 2020 e nos anos seguintes (2021/2022).


A menor oferta de boiadas, devido à retenção de fêmeas e a boa demanda para exportação, são fatores positivos.


Para a reposição, as cotações estão firmes desde meados de 2018, e é a razão da retenção de matrizes.


No caso do boi gordo, o mercado tem trabalhado firme em 2020. Depois da pressão de baixa gerada pela pandemia no final do primeiro trimestre, os preços da arroba do boi gordo se recuperaram, mostrando-se firmes em plena safra e subindo a partir de junho.


Na figura 1, apresentamos o ciclo pecuário de preços e a evolução da participação das fêmeas nos abates de bovinos no Brasil.


Figura 1.
Preços da arroba do boi gordo em São Paulo e participação de fêmeas nos abates de bovinos no país.

Fonte: Scot Consultoria / IBGE


Relação de troca com adubos

Além das expectativas positivas para o mercado do boi gordo no longo prazo e necessidade de ganhos em produtividade, que justificam os investimentos em pastagens, a situação vigente também está favorável quando analisamos o poder de compra do pecuarista, com base na “moeda” dele, o boi gordo.


Os patamares mais altos de preços da arroba desde o último bimestre de 2019 e as valorizações do boi gordo acima das altas registradas para os adubos no mercado brasileiro refletiram em melhoria no poder de compra do pecuarista com relação aos principais fertilizantes (NPK).


Contextualizando, os preços dos adubos caíram no mercado internacional este ano, mas o dólar valorizado frente à moeda brasileira fez as cotações, em reais, subirem, inclusive nos primeiros meses do ano, normalmente de menor movimentação no mercado de fertilizantes.


Na tabela 1, apresentamos a relação de troca em São Paulo, considerando o preço da arroba do boi gordo frente a ureia agrícola, cloreto de potássio e superfosfato simples.


Observe que no caso do cloreto de potássio e do superfosfato simples, o poder de compra do pecuarista melhorou 31,4% em julho na comparação anual. Para a ureia, o aumento foi de 22,8% no mesmo período.


Estamos falando, em média, de três arrobas de boi gordo a menos por tonelada de fertilizantes adquirida em julho desse ano, frente a julho de 2019.


Tabela 1.
Preços da arroba do boi gordo e dos fertilizantes em São Paulo e relações de troca.

Fonte: Scot Consultoria


Considerações finais

O período de maior demanda de fertilizantes no mercado brasileiro é entre abril e agosto, para atender a semeadura da safra de grãos.


Passado esse período, normalmente o mercado tende a ser mais calmo e com preços mais frouxos no último trimestre, devido ao menor consumo pela agricultura, carro-chefe no mercado de fertilizantes no país.


Isto pode representar oportunidades de compras para o pecuarista, que normalmente fará a adubação das pastagens após as chuvas ficarem mais regulares e bem distribuídas, ou seja, a partir de outubro/novembro considerando o Brasil Central e região Sudeste.


Além da possibilidade de preços mais baixos para os fertilizantes após esse período de maior demanda para agricultura, a expectativa de alta no preço da arroba do boi gordo neste segundo semestre pode favorecer ainda mais o poder de compra do pecuarista frente ao insumo (relação de troca).


Os investimentos nas pastagens são fundamentais para a intensificação do sistema de produção, melhoria dos índices zootécnicos e, consequentemente, dos resultados das fazendas de pecuária que baseiam a produção no pasto.


Para o pecuarista, o momento está favorável e pode ficar ainda melhor para a aquisição de adubos no curto e médio prazo.


¹ ROCHA et al.,1999; ROCHA et al., 2002; CECATO et al., 2004; BARCELOS et al., 2011; VIANNA et al., 2011


Originalmente publicado em www.nutrimosaic.com.br



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