• Quinta-feira, 28 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Mitos e verdades das “Novas Soluções Tecnológicas” para o manejo da fertilidade do solo da pastagem e para a nutrição da planta forrageira – parte 3


Terça-feira, 7 de julho de 2020 - 10h15

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.


Fonte: Scot Consultoria


Dando continuidade a Mitos e verdades das “Novas Soluções Tecnológicas” para o manejo da fertilidade do solo da pastagem e para a nutrição da planta forrageira – parte 2.


Ureia x nitrato e sulfato de amônia

Como fontes de nitrogênio (N) há décadas a pesquisa nacional tem comparado as fontes de N-amídico (ureia) e N-amoniacais (nitrato e sulfato de amônio), em pastagens. Nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), desde 2005 o Grupo de Estudos e Trabalhos de Pesquisas em Pastagens (GET) têm conduzido uma linha de pesquisa comparando aquelas fontes de N e já em dois experimentos não houve nenhuma diferença estatística na resposta dos parâmetros avaliados. Depois desta serie de experimentos foram incluídas as tecnologias de ureia com inibidor de uréase, ureia combinada com cobre e boro e ureia misturada com sulfato des amônio. Embora haja embasamento científico que suporte aquelas tecnologias, em dois experimentos realizados por integrantes do GET, na FAZU, não foram encontradas diferenças significativas entre as fontes de N avaliadas para nenhum dos parâmetros.

Fixação biológica de nitrogênio


Tem sido recomendado o uso de microrganismos fixadores de N em pastagens de gramíneas. O processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN) é bem conhecido em raízes de leguminosas forrageiras e de culturas agrícolas (soja, por exemplo), através do processo simbiótico com bactérias do gênero Rhizobium sp. Recentemente tem sido provado pela pesquisa nacional que em raízes e colmos das gramíneas forrageiras, capim-colonião, capim-tanner grass (ou Braquiária-do-brejo), o gramão (ou cuiabana, ou Mato Grosso, ou forquilha, ou Batatais, ou Pernambuco), e as Braquiárias brizantha cultivar marandu (capim-braquiarão), decumbens e humidicola, têm associações naturais com microrganismos de vida livre, tais como algas e, principalmente com bactérias do gênero diazotróficas do gênero Azospirillum sp, fixando até 30 kg de N/ha/ano. Apesar do uso de soluções compostas com microrganismos fixadores de N em plantas monocotiledôneas (mesma divisão das gramíneas forrageiras ou capins forrageiros) virem sendo validadas internacionalmente através de aplicação via foliar ou via raiz em cultivos de arroz, aveia, cana-de-açúcar, cevada, milho, sorgo, trigo, e até mesmo em pastagens de clima temperado (capim-azevém consorciado com trevos), os experimentos em pastagens tropicais e subtropicais ainda são recentes e escassos para constituir um banco de dados consistente que possa dar suporte para os consultores recomendarem a sua adoção pelos produtores.  Em um experimento realizado na FAZU por integrantes do GET:FAZU não houve resposta à aplicação daquela solução comparada com a testemunha para nenhum dos parâmetros avaliados. 


Dependência de fertilizantes


É evidente ser fundamental a busca incessante por alternativas para o manejo da fertilidade dos solos e nutrição de plantas diante das previsões futuras para a crescente dependência pelos fertilizantes para a produção de alimentos e das projeções de exploração das reservas minerais de matérias primas de fertilizantes. No início dos anos 2000 a aplicação de fertilizantes contribuiu com 43% dos 70 milhões de toneladas de nutrientes removidos pela produção agrícola global, mas no futuro (até o ano 2050), para suprir a demanda crescente por alimentos essa contribuição deverá passar de 84%. Por outro lado, com base no consumo de fertilizantes de 2010, as reservas minerais tinham uma projeção de exploração de mais 96 anos para as reservas de nitrogênio e de fósforo, de 230 anos para as de potássio e de 64 anos para as de enxofre. Eu não estou afirmando aqui que aquelas “novas soluções tecnológicas” não trazem respostas positivas, eu até acredito que sejam eficazes.


Entretanto, as ditas “novas soluções tecnológicas” que vêm sendo oferecidas pela indústria que as desenvolve e pelas empresas que as comercializam têm que, antes de vendidas para os pecuaristas, serem primeiro, validadas em pesquisas de longo prazo realizadas por instituições de pesquisa e ensino independentes para serem recomendadas para situações especificas. É preciso que os agentes daquelas indústrias:empresas entendam que um ecossistema pastoril é extremamente mais dinâmico, e por isso mais complexo que os ecossistemas agrícolas, principalmente pela presença do animal em pastejo, e da dinâmica de ciclagem de nutrientes na pastagem, principalmente em solos que vêm sendo corrigidos e adubados por vários anos, devido ao efeito residual de corretivos e adubos.

O certo pelo incerto


Em tempo: o mais intrigante, e que daria tema para a defesa de uma tese de doutorado é explicar o comportamento paradoxal dos pecuaristas e de muitos técnicos, que é o de adotar tão facilmente “as novas soluções tecnológicas” para a intensificação da produção animal, principalmente se aquelas são usadas em pequenas quantidades, veiculadas através da água, na forma de “pozinhos”, em detrimento da adoção de tecnologias validadas por instituições de pesquisas de renome nacional e internacional e adotadas mundialmente com sucesso, como por exemplo, a aplicação de calcário, tecnologia esta adotada por apenas 7,98% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Pergunto, o que adianta aplicar bioestimulantes, organismos fixadores de N etc. em solos de fertilidade natural muito baixa sem primeiro serem corrigidos?



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja