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Scot Consultoria

Plantas daninhas e seu impacto nas pastagens


Terça-feira, 3 de março de 2020 - 16h00

Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.


Foto: Scot Consultoria

 


Introdução

Em nosso último artigo de 2019, intitulado a pizza e a pastagem, comentamos sobre o impacto da competição exercida por plantas daninhas sobre a formação das pastagens e seus reflexos na produtividade inicial das forrageiras, e algumas alterações morfológicas que decorrem dessa competição.


Neste texto avançamos um pouco mais sobre as perdas decorrentes da presença de plantas daninhas e a interface com o nosso principal interlocutor dentro da pastagem: o boi.


Perdas na produtividade

Os estudos científicos relativos às perdas de produtividade em pastagens, decorrentes da competição exercida por plantas daninhas, não são numerosos em ambientes de clima tropical e a grande maioria está relacionada aos estágios de implantação da pastagem, e poucos são relativos às áreas estabelecidas há alguns anos, que por sinal, representam a grande maioria das pastagens de nosso imenso Brasil.


Nas renovações de pastagens, as informações convergem para o período crítico de competição, que se inicia muito precocemente, entre 7 a 14 dias após a emergência das sementes da gramínea forrageira, até 35 a 50 dias, período onde é capital o controle das invasoras, com reflexos importantes na produtividade.


Sem dados científicos, mas com impactos visuais marcantes, os fornecedores de insumos, (particularmente os produtores de herbicidas para pastagens), em seus dias de campo têm demonstrado o efeito que as plantas daninhas causam sobre a produtividade de pastagens estabelecidas.


Nessas condições, determinando-se a capacidade de suporte da área limpa e da área infestada, chega-se a diferenças de duas a três vezes em favor da área limpa, como pode-se observar em algumas fotos a seguir de áreas antes e após recuperação com herbicidas.



Antes/Depois


Fonte: Corteva -  https://pastoextraordinario.com.br/



Antes/Depois


Fonte: Corteva



Antes/Depois


Fonte: Saladino – Embrapa CNPGC


Acesso à forragem

Outro dano relativo às plantas daninhas em pastagens se refere ao acesso que os animais têm à forragem. O capim pode até estar presente, porém inacessível para pastejo. Isso não apenas ocorre com espécies daninhas que possuem espinhos, esse é apenas um complicador maior, mas a simples presença das invasoras já limita o forrageamento pelos animais.


Muito simples de se constatar isso na prática, onde se encontra uma pequena área limpa, os animais a pastejam à exaustão, o superpastejo, transformando-o no que o pessoal do campo chama de “malhador”, e a pastagem ao lado, infestada, permanece intocada pelos animais, e nesse caso temos o subpastejo. Ambos indesejáveis pela degradação que causam, um destruindo a planta forrageira e outro pela subutilização da produção existente e perenizando as invasoras no pasto.


Mesmo plantas daninhas rasteiras ou herbáceas de pequeno porte, como as guanxumas, afetam a capacidade de pastejo dos bovinos, que interceptam o capim com a língua, cortando-o com os incisivos inferiores para posterior maceração, ou seja, tem que haver volume em cada bocado para que os animais ingiram o necessário.


Outro fator que explica o sub e superpastejo decorrente da presença de plantas daninhas, deve-se ao hábito gregário que os bovinos desenvolveram durante a evolução das espécies. Por serem herbívoros, presas na cadeia alimentar, desenvolveram a necessidade de contato visual entre os indivíduos para sentirem-se seguros no ambiente. Fato este também constatado na prática, onde se observam os animais amplamente distribuídos em uma pastagem limpa, onde longas distâncias permitem o contato visual, ao passo que os animais permanecem extremamente agrupados em local de “juquira”.


A presença de plantas arbustivas e arbóreas levam também a um outro efeito indesejável, que é o da compactação do solo, direcionada pelo caminhar concentrado dos animais ao redor dessas plantas. Como a forrageira não é acessada, um caminho vicioso do gado acontece, visando desviar desse obstáculo formado.



Foto do autor - O bovino necessita de volume em cada bocado para que a ingestão de capim atenda sua demanda.


O impacto das plantas daninhas na qualidade da forragem

Já mencionado em artigos anteriores, mas sempre é bom lembrar: a presença de plantas daninhas, além de diminuírem a produção, também afetam a qualidade da pastagem.


As plantas forrageiras, quando sob competição com as daninhas, além de menor perfilhamento, tendem a estiolar para tentar levar suas folhas à uma melhor posição para captar a luz solar. Nesse estiolamento a forrageira produz mais talos, aumentando o teor de fibra indigerível, numa pior relação talo/folha do capim.


Esse fator já foi bastante estudado no Brasil, e aqui como exemplo, um trabalho conduzido pelo doutor Sidnei Marchi da UFMT de Barra do Garças-MT, onde se comparam diferentes períodos de competição entre plantas daninhas e pastagem de Brachiaria brizantha, num total de 120 dias de estudo. Nos extremos encontramos 17% de fibra em detergente neutro indigerível quando não houve nenhuma competição, passando para 25,6% quando durante esse período houve convívio com as invasoras. A princípio pode parecer pouco, mas isso representa um acréscimo de 33% na quantidade de fibra indigerível do material. Além da óbvia redução da capacidade de suporte, de mais de 50%, decorrente da menor produtividade.


Tabela 1.


Valores médios da porcentagem de fibra em detergente neutro (FDN) e da fibra em detergente neutro indigerível (FDNi) obtidos após a eliminação da casadinha. Barra do Garças-MT, 2011.


Dias no Limpo FDN (%) FDNi (%) Redução capacidade
de suporte (%)1
120 75,5 b 17,0 a -
15-120 72,5 ab 18,1 a 6,5
30-120 73,3 ab 18,6 a 9,4
45-120 73,8 ab 19,0 ab 11,8
60-120 71,2 ab 19,1 ab 12,3
75-120 72,2 ab 23,5 bc 38,2
90-120 71,5 ab 24,4 c 43,5
0 68,6 a 25,6 c 50,6
F Dias 2,10* 10,53* -
F Bloco 2,20 NS 0,71 NS -
C.V. (%) 3,88 9,78 -
NS - Não significativo. * Significativo ao nível de 5% de probabilidade. Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
1 - Redução proporcional à ausência de competição (120 dias no limpo)

Fonte: Marchi, S.R. at al., 2011


Mensagem final

Tenhamos em mente que o boi é a nossa colhedeira de capim, facilitemos a operação de “colheita”, com a eliminação as plantas daninhas e teremos o retorno em carne, leite e bezerros.


Até breve.



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