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Scot Consultoria

“ILPFar e coçar é só começar”


Segunda-feira, 29 de abril de 2019 - 05h50

Médico veterinário pela UNESP – campus de Jaboticabal, especialização em produção animal pela UFLA e atual Consultor senior da CRIATEC - Consultoria em Agronegócios.


Foto: Vacas paridas em sistema silvipastoril, Faz. Santa Brígida, Ipamerí-GO.


Está aí uma tecnologia que quem começa não consegue parar, é isso que temos convivido em nosso dia a dia no campo nas fazendas que se atrevem a implementar a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Principalmente, pelo dinamismo imposto ao produtor e sua equipe, o contágio é intenso. 


A fazenda passa a ter uma disciplina própria, tudo passa a necessitar de planejamento, orçamento, desenvolvimento, controle e ações corretivas. Tem o dia para adquirir os insumos, tem o dia para regular as máquinas, tem o dia de tirar o gado da palhada, tem o controle de lagarta, tem a regulagem do pulverizador, tem o controle de peso do gado, e assim segue uma imensa gama de atribuições a uma equipe que estava acomodada a um “modus operandi” apático, e sem emoções. 


Acompanhar a meteorologia, verificar preços de insumos, entender a logística de distribuição de calcário pelas áreas, construir planilhas para monitorar afazeres, montar o cronograma de pastoreio das áreas de consórcio com gramíneas, fazer o desbaste de árvores, enfim um sistema dinâmico que fascina. 


Está claro que somos motivados por desafios, alguns produtores que conheço, acostumados a uma atividade pecuária de cria e recria e um ritmo de trabalho bem tranquilo, agora assumem uma postura totalmente distinta, digna de um empresário bem-sucedido, utilizando ferramentas de informática, controlando tudo e todos, um choque de gestão. 


Quando me pego falando assim fico até preocupado, será que todos irão pensar que tudo na ILPF é um “mar de rosas”, um “céu de brigadeiro”. Como tudo na vida, na Integração Lavoura-Pecuária-Floresta nem tudo são flores, a quem se habilita a implementar agricultura em uma fazenda de pecuária, os desafios são bem maiores, porém estes desafios não deixam de serem estimulantes. 


O primeiro obstáculo são os investimentos demandados para as várias ações necessárias como a habilitação das áreas, retirada de tocos, pedras, construção de terraços, distribuição e incorporação de calcário, gesso e fósforo, adequação de cercas, pontes e mata-burros para suportar movimento de carretas e maquinas agrícolas, enfim a estruturação física da operação agrícola é pesada para muitos pecuaristas mais tradicionais.


O segundo desafio é a equipe de colaboradores. Fazer um peão montar um trator é possível, porém não será fácil, quem gosta de bicho normalmente não gosta de máquina, e quem gosta de máquina, não gosta de bicho. Conseguir ter híbridos que passem pelo lombo do trator e pelo banco do cavalo é tarefa árdua.



Foto: Estrutura da fazenda alterada pelas necessidades da ILPF, Faz. Santa Brígida, Ipamerí-GO. 


Esta questão de equipe, devemos trabalhar mais, merece muito de nossa atenção. De todos os nossos resultados na Integração, 10% virão da tecnologia que você irá empregar, mas 90% destes resultados virão das pessoas de sua equipe. Enquanto ainda não tivermos fazendas integradas totalmente “smart” e autônomas, teremos que ser bom de “gente”. 


Para ser bom de “gente”, onde eu “compro” esta tecnologia? 


Infelizmente isso não está à venda, porém podemos nos capacitar como gestores de gente, as questões de liderança, motivação, coordenação, comunicação, recrutamento e retenção de talentos na fazenda.


Existem boas ferramentas para colocarmos em prática e construir uma equipe exitosa, o grande problema é que em sua maioria, as fazendas são muito amadoras quando o assunto é equipe, entendem mão-de-obra como centro de custos e não como o local dos resultados, aí o ar condicionado do refeitório nunca é instalado, o campinho de futebol todo degradado, o parquinho da colônia não existe, o transporte de pessoas para a cidade é precário, plano de saúde para funcionários é heresia, o Wifi é bloqueado para os funcionários. Enfim, os menores investimentos que trariam os melhores resultados, deixam de existir.



Foto: Equipe multifuncional, motivada e comprometida, Faz. Santa Brígida, Ipamerí-GO.


Como na fazenda de ILPF os resultados dependerão muito da equipe e dos seus líderes, quem tem cuidado disso tem obtido sucesso. E daí, por onde começar? Quanto mais eu me informo sobre a Integração, mais dúvidas eu tenho?


Quando temos uma fazenda que a administração ainda é convencional, ainda não temos uma pegada empresarial bem consolidada, o conselho é fazer um curso de capacitação em ILPF, temos várias unidades da Embrapa espalhadas por todo o país, temos, universidades, temos institutos de pesquisa e transferência de tecnologias, enfim uma enorme gama de ofertas para se capacitar. Para quem não tem disponibilidade para estes cursos presenciais, as opções EAD como os módulos do SENAR em parceria com a Embrapa também são excelentes opções.


Outra atitude assertiva é buscar algum bom técnico para ter a tira colo, de preferência alguém mais holístico, mais eclético, que possa te ajudar em um contexto mais amplo, além das questões de dentro da porteira. 


Que coisa complicada esta ILPF!!!! Primeiro é instigante, fascinante, entrega resultado, se começar não vou parar. Depois vem este monte de complicador, é gente, é consultoria, é tecnologia é o clima, é o solo, é a chuva é a estrada. Acho melhor ficar nas minhas vaquinhas de cria mesmo, não? 



Foto: Complexidade, característica inerente à ILPF, Embrapa Agrossilvipastoril, foto Gabriel Rezende. 


Realmente, sair da zona de conforto e enfrentar esta avalanche de desafios é o que tem de mais fascinante nesta aventura produtiva e sustentável da ILPF. O gostinho da adrenalina e o alívio do pouso de paraquedas só é possível obter se nos lançarmos ao abismo ou pularmos do avião. Em tudo existe uma conquista e uma abdicação. 


No Brasil do Agronegócio não existe outra saída que não a da sustentabilidade, em seu sentido mais amplo, sustentabilidade econômica, social e ambiental, são coisas indissociáveis, simultâneas e necessárias para a longevidade de nossas fazendas.


Já somos o grande ator mundial na produção de alimentos, “árvore que dá bons frutos é a que toma mais pedradas”, precisamos estar preparados para as pressões, nossa responsabilidade como ator principal da segurança alimentar do mundo nas próximas décadas é uma realidade. Temos que estar preparados para estas “pedradas”, elas serão cada vez mais fortes e pesadas.


Fica dica: www.redeilpf.org.br



Foto: William Marchió. Cenário comum as margens de nossas BRs.


 



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