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Scot Consultoria

A pecuária do século 19 convivendo com uma agricultura 4.0 do século 21


Quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019 - 16h45

Médico veterinário pela UNESP – campus de Jaboticabal, especialização em produção animal pela UFLA e atual Consultor senior da CRIATEC - Consultoria em Agronegócios.


Foto: Scot Consultoria


Normalmente, o que temos assistido no campo, quando da introdução dos sistemas integrados de produção agropecuária, é que a pecuária vai ficando “a reboque” em relação à agricultura. Pelo fato de que os bovinos e as pastagens toleram muito as condições inapropriadas, e continuam vivos, é comum a agricultura receber todo aporte tecnológico, insumos, máquinas, assistência técnica, enfim toda a atenção e, a pecuária ficar em “banho maria”.


Foto 1. Cochos inapropriados e desperdício de suplementos.

Foto: Autor


A lavoura cobra um preço muito alto pela ineficiência e a pecuária nem tanto, pelo menos não tão perceptível por parte do produtor, uma lavoura de soja que não recebe os devidos tratos culturais acaba por não produzir e fica só o prejuízo, já o boi continua lá, mesmo que perdendo peso, mesmo não tendo um desempenho satisfatório, mas continua vivo.


Desta forma assistimos um show de improvisos, jeitinhos e gambiarras para conduzir a atividade pecuária, como exemplos das fotos 1 e 3, ao contrário, a agricultura recebe um sofisticado aparato tecnológico (foto 2). E daí vem sempre a comparação impiedosa das atividades, com isso a pecuária sempre é o patinho feio da história.


Alguns até argumentam que a pecuária não necessita de sofisticação, que o correto é mesmo o improviso, sem se dar conta de quanto deste improviso impacta nos resultados de sua atividade. Passa a ser comum um desperdício de 15 a 20% da suplementação no cocho, como se fosse algo extremamente aceitável. Taxas de mortalidade acima de 3% para recria são toleradas, ganho em pesos corporal diário de 300g no verão e 100g na seca são aceitos como inerentes à atividade. Enfim, uma pecuária do século 19 convivendo com uma agricultura 4.0 do século 21.


Foto 2. Avião agrícola utilizado para a agricultura (esquerda) e colheitadeiras de alto valor de investimento para a safra de arroz e soja (direita).

Foto: Autor


Daí vem meus questionamentos, será que em se tratando do mesmo indivíduo, do mesmo proprietário, serão partes distintas do cérebro que trabalham com a pecuária e agricultura, o “lobo agrícola cerebral” é a parte arrojada, ativa, empreendedora e o “lobo pecuária cerebral” é a parte repressora, inativa, retraída?


Pois encontramos estas atitudes incongruentes no mesmo ser, o fazendeiro. Neste mês me deparei em uma fazenda com a compra de um pulverizador para a lavoura de soja de mais de 1 milhão de reais, e o investimento de 400 mil reais no projeto de confinamento está criando mofo na gaveta há mais de cinco anos. Seria a pecuária uma atividade tão incapaz de merecer tecnologia?


Estaria a pecuária condenada a ficar sempre a mercê da sorte? Mesmo algumas tentativas de inovação, como a suplementação proteico energética, acabam caindo em um cocho inadequado onde boa parte vai ao chão.


Foto 3. Negligência em relação à suplementação (esquerda) e confinamento com drenagem inadequada, perda em ganho de peso (direita).

Foto: Autor


Talvez nunca vou chegar a uma resposta, sei também que os novos sucessores já estão passíveis a mudanças e começam a encarar de modo mais profissional a pecuária e entendem que não é possível termos uma atividade rentável em níveis semelhantes aos da agricultura, sem um investimento em tecnologia e monitoramento.


O salto que a atividade pecuária sofre quando se adiciona tecnologia é fantástico, é comum encontrarmos fazendas de recria mantendo um animal por hectare com ganhos pífios de peso médio diário de 200 a 400g e um boi passando mais de dois anos na fazenda para se terminar. Quando instituímos um bom manejo de pastagens, uma adequada suplementação nutricional, um bom programa sanitário, é comum em um primeiro momento dobrar estes ganhos em peso e diminuir drasticamente o tempo de permanência do animal na fazenda, sem contar o fato de que ao melhorarmos o manejo das pastagens é comum dobrarmos a capacidade de lotação das fazendas. Isso em uma narrativa bem simplificada e que comumente assistimos, é até vergonhoso como as fazendas de pecuária são conduzidas normalmente, o gap de oportunidades é imenso.


Alguns jovens sucessores já passam a nos surpreender positivamente, primeiro querem identificar eletronicamente todos os seus animais, entendem este investimento como o mínimo necessário para terem dados individuais dos animais e avaliar o desempenho sem o tal “achismo”. Também estão buscando sistemas automáticos de pesagem individual, pois entendem que o ganho em peso diário é a principal ferramenta de predição de desempenho destes animais e consequentemente a data em que serão abatidos, enfim começamos a ter algumas ferramentas empresariais onde poderemos tratar a fazenda como uma verdadeira indústria e focar nas ações que irão melhorar este desempenho, como o manejo destas pastagens para alto desempenho e também o manejo da suplementação.


Os custos, que antes eram vistos como o “demônio” passam a ser ferramentas do dia a dia, sem medo da verdade, se destinam a direcionar a atividade para uma realidade mais rentável, enfim a profissionalização da pecuária.


Não esquecendo que a pecuária leiteira já vem enfrentando estes desafios não é de hoje, o produtor de leite teve que se moldar para poder continuar com a atividade, inúmeros deles desistiram e saíram da produção, atualmente em muitas fazendas leiteiras o rebanho é todo informatizado e os dados coletados e avaliados diariamente, as ordenhas passaram a ser grandes instrumentos de coleta de dados.


Ao mesmo tempo, assistimos hoje uma avalanche de aplicativos, softwares, balanças, drones, fertilizantes biológicos entre outras ferramentas que prometem muito, uma verdadeira revolução na produção pecuária.


Não podemos nos iludir, como já dizia meu professor de história o Vanderlei “na corrida do ouro do Oeste Americano, quem ficou rico foram os vendedores de pás, picaretas, carruagens, calças jeans, rifles e pistolas” o americano que foi garimpar, em sua maioria não ganhou nada. Algumas vezes os Stakeholders acabam ganhando e o produtor apenas os servindo de instrumento.


A receita é simples, buscar informações de qualidade, planejar, desenvolver, medir e corrigir. Enfim acompanhar sua atividade pecuária de perto e com objetivos muito bem definidos e factíveis.


A integração Lavoura Pecuária tem conseguido elevar o nível da condução da pecuária nestas propriedades, muito tem se aprendido, ter uma pecuária moderna e rentável passa a ser consequente a uma mudança comportamental destes agropecuaristas que passam a entender como se joga o jogo.


Fica a dica: www.redeilpf.org.br


 



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