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Scot Consultoria

Altas de setembro: típicas como a chuva!


Terça-feira, 18 de setembro de 2018 - 05h50

Graduada em Gestão Ambiental pela ESALQ/USP, mestre e doutoranda em desenvolvimento econômico pela Unicamp. Pecuarista em Mato Grosso. Pesquisadora, consultora e palestrante em temas relacionados à economia.


Foto: Scot Consultoria


Caro leitor,


Você e eu, como pecuaristas, estamos felizes nesta primeira quinzena de setembro. Afinal, temos observado o que os levantamentos da Scot Consultoria indicam: os preços do boi estão subindo na maior parte das regiões do País! Será que iniciamos um novo momento no mercado pecuário? Ou será que esta alta é como as chuvas, que normalmente iniciam nesta época do ano?


Vamos olhar para a figura 1 para ver o comportamento dos preços neste ano de 2018. A linha vermelha apresenta os preços médios do Indicador Esalq/BM&F para São Paulo. Iniciamos o ano, com a arroba valendo em média 154 reais. Desde então, os preços foram cedendo até chegar ao mínimo médio anual, de 139 reais. Um horror? Não! Tal como a redução das chuvas, a queda de preços de janeiro a junho é o esperado.  


O que ocorre é que no primeiro trimestre do ano há maior oferta de fêmeas de descarte, que pressionam a arroba do macho. Já no segundo trimestre, depois de muitos meses chuvosos, a oferta de gado gordo aumenta. Como a maior parte da produção brasileira ainda é de animais terminados em pastagem, é o auge da safra do boi. Deste modo, em situações onde não há aumento significativo no consumo, a oferta pressiona os preços. A tendência histórica de queda de preços (série histórica do Indicador Esalq/BM&F de 1997 a 2018) para o período é ilustrado na figura pelas barras azuis.


Depois de junho, com o cessar das chuvas, restam apenas os animais terminados no semi-confinamento ou no confinamento. Ainda que a tendência seja de aumento dessas duas formas de terminação, em volume de gado pronto, entramos no período da estiagem do boi: a entressafra. Neste ano, além da redução da oferta, normal para o período, as exportações também foram muito bem nos meses de junho e julho! Conforme a imagem ilustra, os preços médios em julho foram 2,3% superior ao de junho; em agosto, 2,1% maiores em relação a julho. Nesta parcial de setembro, a alta já é de 2% em relação ao mês anterior, veja o movimento da linha vermelha do gráfico.


Porém, caro leitor, esta alta é a tendência para o período. É exatamente como esperarmos chover agora. É normal chover em meados de setembro. Estranho seria se iniciarmos outubro sem chuva, pode acontecer, não é? Mas não é o esperado. O mesmo raciocínio vale para os preços. Portanto, estas altas de preço em setembro são tão esperadas quanto o início das águas. Como já mencionado, o padrão de comportamento dos preços é ilustrado pelas barras em azul do gráfico. 


Este padrão, ou índice de sazonalidade, foi abordado com maiores detalhes neste texto.


Expectativas para os próximos meses – Observando a mesma imagem, a linha tracejada em verde representa os preços no mercado futuro, na bolsa de valores B3 para os próximos meses. Cabe lembrar que isto pode OU NÃO acontecer. O que quero chamar a atenção é que o que o mercado futuro está apontando, também é o esperado dentro do padrão de comportamento dos preços. 


Ainda que esteja dentro do índice de sazonalidade, cabe ressaltar que setembro tende a ter um patamar de preços próximo ao de janeiro e, neste ano, ainda está um pouco abaixo. Do mesmo modo, o padrão de comportamento dos preços apontaria para preços mais altos do que a bolsa sinaliza, especialmente nos meses de outubro e novembro. A “rádio peão” nos conta que as escalas para abate seguem curtas, o que pode mudar (para melhor) o cenário de preços. Se isto acontecer, aí sim teremos um ano com os preços se comportando extremamente próximos ao que aponta o índice de sazonalidade. 


Como pecuarista, torço para um ano de preços regulares e, portanto, um pouco mais de alta nos próximos meses. Mas lembre-se, caro leitor, não adianta torcer. Inclusive os preços que a bolsa aponta atualmente podem sofrer alterações, caindo inclusive!!! Como tem sido com o clima, o mercado também é uma caixinha de surpresas. Por isto, há ferramentas disponíveis no mercado futuro para se proteger das baixas de preço. Como estamos aguardando as chuvas iniciarem, vamos também aguardar as “cenas dos próximos capítulos” no mercado do boi!


Figura 1.
Preço médio mensal em 2018 do Indicador Esalq/BM&F do boi gordo, preços da B3 no mercado futuro para setembro/18, outubro/18 e novembro/18 e Índice de Sazonalidade
Fonte: Elaborado por M. Crespolini, com base nos dados do Cepea e da B3.



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