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Scot Consultoria

Nem só de carne é feito um boi


Sexta-feira, 24 de novembro de 2017 - 09h45

Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP.


Foto: Scot Consultoria


Alguma vez na vida você deve ter ouvido o ditado: “Do boi se aproveita tudo, até o berro”. 


E, esta afirmação tem fundamento, principalmente quando analisamos os mercados que o boi pode atender.


Além da produção de carne, o boi produz matéria-prima para abastecer cerca de 55 segmentos diferentes da indústria, que vão desde comestíveis até farmacêuticos.


Essa gama de setores atendidos faz com que nada do boi seja desperdiçado. Diante disso, os subprodutos (que deveriam ser nomeados de derivados) têm papel relevante na composição das receitas industriais.


Estudos apontam que os subprodutos representam 32,67% do peso vivo de um bovino¹.


O couro é o subproduto produzido em maior volume. Para se ter uma ideia, um bovino com 16,5 arrobas produz aproximadamente 50 quilos de couro¹. 


Dentre os produtos originados a partir do couro, além de sapatos, bolsas e estofados, o couro também está presente nos segmentos farmacêutico e de cosméticos, por exemplo. 


O sebo é outro subproduto de importância. Representa cerca de 4% do peso vivo do boi¹ e também atende diversos segmentos industriais. 


A partir dele ocorre a produção de biodiesel, por exemplo. Além disso, está presente na composição de tintas, pneus, sabonetes, entre outros. 


O fato é que não é só da carne que o frigorífico obtém receitas. O lucro da empresa frigorífica só é possível através da comercialização do conjunto dos produtos principais e dos subprodutos.


Subprodutos na receita frigorífica:


Supondo que um frigorífico comprou um boi com 495 kg de peso vivo e que, abatido, teve um rendimento de carcaça de 50%, ou 16,5 arrobas, temos que:


Tomando como base a praça pecuária de São Paulo, a cotação da arroba paga foi R$142,78/@², logo o custo desta operação de compra foi de R$2,36 mil pela cabeça. 


Consideramos na simulação que, após o desmonte, o bovino apresentou 50% de rendimento de carcaça e teve perda de 2% durante o processo de resfriamento, ou seja, sobraram 237,6kg de carcaça.


Com a venda desta carcaça no atacado somando traseiro, dianteiro e ponta de agulha, sem a desossa, considerando os valores vigentes no mercado, R$9,43/kg³, a indústria terá uma receita de R$2,24mil.


Notem que quando comparamos as entradas do frigorífico (R$2,24mil) e as saídas (R$2,36 mil), a conta não fecha. O resultado é negativo em R$115,30. 


Porém, os subprodutos também compõem a receita das indústrias.


Para quantificar a composição de cada subproduto na carcaça bovina, esta simulação utilizou a metodologia do estudo “Rendimento Integral de Bovinos pós Abate”¹.


Uma vez conhecidos os pesos de cada subproduto e multiplicando pelos valores vigentes no mercado, a somatória de todos os subprodutos de um bovino com 495kg permitirá uma receita de R$563,28 para o frigorífico. 


Portanto, quando somamos as receitas da venda de subprodutos com a da carcaça com osso no atacado, temos uma receita total de R$2,80 mil para o frigorífico.


Subtraindo da receita total, o preço que o frigorífico desembolsou para a compra do animal (R$2,36 mil), a operação registra resultado positivo de R$447,98. 


Este resultado positivo representa uma margem de comercialização positiva de 19%.


Notem que só a partir da introdução da receita dos subprodutos o frigorífico conseguiu uma margem de comercialização positiva. 


Vale ressaltar que quando o frigorífico realiza o processo de desossa, esta margem de comercialização é ainda maior, pois os cortes sem osso agregam valor à carcaça.


Historicamente, segundo dados da Scot Consultoria, a diferença entre a margem de comercialização das indústrias que desossam com as indústrias que não desossam é de 5,5 pontos percentuais.


Esta margem não considera na simulação os custos fixos envolvidos nos processos industriais de um frigorífico. A análise identifica a margem de comercialização, e não a margem de lucro.


Conclusão


O boi não representa apenas carne para a indústria frigorífica.


Apesar de grande parte da receita do frigorífico ser originada pela comercialização de carne, os subprodutos são essenciais no resultado.


Além de ser de grande valia para a indústria frigorífica, os subprodutos movimentam diversos segmentos da indústria.


Bibliografia consultada


¹ Rendimento Integral de Bovinos pós Abate – Autores: Ivan Luiz Ledic; Humberto Tonhati; Leonardo de Oliveira Fernandes.
² Preço da arroba do boi gordo, à vista, livre de Funrural na praça de São Paulo. Indicador Scot Consultoria dia 09/11/2017.
³ Preço do quilo da carcaça com osso de animais castrados. Indicador Scot Consultoria dia 09/11/2017.



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