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Scot Consultoria

Tempos de mudanças


Segunda-feira, 18 de setembro de 2017 - 09h30

zootecnista, professor e consultor da Consupec


Foto: Scot Consultoria


Tempos de mudanças! Início de um novo ciclo de baixa nos preços da pecuária de corte! O que se espera neste cenário? Lamentações e reclamações por parte do pecuarista, e sua intenção em reduzir investimentos e custos na atividade, de não adotar tecnologias...


Uma nova onda de interesse em mudar de atividade, ou saindo da pecuária e migrando para a agricultura, ou arrendando terras de pastagens para a agricultura, ou mudando de atividade dentro da pecuária, com saída da cria para recria, ou para a engorda ou para recria e engorda.


Neste contexto qual é a minha orientação: cautela. Conheça primeiro a fundo o negócio que você já está, do qual você conhece melhor, ou pelo menos deveria conhecer melhor.


Mas por que o pecuarista se comporta assim? Na minha avaliação, e esta não é de hoje, já são 26 anos acompanhando a pecuária de fora, mas principalmente de dentro da porteira, o que explica em grande parte aqueles comportamentos é a abordagem que farei a seguir neste artigo:


A grande maioria dos pecuaristas não conhece a fundo a atividade pecuária, nem mesmo os índices de produtividade (índices zootécnicos, por exemplo), mas principalmente os indicadores econômicos.


No meu ponto de vista (e de muitos colegas de profissão e atuação) o maior desafio da atividade pecuária é a falta de gestão desta como uma atividade empresarial. A maioria dos pecuaristas não se interessa, até mesmo não gosta e nem compreende o que é gerir uma atividade econômica.


Gestão é uma sequência de medidas que buscam DIRIGIR, ADMINISTRAR e EMPREENDER. Considera-se que o conceito clássico de GESTÃO compreende uma série de ações que buscam o LUCRO como objetivo final.


Eu posso caracterizar os diferentes perfis dos pecuaristas quanto à gestão do seu negócio, assim:


- Pecuarista que não conhece nem os indicadores de produção (por exemplo, índices zootécnicos do seu rebanho) e nem os indicadores econômicos. A maioria dos pecuaristas têm este perfil.


- Pecuarista que conhece os indicadores de produção, mas não conhece os indicadores econômicos;


Nestes dois perfis acima não se sabe qual é o capital imobilizado na atividade e tem contas pessoais misturadas com as contas de sua atividade econômica... 


A EXAGRO (empresa de consultoria composta de uma equipe de aproximadamente 40 consultores engenheiros agrônomos, médicos veterinários e zootecnistas) apresentou um relatório de diagnóstico de 121 propriedades de pecuária de corte realizado em 2011, dos quais em apenas 35,0% destas os pecuaristas tinham dados para a elaboração de um diagnóstico, enquanto apenas 0,83% tinha uma análise da produção e da margem líquida do seu negócio.


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, mas dos econômicos só faz controle pelo fluxo de caixa, entretanto, não avalia o fluxo de caixa orçado e realizado mensalmente;


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia mensalmente o fluxo de caixa orçado e realizado, mas não conhece os custos unitários (por cabeça, por bezerro desmamado, por novilha parida, por arroba produzida e por arroba vendida);


Muitos dos que apresentam os perfis citados acima confundem custos com despesas em seus controles.


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia mensalmente fluxo de caixa orçado e realizado, conhece os custos unitários, mas não avalia o resultado numa perspectiva de médio e longo prazos (taxa interna de retorno - TIR, “pay back”, etc.);


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia o fluxo de caixa orçado e realizado mensalmente, conhece os custos unitários, avalia o resultado numa perspectiva de médio longo prazos, mas não faz balanço patrimonial;


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia o fluxo de caixa orçado e realizado mensalmente, conhece os custos unitários, avalia o resultado numa perspectiva de médio e longo prazos, faz balanço patrimonial, mas não toma decisões com base nas análises destes indicadores;


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia o fluxo de caixa orçado e realizado mensalmente, conhece os custos unitários, avalia o resultado numa perspectiva de médio longo prazos, faz balanço patrimonial, toma decisões com base nas análises destes indicadores, mas não sabe comprar os insumos usados na sua propriedade e nem comercializar seus produtos;


Pecuarista que conhece os indicadores de produção e os indicadores econômicos, faz controle pelo fluxo de caixa, avalia o fluxo de caixa orçado e realizado mensalmente, conhece os custos unitários, avalia o resultado numa perspectiva de médio longo prazos, faz balanço patrimonial, toma decisões com base nas análises destes indicadores e sabe comprar os insumos necessários e comercializar seus produtos;


Nesta altura da nossa conversa com o pecuarista ele vai se manifestar assim: “Para ser pecuarista eu preciso saber disso tudo? Ai que saudade daquela pecuária tradicional! Se eu precisar saber de todas estas coisas complexas para ganhar dinheiro com a pecuária é melhor eu sair desta atividade!”... É, eu também tenho um certo saudosismo com aquela pecuária, lembrando da minha infância e adolescência na fazenda dos meus pais lá no Norte de Minas, mas neste mundo de mudanças rápidas, a pecuária também mudou rapidamente, e como!


Aqui é preciso refletir para entender melhor as causas para o não uso de controles pelos pecuaristas na gestão da atividade pecuária:


1 - Por desconhecimento da importância daqueles controles;


2 - Por não gostarem de manusear papéis, planilhas, programas;


3 - Pela complexidade de alguns sistemas de controle;


4 - Por apresentarem resistência em capacitar pessoas para organizar as informações que deverão ser controladas;


5 - Por serem muito desconfiados e por isso não querem abrir suas movimentações financeiras para terceiros;


6 - Estão endividados e têm medo de quantificar o valor das dívidas;


7 - Estão tendo lucro nos seus negócios e, portanto, entendem que não precisam de controles.


Mas em uma conversa com outro pecuarista ele se manifesta assim: e o que eu devo fazer para ser um exemplo do último tipo de pecuarista? Agora sim, nesta altura da nossa conversa eu vou orientá-lo passo a passo o que eu tenho orientado aos meus clientes:


Primeiro passo: inventarie todos os recursos de sua propriedade (recursos naturais, humanos, financeiros...). Este inventário de recursos será a base para a elaboração de um diagnóstico da situação atual e da potencial da propriedade. O diagnóstico tem a finalidade de apresentar onde aquele projeto está;


Segundo passo: inventarie os bens da sua propriedade do último ano civil ou agrícola (terra, benfeitorias, edificações, máquinas, implementos, veículos, rebanho, insumos em estoque...);


Tem pecuarista que faz o controle no ano civil e tem pecuarista que faz no ano agrícola. Para a atividade de cria ou para ciclo completo eu recomendo fazer no ano agrícola, ou ano safra, de julho a junho;


Terceiro passo: deprecie aqueles bens e calcule seus custos fixos;


Quarto passo: levante os custos variáveis do último ano civil ou agrícola;


Quinto passo: levante as despesas administrativas do último ano civil ou agrícola;


Sexto passo: calcule o custo de oportunidade do capital investido na atividade no último ano civil ou agrícola;


Sétimo passo: calcule o custo operacional e o custo total do último ano civil ou agrícola;


Oitavo passo: calcule os custos unitários (por cabeça mês e anual, por bezerro desmamado, por novilha parida, por arroba produzida, etc.);


Nono passo: some as receitas do último ano civil ou agrícola;


Décimo passo: calcule o resultado econômico do último ano civil ou agrícola (lucro total e unitário, lucratividade, rentabilidade, etc.);


Décimo primeiro passo: calcule o balanço patrimonial do seu negócio do último ano civil ou agrícola;


Décimo segundo passo: por fim, use este modelo de controle e análise para fazer o orçamento do próximo ano civil ou agrícola e, a partir daqui, reavalie mensalmente o seu fluxo de caixa comparando o orçado com o realizado e vá tomando decisões.


Para seguir o 12o. passo estabeleça um plano de metas para o próximo ano civil ou agrícola e planeje o seu negócio no curto (planejamento operacional), no médio (planejamento tático) e longo prazo (planejamento estratégico).


O plano de metas ditará aonde se quer chegar, enquanto o planejamento estabelecerá como será possível chegar às metas estabelecidas. Apresente seu planejamento para a sua equipe e a treine para que ela execute o planejado.


Depois adote ferramentas de controle para avaliar se o planejado estará sendo executado.


Mas aqui mesmo este pecuarista interessado em promover mudanças em seu negócio vai perguntar: mas como eu farei tudo isso? Eu não tenho noção de como fazer isso. Eu sei disso e não recomendo que o pecuarista assuma o compromisso de fazer todo este trabalho. Eu oriento que ele contrate uma consultoria especializada para fazer. E direi mais a ele: na minha experiência a maioria dos pecuaristas que se propôs a realizar aquele trabalho desistiu em menos de seis meses. Eles faziam um mês, dois meses, atrasavam o terceiro mês, corriam e faziam terceiro e o quarto mês no quarto mês, ai atrasavam o quinto, depois o sexto, e aí desistiam.


Uma consultoria especializada vai criar os modelos de controle específicos para a sua atividade, acompanhará por pelo menos um ano orientando, elaborando relatórios e treinando alguém da equipe da empresa para, a partir do segundo ou terceiro ano lançar os dados e gerar os relatórios, os quais deverão ser analisados pelo pecuarista ou seu gerente com a supervisão e a orientação da consultoria.


Mas ainda nesta primeira conversa o pecuarista vai me perguntar: “mas esta consultoria vai custar caro?” Não! Por exemplo, na planilha de gestão de custos e análise do resultado econômico do ano 2016 de uma fazenda de pecuária de corte localizada no Estado de Goiás onde eu estava quando escrevi este artigo, o custo da consultoria agronômica:veterinária:zootécnica representou 2,6% dos custos variáveis, 1,94% do custo operacional e 1,29% da receita.


Você pecuarista só vai conseguir tomar decisões acertadas, principalmente em tempos de mudanças, de virada de ciclo, em tempos de turbulências na economia se você conhecer a fundo o seu negócio. Conhecendo assim, você, junto com seu gerente, com sua equipe e com seu consultor, vai encontrar alternativas e, diga-se de passagem, elas são muitas, para se manter competitivo na sua atividade ainda que o contexto não seja o mais favorável.


Mas o que é ser competitivo? É pelo menos se manter e, melhor ainda, crescer um pouco, quando os preços do produto que você comercializa estão em baixa, quando as relações de troca dos insumos que você utiliza na atividade e os preços dos produtos que você comercializa (bezerros, fêmeas e touros de descarte, bois gordos) estão desfavoráveis.  


Há uma frase que ouvi de um colega (Marco Aurélio, da empresa de consultoria Marco Rural de Uberlândia) – “quem planeja às vezes erra! Quem não planeja às vezes acerta”. Pecuarista, está em suas mãos a decisão do risco que você quer correr: acertar ou errar?



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