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Scot Consultoria

Uma greve política


Segunda-feira, 9 de novembro de 2015 - 14h00

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.



Nada é mais característico da insanidade que representa uma empresa estatal do que a atual greve dos petroleiros.


Não é segredo para ninguém que a Petrobras vive uma crise sem precedentes, devido, principalmente, à interferência política na gestão da empresa, além, é claro, do maior escândalo de corrupção da história.  Não por acaso, a empresa se encontra às voltas com a maior dívida corporativa do planeta, que já ultrapassa os 100 bilhões de dólares e continua subindo.  Para piorar um pouco mais as coisas, quase todo o seu faturamento é realizado em reais, o que a torna totalmente vulnerável às oscilações do câmbio.


Se fosse uma empresa privada, muito provavelmente a Petrobras já teria falido, uma vez que, pelo menos no momento, a geração de caixa é insuficiente para saldar sua enorme dívida.  Para tentar salvá-la, a atual administração pretende, aos trancos e barrancos, vender alguns ativos, aumentar a produtividade e, last but not least, convencer o governo a autorizar novos reajustes nos preços internos dos combustíveis - o que não é nada fácil.


Murilo Ferreira, ex-presidente do Conselho de Administração, por exemplo, afastou-se da empresa recentemente, impressionado com o tamanho do corporativismo e do apadrinhamento vigentes naquela estatal, onde muitas vezes os funcionários se comportam e recebem benefícios mais como donos do que como empregados.


Diferentemente da maioria das empresas, o interesse prioritário da Petrobras não é auferir lucros para remunerar os acionistas.  Seu primeiro objetivo sempre foi ser a ponta de lança das políticas energéticas e industriais do governo.  Assim, os preços dos combustíveis podem ficar congelados por anos, não apenas para ajudar no controle da inflação, mas principalmente para angariar votos para os governantes da hora.  No mesmo diapasão, a empresa tem sido obrigada a conduzir uma política estúpida de conteúdo local em suas aquisições, ainda que a um custo altíssimo, apenas para agradar os nacionalistas de plantão e, claro, encher os bolsos de meia dúzia de empresários bem conectados.


Mas o descalabro não acaba aí.  Mesmo diante de uma dívida imensa e sem geração de caixa suficiente, a empresa está obrigada, por lei, a participar com, no mínimo, 30%, de qualquer investimento para prospecção no pré-sal. Junte-se a isso uma política de concessão de benefícios corporativos que, entre outras barbaridades, contempla o pagamento de bônus aos funcionários, mesmo quando o resultado é negativo, como aconteceu em 2014, quando a empresa, embora apresentando um prejuízo da ordem de 21,5 bilhões, pagou participação de 1 bilhão aos seus empregados.


Numa situação delicada como essa, seria de esperar um esforço conjunto de todos - direção, acionistas e funcionários - para tirar a empresa do buraco.  Não na Petrobras.  Mesmo diante de tantos problemas, o sindicato dos petroleiros resolveu entrar em greve, agravando um pouco mais as coisas com a redução da produção, que já chegou a 800 mil barris em uma semana.


O pior, entretanto, é que se trata de uma greve eminentemente política, o que se depreende da leitura das reivindicações dos grevistas.  Não pensem que a turma parou porque está com salários atrasados ou por melhores condições de trabalho.  Nada disso.  Vejam o rol de propostas dos valentes:


- Manutenção da Petrobras como uma empresa integrada e indutora do desenvolvimento nacional.


- Suspensão da venda de ativos e conclusão das obras do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), da Refinaria Abreu e Lima (PE) e da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Mato Grosso do Sul (Fafen-MS).


- Preservação da política de conteúdo nacional, com construção de navios e plataformas no Brasil.


- Garantia de que as riquezas do pré-sal sejam exploradas pela Petrobras, em benefício do povo brasileiro.


- Implementação de uma nova política de saúde e segurança que garanta o direito à vida e rompa com o atual modelo de gestão que já matou 19 trabalhadores só este ano.


- Recomposição dos efetivos.


- Preservação de todos os direitos conquistados pelos trabalhadores.


Segundo comunicado do próprio sindicato, "Os petroleiros entraram em greve no [último] domingo por uma causa que é de todos os trabalhadores brasileiros: a luta contra a privatização da Petrobras, a defesa da vida e da soberania."


Mais genérico do que isso, impossível.  Em resumo, a greve pretende manter - e ampliar - todas as políticas esdrúxulas que colocaram a empresa nessa situação.  Tirando o item referente à "implementação de uma nova política de saúde", todo o resto é blábláblá ideológico da pior qualidade.


É claro que esses absurdos seriam impensáveis em qualquer empresa privada, ou até mesmo em estatais de países sérios.  Mas não em Pindorama.  Aqui, graças a um extemporâneo mecanismo de estabilidade no emprego, os funcionários sentem-se livres, leves e soltos para promover esse tipo de chacrinha, não raro obedecendo às ordens de algum partido de extrema esquerda que domina a direção do sindicato.


Não sei não, mas acho que esse pessoal vai acabar matando a sua galinha dos ovos de ouro...


Por João Luiz Mauad



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