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Scot Consultoria

A moralidade dos juros e as preferências de tempo


Quarta-feira, 29 de julho de 2015 - 11h08

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


A sociedade, em geral, despreza os banqueiros, os rentistas e aqueles que emprestam dinheiro e cobram juros por isso. Parte desse sentimento é proveniente da ideia de que essas pessoas ganham dinheiro sem fazer nada, uma vez que o dinheiro seria "estéril". Esse pensamento se deve a um total desconhecimento da diferença entre as taxas de preferência de tempo de cada indivíduo.

Nós temos um tempo limitado de vida, e queremos aproveitá-lo o mais rapidamente possível. Qualquer indivíduo prefere ter uma determinada quantia de dinheiro agora do que no futuro, para desfrutar de bens e serviços agora do que mais tarde. Porém, algumas pessoas têm uma preferência de tempo muito alta. Elas têm um forte desejo de consumir imediatamente, mesmo que isso signifique ter uma certa quantia de dinheiro no presente, e um gasto maior que a mesma no futuro. Por outro lado, alguns agentes econômicos tem uma preferência de tempo baixa. Eles estão dispostos a abdicar de consumir no momento, desde que recebam uma recompensa por essa privação. É nas diferentes preferências temporais que se encontra a origem da taxa de juros. João tem uma preferência temporal alta, e prefere perder até 150 reais daqui a três anos, desde que tenha 100 reais agora. E Silva acha conveniente ficar três anos sem gastar 100 reais, desde que ganhe pelo menos 120 ao final do período. Portanto, se Silva emprestar 100 reais para João, e 36 meses depois receber 130 reais de recompensa (ou seja, 30 reais de juros), a troca será boa para ambos os lados. João satisfez seu desejo de obter recursos imediatamente pagando juros que estavam dentro dos limites de sua preferência temporal, e Silva lucrou por ter deixado temporariamente de consumir.


O juro, portanto, não é um ganho ilegítimo, mas sim o custo do "aluguel do dinheiro", uma recompensa justa pelo empréstimo e pela abstenção temporária do emprestador. Podemos analisar a situação por outro ângulo: se os juros fossem um roubo, então as pessoas simplesmente jamais pegariam empréstimos. Como muitas delas fazem isso voluntariamente, então tal crítica não tem sentido.


Diferentes empresas pegam empréstimos para conseguir capital que viabilize os seus investimentos, e diversos estudantes, para pagar os seus estudos e aumentar a sua capacitação profissional. Alguns trabalhadores pegam dinheiro emprestado para adquirir bens de capital que aumentem a sua produtividade, e muitas famílias, para não adiar a viagem dos sonhos, a compra da casa própria ou a aquisição de um carro.


Uma medida que proibisse o empréstimo de dinheiro, além de ser uma violação do direito de fazermos o que quisermos com a nossa propriedade, só serviria para prejudicar tanto os poupadores quanto os tomadores de recursos, diminuindo drasticamente a eficiência do mercado.


Os bancos


O conhecimento se encontra disperso pela sociedade. Um poupador pode querer emprestar o seu dinheiro, porém não conhece ninguém disposto a pegar dinheiro emprestado. Um devedor pode querer um empréstimo, porém não conhece ninguém disposto a emprestar para ele.


O banco nada mais é do que o intermediário financeiro entre os poupadores e os devedores. As pessoas depositam as suas economias em uma instituição bancária, que por sua vez disponibiliza esses recursos para quem precisa deles imediatamente e está disposto a pagar juros por isso. A taxa de juros do mercado é determinada pela oferta e demanda de empréstimos. Se há muitos poupadores e poucas pessoas querendo dinheiro imediatamente, ela tende a cair, e se for uma situação contrária, a taxa sobe.


O banco paga juros aos poupadores, que são menores do que os juros que ele cobra dos devedores. Essa diferença, após se descontar os custos operacionais, é o lucro do banco. Esse lucro não é ilegítimo, uma vez que é a justa recompensa pelo papel de intermediário na transação. Se os bancos não existissem, as pessoas teriam muito mais dificuldades para realizar empréstimos e negócios entre si. Não à toa, a maioria das pessoas realiza negócios com os bancos voluntariamente, a despeito do quanto digam que os banqueiros sejam ladrões e os juros; imorais e ilegítimos.


A preferência temporal e a atividade empresarial


Basicamente, existem três motivos principais que desmistificam a teoria da exploração dos empregados no sistema capitalista. O primeiro, é que os salários, por causa da oferta e demanda de trabalhadores, tendem a se elevar ao nível da produtividade marginal. O segundo é que, mesmo que esse salário seja inferior à produtividade, o lucro do empresário pode ser justo, porque o empreendedor recebe a recompensa por ter descoberto novas possibilidades no processo de mercado, aumentando tanto a eficiência do mesmo quanto a riqueza da sociedade. E o terceiro fator está diretamente relacionado com o assunto deste artigo: o empreendedor se abstêm de consumir temporariamente, recebendo uma recompensa por isso.


Um investimento em um negócio não gera um retorno lucrativo imediato, isso quando gera. Digamos que um empresário queria construir uma fábrica. São necessárias despesas iniciais para a construção da infraestrutura, em seguida gastos na obtenção de matéria-prima, máquinas e mão de obra, e só depois começará a produção. Levará ainda mais tempo para serem feitas as primeiras vendas. O lucro, portanto, leva tempo para ser obtido. Pode demorar vários meses, ou até mesmo anos, para que o somatório das receitas passe a superar o custo total das despesas correntes e do investimento inicial.


Uma pessoa que poupa é aquela que não consome tanto quanto poderia. Um empreendedor é um poupador, na medida em que ele não gasta os seus recursos escassos com bens de consumo, mas sim investindo no seu negócio, na esperança de obter um melhor padrão de vida no futuro. O processo se assemelha a um empréstimo. Só que ao invés do empresário emprestar dinheiro para pessoas, ele empresta "para o mercado". O mercado "paga o empréstimo", conforme os consumidores compram o produto ou o serviço da empresa, em um processo que leva tempo. Um banco, quando empresta o dinheiro para alguém, corre o risco de levar um calote. Da mesma forma, quando um empresário investe na produção de alguma coisa, ele corre o risco de errar suas expectativas das condições do mercado, e acabar perdendo o seu dinheiro.


A poupança seguida de investimento é uma condição indispensável para o progresso e o aumento da produtividade. Os empregados recebem o seu salário no começo de todo mês, e não precisam poupar para ganhar dinheiro. Já os empresários tem que ser frugais e pacientes. Assim, esse acaba sendo mais um motivo que legitima o lucro: ele funciona como a recompensa pela diminuição temporária do consumo por parte do empreendedor. O fato é que a teoria da exploração desconsidera totalmente as diferentes preferências temporais de cada indivíduo, entre aqueles que só querem consumir o mais rapidamente possível, e aqueles que estão dispostos a poupar e a investir.


Por Luciano Rolim.



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