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Scot Consultoria

A estranha moral de Stiglitz


Terça-feira, 10 de fevereiro de 2015 - 16h48

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


"Voto: um instrumento e símbolo de poder do homem livre, que faz dele um tolo e promove o naufrágio do seu país".  Ambrose Bierce


Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia, escreveu recentemente um artigo, reproduzido por alguns dos mais importantes jornais do mundo, defendendo que os europeus e os organismos internacionais devem perdoar parte da dívida grega, concedendo àquele país a possibilidade de um recomeço.


O economista, opositor intransigente das políticas de austeridade e defensor da gastança estatal como solução dos problemas econômicos, tem dito, entre outras enormidades, que o problema europeu não é a Grécia, mas a Alemanha.  Entretanto, nada supera o arsenal de bobagens quanto a seguinte pérola, na verdade a cereja do bolo com a qual ele encerra o famigerado artigo sobre a moralidade da reestruturação da dívida grega:


"Dificilmente eleições democráticas emitem uma mensagem tão clara como as da Grécia. Se a Europa disser não às demandas dos eleitores gregos por uma mudança de curso, estará dizendo que a democracia não tem importância, pelo menos no que se refere à economia".


Confesso que tive de ler o parágrafo acima diversas vezes para me convencer de que não estava lendo errado.  Afinal, o gajo é ganhador de um Nobel.


A primeira imagem que me veio à mente foi a de um plebiscito no México sobre a emigração em massa para os EUA.  Seguindo o raciocínio de Stiglitz, desde que a democracia mexicana decidisse que seus cidadãos têm o direito de morar no país vizinho, este deveria imediatamente retirar todas as barreiras de fronteira hoje existentes, em nome do respeito às decisões democráticas.


Pensei também que seria razoável se os venezuelanos votassem pelo aumento do preço do seu petróleo para um patamar mínimo de, digamos, 100 dólares o barril, como forma de resolver os seus atuais problemas econômicos.  Em nome do valor elevado da democracia e da soberania das decisões populares, o mundo inteiro deveria acatar o preço pedido pela Venezuela.


Como todo bom esquerdista, o senhor Stiglitz pensa que as decisões da maioria devem prevalecer sobre quaisquer valores ou princípios.  Para ele, "a voz do povo é a voz de Deus".  Não é.  Podemos não concordar inteiramente com a frase da epígrafe, mas é difícil discordar do sarcasmo de Churchill: "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com o eleitor médio." No alvo!


Na verdade, a questão central aqui não é o que o povo grego deseja ou merece, mas quem paga a conta.  Assim como o voto da maioria jamais poderá revogar a lei da gravidade, há leis econômicas que tampouco irão submeter-se ao escrutínio de uma maioria estúpida.  E o fato é que, queiram ou não, gostem ou não, "não existe almoço grátis".  Ou, como nos lembra Maimonides, "uma verdade não se torna mais verdadeira em virtude do fato de que todo mundo concorda com ela, nem menos verdadeira se o mundo inteiro a desaprova".  Simplesmente, a razão e a verdade independem de maiorias ou de consensos - Galileu que o diga.


A moralidade do senhor Stiglitz, como ademais a moralidade da maioria dos esquerdistas é meio bizarra.  No fim e ao cabo, ele quer ajudar os gregos não com o seu próprio dinheiro, mas com o dinheiro dos outros. Não custa lembrar que os bancos, a quem ele gostaria de imputar os prejuízos de um possível perdão da dívida grega, nada mais são do que intermediários entre poupadores e tomadores.  Assim como a "reestruturação" da dívida argentina prejudicou majoritariamente pequenos e médios poupadores mundo afora, e não propriamente os bancos, o perdão da dívida grega também vai recair sobre poupadores individuais, muitos dos quais pequenos investidores.


Ademais, ainda que fosse possível transferir o passivo grego para o balanço das instituições multilaterais, como FMI, BCE, Banco Mundial, etc., o custo seria suportado pelos pagadores de impostos de todo o mundo, principalmente dos combalidos europeus.


Por outro lado, por que a vontade dos eleitores gregos deveria prevalecer sobre a vontade dos eleitores de outros países? Os alemães, por exemplo, quando chamados a opinar, parecem ter sido muito claros no sentido de que não querem pagar uma conta que não é sua. Convenhamos: se são eles que vão suportar a maior parte dos custos do calote grego, por que a sua opinião não deveria ser ouvida?


Em resumo, como bem destacou a Revista The Economist, os cidadãos de qualquer nação têm todo o direito de escolher os benefícios sociais ou sistema econômico que quiserem e bem entenderem, desde que, evidentemente, arquem com o custo de suas escolhas.  O resto é moralidade torta de quem pretende fazer justiça com o dinheiro dos outros. 


Por João Luiz Mauad



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