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Scot Consultoria

O PIB, as importações e os gastos públicos


Quarta-feira, 30 de julho de 2014 - 15h46

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


A boa notícia do dia foi a divulgação do PIB norte americano do segundo trimestre de 2014, que cresceu a uma taxa anualizada de 4,0%.  Como de praxe, a boa nova veio acompanhada das bobagens de sempre sobre o papel dos gastos do governo e das importações no desempenho da economia.  O jornal o Estado de São Paulo, por exemplo, escreveu o seguinte:


"O comércio exterior foi um entrave ao crescimento econômico durante o trimestre, apesar de um aumento sólido de 9,5% nas exportações dos EUA. Isso porque as importações subiram 11,7%."


"O governo também teve participação no crescimento do segundo trimestre. Os gastos do governo e investimentos aumentaram a um ritmo de 1,6% no período."


Em favor do jornal paulista, apenas o fato de que sua matéria nada mais é do que a tradução do correspondente, W.S.J., que descreveu o fato nos seguintes termos:


"Trade was a drag on economic growth during the quarter despite a solid 9.5% increase in U.S. exports. That is because imports, which subtract from economic growth, rose 11.7%."


"The government added to second-quarter growth. Government expenditures and investment rose at an 1.6% pace in the spring."


Qualquer pessoa menos informada, que se depare com notícia dessas, sairá com a firme certeza de que, quanto mais um país importa, menor será o seu PIB. Se acreditarmos no que dizem os jornais, sairemos certos de que, ao adquirirmos um produto importado, estaremos contribuindo para a ruína de nosso país.


A base desta falácia, disseminada, muitas vezes até involuntariamente, está na famigerada identidade contábil abaixo, utilizada, mundo afora, para o cálculo do PIB:


PIB = C + I + G + X - M


O problema não está na fórmula em si. Como método de aferição do Produto Interno Bruto, ela é largamente aceita. O volume do PIB equivale ao somatório do consumo das famílias e empresas (C), dos investimentos (I), dos gastos do governo (G) e do saldo de comércio com o estrangeiro (X-M).


A confusão é provocada exatamente pelo sinal de subtração antes das importações (M), o que induz o leigo a pensar que elas diminuem o valor do PIB.  No entanto, o aquele sinal de "menos" está ali justamente para neutralizar o peso das importações no cálculo do Produto INTERNO Bruto.  Afinal, elas encontram-se somadas tanto em C quanto em I, e até mesmo em G, já que o levantamento dessas variáveis não identifica, em princípio, quanto do consumo, investimento ou gasto do governo foi de mercadorias e serviços produzidos no país ou alhures. Ora, se estamos calculando o valor dos produtos e serviços produzidos exclusivamente no ambiente doméstico, não faz sentido computarmos os produtos importados.


A coisa fica ainda mais perigosa quando alguns "espertinhos" pretendem utilizar a mesma fórmula como ferramenta teórica para demonstrar supostos benefícios econômicos do aumento dos gastos públicos. Não é raro, por exemplo, encontrar economistas e políticos defendendo o aumento dos empregos públicos ou das transferências de renda como formas eficientes de fomentar o crescimento do país.


A falha dessa "teoria" está no fato de que quaisquer aumentos em G decorrem, necessariamente, de reduções equivalentes nas demais variáveis, principalmente C e I - de onde provêm, inevitavelmente, os recursos dos impostos e dos empréstimos que o governo toma da sociedade para financiar os seus gastos. Em outras palavras, os gastos públicos nada mais são que recursos oriundos do setor privado que deixaram de ser utilizados pelos consumidores, investidores e produtores e foram direcionados para o pagamento de impostos e/ou aquisição de títulos públicos.


É muito perigoso acreditar que identidades contábeis ou fórmulas macroeconômicas, modelos matemáticos e gráficos possuem vida própria, que não existe escassez e, consequentemente, um custo de oportunidade em qualquer ação econômica.


Por João Luiz Mauad



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