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Scot Consultoria

Inflação: a próxima culpada será a batata


Segunda-feira, 6 de maio de 2013 - 15h07

Editor e publisher.


Não tenham dúvidas, está sendo engendrada pelos inimigos do Brasil uma orquestrada campanha para a volta da inflação: primeiro botaram culpa no dólar, que se apreciou, depois na elevação dos custos de serviços (manicures, faxineiras, cabeleireiros, eletricistas etc.), depois os preços dos produtos nos supermercados. A mídia e os banqueiros pedem o aumento da Selic, para refrear a inflação, como se isso não fosse uma piada de mau gosto. Aí chegou a falta do tomate, com os preços de alta da falta de tomate fazendo estardalhaço na mídia, deu até capa de revistas semanais. Agora vai ser a batata...


Pois recebi e-mail da Silvia Nishikawa, bataticultora lá de São Gotardo, MG, mostrando comentários de Marcelo Balerini, presidente da ABBA - Associação Brasileira de Bataticultores, e de Natalino Shimoyama, secretário da mesma ABBA, contando a revolta desses líderes e de todos os bataticultores. Vejam só o que eles dizem:


Assim como aconteceu com o tomate, as interpretações equivocadas, tendenciosas, falaciosas e imbecis, podem ser utilizadas contra a batata.


Como sugestão, sempre que possível, achamos que vale a pena defender a batata com os seguintes argumentos:


O preço da batata está alto pelo seguinte motivo:


Está faltando batata! E quando alguma coisa falta, o preço sobre.


É importante saber que falta batata pelas seguintes razões:


Clima - o calor, chuva e/ou a seca reduziram a produção de batata em todas as regiões produtoras, de norte a sul do país.


Problemas Fitossanitários - além da tradicional perda por doenças provocadas por bactérias de solo, um novo fato está causando sérias perdas de produção - viroses e danos diretos, relacionados a mosca branca.


Produtores - a cada ano que passa diminui o número de produtores de batata, e, por consequência, a área plantada. Assim, naturalmente, cai a produção - resultado inequívoco da missão impossível de se conseguir mão de obra para trabalho nas lavouras. A legislação trabalhista, ao invés de se adequar à realidade dos trabalhadores, obriga os mesmos a se adequarem à legislação.


Outros Produtos - observem que a alta de preços, e a falta, está ocorrendo com  todos os demais produtos - feijão, vagem, jiló, quiabo, cebola, cenoura, mandioca, papaia, frutas etc. Lamentavelmente, batata e tomate são utilizados como bodes expiatórios por serem os mais consumidos. Será que a mídia e os especialistas de gravata irão usar um dia o maxixe como bode expiatório?


Itens Complementares


Custo De Produção - a situação atual é absurda e insuportável. Antes se gastava de US$3,000.00 a US$6,000.00 por hectare (ha), conforme as tecnologias empregadas, e os principais itens eram palpáveis, como agroquímicos, fertilizantes, sementes, combustíveis, mão de obra etc. Atualmente se gasta de US$5,000.00 a US$15,000.00/ha e, além dos itens palpáveis, que também aumentaram os preços, os produtores estão sendo massacrados com despesas referentes a tributações trabalhistas, financeiras, alta no custo do transporte, etc.


Varejo - a tabuada das grandes redes de varejo começa no 3, ou seja não há operações de 1x1, 2x1... Começa no 3x1 e vai as vezes até acima de 10x1. Explicando - eles pagam R$1,00 /kg e vendem aos incautos consumidores por R$7,00/kg. Eles dizem, as grandes redes de supermercados, que isso é necessário devido às perdas por se tratarem de produtos perecíveis, mas a mesma política é praticada na venda de carvão... Será que existe carvão perecível? Ou será ganância?


Mídia - alguém reparou que quando os preços estão baixos a mídia nunca aparece? Quando os preços estiveram péssimos (batata a R$10,00/saco de 50kg e tomate a R$5,00/caixa de 20 a 25kg no ano passado) NINGUÉM com microfone apareceu para fazer matéria e dizer que estávamos quebrando... E agora, quando praticamente ninguém tem batata, a mídia induz a população urbana a concluir que todos os batateiros e tomateiros estão ficando MILIONÁRIOS e exploram o consumidor. Como pode ser assim, se são os supermercados que fazem o preço, quando compram e quando vendem?


Recebo e-mail (ontem, 5/5/13) do cooperativista Américo Utumi, da OCESP, sobre o tema acima, que por si só é explicativo, além de muito engraçado:


Prezado Richard,


Em anexo uma pequena história, verídica, que aconteceu comigo, quando o culpado da inflação não foi a batata,mas o Papa.


Abraços,


Américo Utumi


Sua Santidade, o Papa, culpado pela inflação brasileira


Foi nos idos dos anos 70, lembro-me bem, uma época de turbulência política e incerteza econômica, quando a inflação brasileira não era problema dos economistas, mas sim, dos militares.


Estava eu em Brasília, quando fui informado que o Superintendente da Superintendência Nacional de Abastecimentos e Preços, a poderosa SUNAB, gostaria muito de falar comigo, se possível no dia seguinte. A SUNAB era o órgão que controlava os preços de todas as mercadorias no país inteiro, desde o alfinete até o automóvel. Uma verdadeira loucura. E era Superintendente da SUNAB um militar, o General Glauco de Carvalho, homem íntegro, enérgico, com boas intenções, mas que não entendia nada de agricultura. O grande pesadelo do General eram os hortifrutigranjeiros, cujos preços subiam e desciam todos os dias.


Como diretor da maior cooperativa agrícola da América do Sul (Coopercotia), em sua maioria formada por pequenos agricultores, imigrantes japoneses produtores de hortigranjeiros, eu era constantemente solicitado pelo General Glauco a dar explicações sobre o comportamento nada ortodoxo dos seus preços. As interpelações eram quase diárias:


- O que aconteceu com o preço da alface?


- Iiii, General, caiu uma forte geada na região de Mogi das Cruzes que acabou com toda a produção.


- E o tomate? O que aconteceu com o tomate? Aumentou demais o preço.


- Foi uma chuva de granizo que devastou a região de Campinas, General. Os produtores perderam tudo e estão desesperados.


- E a berinjela? Choveu demais. E a couve? Choveu de menos...


Quer dizer, a gente sempre procurava botar a culpa em São Pedro, porque, afinal de contas ele não podia ser preso.


Intrigado pelo convite liguei tarde da noite para o gerente de comercialização da Cooperativa, indagando se havíamos tido alguma anormalidade no mercado de hortigranjeiros.


Não deu outra. Embora não houvesse chovido demais, nem de menos, não tinha caído geada nem granizo, e o tempo estava ótimo para a agricultura, o preço da batata havia subido 600%!


Alarmado, indaguei o motivo e após a explicação, convoquei-o para vir à Brasília no primeiro avião, a fim de juntos irmos à SUNAB dar as devidas justificativas. O General devia estar possesso...


Dia seguinte estávamos eu e o gerente, na hora marcada, na sede da SUNAB, em Brasília, e a secretária do Superintendente nos encaminhou, sem demora, à sala de reuniões. Nela, já nos aguardava uma plêiade de competentes assessores, composta de economistas, analistas de mercado, pesquisadores de preços, engenheiros agrônomos, metereologistas, veterinários, todos extremamente curiosos de saber em quem nós haveríamos de lançar a culpa desta vez.


A porta do gabinete se abriu e o General Glauco ingressou na sala. Cumprimentou-nos, agradecendo haver atendido o convite para a reunião e, sem mais delongas, demonstrando certa irritação, foi direto ao assunto:


- O senhor sabe que, sem nenhum motivo climático aparente, o preço da batata subiu 600% de anteontem para ontem?


- Sei, sim, General.


- E o senhor sabe quem foi o culpado?


- Sei, sim, senhor.


- E quem foi o culpado?


Naquele momento, ao me ver rodeado de tantos assessores ávidos por uma resposta lógica e convincente, me veio aquele desejo maroto de fazer uma pequena molecagem e respondi com a maior cara de pau:


- Foi o Papa!


Quando eu disse que foi o Papa, o rosto do General foi ficando vermelho e, antes que ele me prendesse por desacato à autoridade, fui logo explicando:


- General, o senhor é a maior autoridade em abastecimento deste país. Por acaso, o senhor foi informado que, por causa da visita de Sua Santidade à Aparecida do Norte, o Departamento Nacional de Estrada de Rodagem vai fechar a via Dutra por três dias?


O General arregalou os olhos e disse:


-Não, não fui informado.


-Pois os comerciantes do Rio de Janeiro ficaram sabendo disso e eles estão antecipando as compras. Quem comprava duas carretas está comprando quatro, quem comprava quatro está comprando oito...


A batata sumiu do CEASA, General!


Ele deu um murro na mesa e disse: Vou acabar com isso!


E de fato acabou. Não havia necessidade de interromper o trânsito de uma via tão importante como a Dutra, por três dias. As cooperativas de laticínios, os comerciantes, as granjas avícolas de todo o Vale do Paraíba já estavam prevendo os imensos problemas que a interdição iria causar.


Mas era a primeira vez que um Papa visitava a América do Sul e a vinda de milhares de delegações de todo o Brasil e dos países vizinhos, prenunciava a presença de uma multidão incalculável, razão do excesso de zelo das autoridades rodoviárias. Apenas foi preciso fechar a rodovia no período em que o Papa chegou a Aparecida.


Sua Santidade jamais ficou sabendo, mas um dia ele foi o culpado pela inflação brasileira.



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