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Scot Consultoria

Indústria, consumidor e produtor: todos sem saída diante da seca


Terça-feira, 26 de março de 2013 - 15h44

Engenheiro Agrônomo pela UNESP - Jaboticabal, em treinamento pela Scot Consultoria.


A seca nos EUA castigou a cadeia da carne bovina. Os efeitos da seca têm se traduzido na redução dos confinamentos e fechamento de frigoríficos, devido à redução da quantidade de bovinos.


Confinamentos de grande porte estão sendo desfeitos e outros sendo esvaziados. Os confinadores dizem não esperar uma recuperação do rebanho tão cedo, por três motivos: preços elevados dos alimentos que compõem a dieta dos bovinos, grande parte do país ainda enfrentando problemas de seca ou causados pela seca e longo período para a recuperação do rebanho.


O tamanho do rebanho norte-americano apresenta o menor nível desde 1952. Com isso a oferta de bovinos para terminação caiu, ficando cada vez mais difícil manter os confinamentos com sua máxima capacidade e rentáveis.


A maioria dos bovinos nos EUA é enviada aos confinamentos, para terminação. O fechamento de confinamentos mostra a agressividade da seca. Mesmo mais fortes economicamente que os fazendeiros, as indústrias frigoríficas também estão sofrendo com os efeitos da seca e têm sentido a falta de animais para abate e processamento.


Do lado do consumidor o impacto virá nos preços, onde certamente se comprará menos por um preço mais elevado.


Segundo o USDA, em 2012 o preço médio da carne bovina no varejo foi de US$10,33 por quilo, um aumento de 19,7% em relação à média de 2007, que foi de US$8,30 por quilo. Isso indica que todos foram afetados, desde o produtor até o consumidor. Veja a figura 1.



O proprietário Bob Podzemny encerrou seu confinamento de 32 mil cabeças próximo a Clayton, Novo México, em 2009, quando um banco cortou seu capital em meio à crise financeira.


"Simplesmente não existe muitos bovinos nesta parte do país. Trazê-los e alimentá-los não seria rentável. Por isso o confinamento foi desativado." Disse Podzemny.


Ele agora recria uma menor quantidade de bovinos em outro confinamento. Compra-os com 205 quilos, e os vende com 380 quilos para confinadores que irão terminá-los com 550 quilos para o abate.


"Estou ganhando menos dinheiro trabalhando dessa forma, mas fazemos o que é preciso para sobreviver", diz Podzemny.


O número de bovinos vem caindo há anos com o aumento do preço do milho utilizado na alimentação. A seca acelerou esse processo, mas mesmo assim, alguns confinadores resistiram, pois os proprietários, cujas pastagens secaram, desmamaram os bezerros precocemente e mandaram para abate as vacas que engordaram.


No mesmo momento em que houve a diminuição do rebanho norte americano, os preços do milho aumentaram. Veja na figura 2. A situação dos produtores é delicada. Com custos de produção acima do normal e maior dificuldade de encontrar bovinos para engorda.



Os rebanhos nas fazendas estão longe dos números do passado. E ironicamente, caso chova na primavera e no verão, a quantidade de animais confinados será menor, porque os pecuaristas vão segurar suas vacas para reconstruir seus rebanhos.


O estado do Texas é o maior produtor de carne bovina e sofreu em 2011 com uma seca histórica, da qual ainda não se recuperou totalmente.


"A maioria das más noticias estão no Texas" disse Dick Bretz, um corretor de terras em Amarillo. "aqui é onde vejo a maioria dos confinamentos vazios, onde se tem o maior interesse em vender essas áreas e onde temos a menor demanda na compra dessas terras".


O frigorifico da Cargill, um dos maiores do país, fechou temporariamente sua planta em Plainview, Texas, no início do ano, demitindo dois mil funcionários. Esse fato juntamente com a desativação de confinamentos pode trazer mais desemprego para a região. A perda financeira anual, na região, está estimada em US$1,1 bilhão.


A Cargill continua com suas plantas ativas em Friona (Texas) Dodge City, (Kansas) e Feat Morgan (Colorado). Isso vai dar condições para as plantas trabalharem as suas capacidades de abate de forma mais consistentes e dar aos seus trabalhadores salários completos de 40 horas semanais. Disse o porta-voz, Mike Martin.  


Especialistas de mercado da CattleFax estimam que as indústrias alimentícias estejam trabalhando apenas com 75% a 80% de sua capacidade. As indústrias frigorificas têm trabalhado em torno de 85% a 90%,mesmo após o fechamento  da planta da Cargill, em Plainview. 


Para as indústrias o ideal seria trabalharem com 100% de sua capacidade, diluindo seus custos variáveis indiretos e obtendo maior receita. Entretanto, a situação atual não dá sustentação para que isso ocorra. 


 No sudoeste do Kansas, o gerente do confinamento Lakin Feed Yard, Steve Landgraf, trabalha apenas com 75% da capacidade e espera cair para metade desse valor nos próximos meses. A cada dois animais que ele manda para o abate, repõe apenas um.


Com capacidade para 15 mil bovinos, ele agora emprega 14 pessoas. No entanto, Landgraf antecipa e diz que irá diminuir para 10 ou 11 o número de funcionários e ainda com reduções de horas para os trabalhadores.


"Algumas pessoas provavelmente irão quebrar, porque não terão ocupação" disse Landgraf.


Vejam na figura 3, que o número de desempregados no setor de agricultura vem em patamares acima do histórico, desde 2009, devido à crise financeira. Observa-se que desde a queda em 2009 os números continuam altos. Isso mostra que o setor não se recuperou. O índice de desemprego tende a aumentar em 2013 devido à redução do rebanho e menor capacidade das indústrias.  



Diante de números tão baixos de rebanho e pouca carne no mercado norte americano, a única saída para os Estados Unidos, caso o consuma fique estável, vai ser importar carne de outros países.  


A partir daí pode surgir outro mercado para o Brasil, que hoje é o maior exportador de carne bovina no mundo.  No ano de 2012 exportou 1,49 milhões de toneladas equivalente de carcaça (tec), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).


Fonte: Waukesha Freeman. Por Roxana Hegeman. 25 de fevereiro de 2013.


Tradução, adaptação e comentários (em azul) de Antônio Guimarães, engenheiro agrônmo e treinee da Scot Consultoria.



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