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Scot Consultoria

Queijo parmesão: espinho no acordo de livre-comércio entre os Estados Unidos e a União Européia?


Quinta-feira, 7 de março de 2013 - 08h34

Zootecnista pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira. Mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Jaboticabal. Consultor e analista da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos, insumos, avaliação e perícia. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral. Editor-chefe da Carta Leite, da Carta Grãos e do Relatório do Mercado de Leite, publicações da Scot Consultoria.


Partidários a favor de um acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia dizem que este fato pode injetar um adicional de US$200 bilhões por ano nas economias de ambos os lados do Atlântico.


Poderá ainda reforçar a maior parceria econômica do mundo, impulsionar o crescimento global e definir o padrão para acordos comerciais internacionais, proporcionando um forte incentivo para a China e outras economias emergentes a seguirem este caminho.


Área de livre comércio ou zona de livre comércio refere-se a países que concordaram em eliminar as tarifas, quotas e preferências que recaem sobre os bens importados e exportados entre aqueles países.


O objetivo é estimular o comércio entre os países participantes por meio da especialização, da divisão do trabalho e da vantagem comparativa. Porém existem prós e contras desta questão, que serão discutidos adiante.


Um ponto importante é a competição do produto importado com o nacional. É o caso das importações brasileiras de lácteos oriundas da Argentina e do Uruguai. Estes países fazem valer as tarifas menores para os negócios entre os países membros do Mercosul. Com isso, o produto importado chega ao mercado brasileiro a um preço mais competitivo que o produto nacional.


"Este fato tem sido o Santo Graal dos acordos comerciais há décadas, mas ninguém mostrou disposição até agora", disse João Clancy, porta-voz da Comissão Europeia de Comércio.



"O que mudou?", disse ele em uma entrevista. "Basicamente, as estrelas se alinharam".


"A Europa e os Estados Unidos precisam consolidar a recuperação econômica e esta é uma forma de fazer isso que não custa um centavo do dinheiro dos contribuintes. É estímulo sem ter de colocar a mão dentro do governo."



As conversas para formar a maior zona do mundo de livre comércio estão previstas para o primeiro semestre deste ano, com o objetivo dos negócios começarem dentro de dois anos.


Apesar das palavras ousadas de líderes dos Estados Unidos e da Europa quando a notícia foi anunciada, a realidade pode ser bem menos esplêndida.



Tais negócios dependem menos das grandes visões e mais de discussões sobre as minúcias de normas de produtos, segurança veterinária ou subsídios escondidos.


As preocupações, neste caso, vão além. Estão relacionadas às questões de saúde e segurança alimentar e aos milionários subsídios na Europa, que vão desde a produção até a comercialização dos produtos.


Praticamente metade do orçamento da União Europeia (UE) é destinada ao pagamento de subsídios agrícolas, apesar de menos de 3% da população do bloco viver da agricultura (FAO).


Essas questões podem parecer menores em relação aos benefícios potenciais estampados nas manchetes, mas uma vez nas mãos de lobistas, podem ser infladas em interesses nacionais vitais.


 Para evitar isto, ambos os lados vão exigir negociações qualificadas e um nível de compromisso, até então invisível, que, de acordo com um estudo alemão, seria elevar os padrões de vida em 5% nos Estados Unidos e 6% na Europa durante as próximas duas décadas.



A agricultura é um bloco tradicional de tropeço para o comércio transatlântico. Funcionários europeus dizem que as recentes reformas para o programa de apoio às fazendas da União Europeia, de US$80 bilhões de dólares devem tornar mais fácil para os americanos de engolir, mas há muitos outros problemas - desde a desconfiança dos europeus com relação aos padrões de saúde na indústria de alimentos dos Estados Unidos até a desconfiança americana de proteção da Europa com relação à rotulagem de alimentos tradicionais.


Os produtores de leite de Wisconsin irão aceitar que apenas o queijo produzido nas cinco províncias do Norte da Itália pode levar o nome de parmesão?


 Será que os franceses concordam em comer carne norte-americana com hormônio ao lado de batata frita geneticamente modificada?


Estes são alguns pontos que podem gerar controvérsias entre o livre comércio entre Estados Unidos e União Europeia. Estes pontos estão ligados mais à questão cultural do que mercadológica.


O primeiro acordo de livre comércio da União Europeia em 1999 - no valor anual de US$19 bilhões em comércio com a África do Sul - foi quase aniquilado por uma disputa entre o vinho do Porto e o vinho de Xerez, até que os sul-africanos recuaram e concordaram que apenas os produtos de Portugal e Espanha poderiam carregar esses rótulos. Produtores de vinhos de Napa Valley, nos Estados Unidos, podem enfrentar uma luta.



Há muitas outras áreas sensíveis, no caso dos Estados Unidos, a questão das companhias aéreas estrangeiras que operam no espaço aéreo nacional, ou com relação às exigências europeias para "exceções culturais" para proteger as indústrias de TV, cinema e música.


Fonte: GlobalPost.com. 25 de fevereiro de 2013.


Traduzido e comentado por Rafael Ribeiro de Lima Filho, zootecnista e pesquisador da Scot Consultoria.



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